Manhã na Esalq: “Show de Física” para estudantes do ensino médio, professoras e professores. Começo: os “disfarces” da energia, quem me ajuda? Um jovem se oferece, agradeço. Como você acordou? Minha mãe chamou. Ah, energia sonora (o disfarce, a explicação). Acendeu a luz? Sim, energia elétrica, luminosa, térmica, a lâmpada esquenta também (vou explicando). E o que você comeu no café da manhã? Esperava os disfarces da luz do sol, fotossíntese, para a energia química do alimento, a térmica para esquentá-lo. O jovem quieto, eu não entendia seu silêncio. Repeti a pergunta aos demais, nada. A professora me chamou de lado: “Professor, eles não tomaram o café da manhã, a primeira refeição será na escola, temos hora para chegar. Se o senhor ficar demorando, pode ser que alguém desmaie de fome”.

Sem “chão”, tentei tornar o “show” o mais lúdico possível, nem que fosse “só para tapear a fome”. E me perguntava: como “ensinar” alguma coisa, ter a atenção de alguém que está com uma fome de não sei quando? Essa lembrança veio na prosa com um amigo que falou da preocupação com a PEC 9/2023, do prato minguado, da fome. A merenda escolar, como ficaria? Da tal PEC protocolada na Alesp em 17/10 pelo governo do estado, um “pacote de maldades”, o amigo escolheu a que reduz o investimento do estado em educação (veja-se, por exemplo, esta matéria).

A preocupação com a merenda, a lembrança: “a primeira refeição será na escola”. E a qualidade, quantidade? Não esqueço, presto atenção na maneira como a questão é colocada, até a própria escolha das palavras pode maquiar, “flexibilizar” 5% da verba da educação, a saúde precisa (simplifico). É claro que a saúde precisa, mas “tirar do roto para dar ao rasgado”? Em números: “Proposta de Tarcísio pode tirar até R$ 9,6 bilhões de escolas e creches de SP” (Folha de S. Paulo 20/10/2023).

Lembro que as escolas necessitam de infraestrutura adequada, funcionários e professores, da merenda saudável. Leio sobre a contratação de psicólogos, atualmente há um profissional para atender, em média, 6.300 estudantes! Como detectar, fazer a prevenção de abusos, seja dentro ou fora das escolas? Mas não basta, diz o especialista: “Não adianta ter um psicólogo atuando na escola se ele não puder encaminhar alunos com depressão ou outros transtornos para um atendimento médico especializado, por exemplo. O conselho tutelar e a rede de saúde precisam atuar em conjunto com as escolas” (“Escolas não recebem apoio nem ferramentas para lidar com bullying, diz especialista”, Folha, 23/10/2023).

Junto à alimentação e ao ambiente saudáveis para estudar, aos funcionários, professores, psicólogos, rede de saúde, conselho tutelar atuando juntos, a possibilidade de o(a) jovem sonhar com um futuro melhor. E me pergunto: investir na educação não é também investir na saúde? Não consigo separar, alguém consegue?

Há que rejeitar a PEC 9/2023, já há silêncios demais. E não se iludam deputados(as), silêncios podem ser muito perigosos, não os ignorem — afinal, a responsabilidade, o voto, é de vocês.

EXPRESSO ADUSP


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