Opinião
Ações genocidas de Israel violam princípios que nossa Universidade promove e difunde, e Aucani não deve permitir participação desse país na Feira Internacional
Na carta reproduzida a seguir, o professor e diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, docente sênior da FFLCH, presidente da comissão independente internacional da ONU de investigação sobre a Síria desde 2011 e ex-ministro de Direitos Humanos (governo FHC), denuncia a intenção da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani) de permitir a participação de Israel na Feira Internacional agendada para 23 de abril
Prezados Colegas,
Tomei conhecimento, por meio de circular da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani), que a Universidade de São Paulo concederá espaço ao Consulado de Israel na Feira Intercultural Internacional em 23 de abril. Considerando que o governo israelense continua a perpetrar um genocídio em Gaza e que sobre seu primeiro-ministro, por “crimes contra a humanidade e crimes de guerra” cometidos por ele em Gaza, pesa uma ordem de prisão decretada pelo Tribunal Penal Internacional, essa decisão merece reflexão.
A Aucani deveria ter levado em conta a decisão da Corte Internacional de Justiça, que, no ano passado, reconheceu a plausibilidade da ocorrência de um genocídio em Gaza e determinou que o Estado de Israel suspendesse todas as ações que pudessem contribuir para tal crime. No entanto, desde 1948, Israel tem historicamente desconsiderado resoluções e decisões de todos os órgãos políticos e judiciais da ONU. Em 2023, Israel chegou ao ponto de declarar o secretário-geral da ONU como persona non grata no país.
Enquanto escrevo esta mensagem, Israel segue bombardeando Gaza, forçando deslocamentos internos da população palestina, fazendo limpeza étnica, destruindo hospitais e impedindo a chegada de ajuda humanitária. Entre os crimes de guerra mais recentes, conforme noticiado pela Globo e pela BBC em 2 de abril de 2025, está o assassinato de 15 paramédicos e membros de equipes de resgate pelas forças israelenses. No dia 1º de abril de 2024, Volker Turk, Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU — organização com a qual colaboro há três décadas —, condenou veementemente essas mortes.
É profundamente lamentável que a Universidade de São Paulo — instituição historicamente comprometida com os direitos humanos e o direito humanitário internacional — conceda espaço ao consulado do Estado de Israel, cujo governo e políticas de Estado violam, de forma sistemática, os princípios que nossa Universidade promove e difunde.
Diante disso, apelo à Aucani para que não permita a participação do consulado do Estado de Israel, cujas ações são frontalmente contrárias aos valores da comunidade acadêmica da USP. Esses fatos são pateticamente maquiados por este consulado com atividades na Feira Intercultural como “Shalom & Sugar! Aprenda Hebraico e ganhe um doce!” (sic) e “dança tradicional Israelita Harkada”.
Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!
Mais Lidas
- Adusp solicita reunião urgente com a PRIP para tratar de casos de assédio na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia; duas professoras continuam submetidas a perseguições, sem que a USP as defenda
- “Dormindo entre cadáveres”, livro de ex-docente da USP perseguido pela Reitoria por combater a Covid-19 em Rondônia, recria cenário da pandemia em formato de HQ
- Chapas que concorrem à Reitoria não oferecem alternativa ao modelo imposto nas últimas gestões e propõem mais privatização; valorização das carreiras é tema constante, mas mecanismos não são detalhados
- Investigação da Receita Federal conclui que a Fundação Faculdade de Medicina remunera dirigentes, e aponta fraude tributária; entidade perde condição de “filantrópica” e recorre
- Ato público em defesa da FFLCH e contra as agressões da extrema-direita, no dia 2 de outubro, terá presença de entidades da sociedade e parlamentares