Movimento Estudantil
Estudantes debateram moradia estudantil
Grupos de discussão, oficinas e debates sobre moradia e assistência estudantil permearam o III Encontro Regional de Casas Estudantis (Erece), sediado no Crusp de 17 a 20/11. Cerca de 100 estudantes da região Sudeste participaram do Erece, organizado por moradores do Crusp, com apoio da Associação dos Moradores (Amorcrusp).
A opção por realizar um encontro regional sobre o tema é relativamente recente — esta é a terceira edição do evento, enquanto o Encontro Nacional das Casas Estudantis (Ence) é realizado há mais de 30 anos. Gabriela Iglesias, estudante de história e moradora do Crusp, aponta como causa dessa iniciativa o descontentamento com a centralização da organização nas faculdades da região Nordeste, além de discordâncias com o caráter mercadológico dos encontros. “[O Ence] rodava muito dinheiro com as inscrições, e virou apenas ‘promoção de encontros’”, afirma. A partir de 2004, passaram a ser realizados encontros regionais pelo país. “Para a gente realmente se articular, que é o objetivo, conseguir mais ganhos concretos, mas sem anular o Nacional”, diz Gabriela, que também faz parte da atual gestão da Amorcrusp.
Autonomia
O III Encontro possibilitou a troca de experiências (e denúncias) quanto à gestão das moradias estudantis. Ficou evidente para todos, segundo Gabriela, a tendência de precarização das condições de permanência dos estudantes — em geral denominadas como “assistência estudantil” — com a diminuição do número de residências e sua substituição por bolsas de auxílio à moradia. Segundo a estudante, houve uma avaliação consensual de que essa tendência é muito negativa. “Politicamente, é mais fácil perder as bolsas-moradia do que perder as casas”, esclarece.
Mesmo nas instituições em que há moradias, os estudantes acusam a falta de espaços de convivência, o que não favorece a articulação de demandas e reivindicações. “Muitas vezes, a forma com que a universidade estrutura a moradia, evitando espaços de convivência, estimula a individualidade e dificulta o diálogo entre os estudantes”, avalia Gabriela.
Apesar dos diferentes contextos, houve um consenso decorrente da análise conjuntural: a demanda por mais autonomia nos espaços de decisão dos órgãos relacionados à moradia e assistência estudantil. “A gente quer ter mais autonomia para interferir nos processos de seleção e na própria relação com a universidade”, sintetiza a estudante.
Construção coletiva
Os estudantes envolvidos no processo de organização do Erece ainda estão realizando uma reflexão sobre o encontro, avaliando os pontos positivos e as maiores dificuldades enfrentadas. Em princípio, a Associação considera positivo o processo de construção coletiva do encontro, envolvendo estudantes nos diferentes aspectos de sua organização. Gabriela acredita que o tempo foi curto para aprofundar a comunicação com os moradores do Crusp e garantir maior participação — algo a se aprender para as próximas edições.
Para além da avaliação, existem perspectivas de encaminhamentos concretos resultantes do encontro. Dando continuidade à construção conjunta do evento, existe a proposta de criar um sítio na Internet e um boletim que propiciem a troca constante de informações entre as cidades. Há também a intenção de incluir estudantes de campus que não possuem alojamento, mas que querem se organizar para lutar por este direito — um exemplo citado foi o da USP Leste.
Uma carta com a síntese das discussões e principais reivindicações deve ser encaminhada às administrações universitárias, em âmbito nacional. Na USP, pretende-se que ela seja apresentada na reunião de dezembro da Comissão de Isonomia, grupo que discute especificidades dos campi das estaduais paulistas, dentre as quais as relativas às políticas de permanência estudantil.
Matéria publicada no Informativo nº 227
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