Orçamento
Dotação orçamentária da FFLCH coloca em xeque composição e papel da COP
Na reunião do Conselho Universitário (Co) de 8/11, a diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Maria Arminda do Nascimento Arruda, questionou o valor das dotações orçamentárias anuais que vêm sendo destinadas a essa unidade, que é a maior da USP em número de alunos. Por meio de gráficos que apresentou, a diretora sustentou que a unidade tem recebido da Reitoria um montante de recursos inferior ao necessário e inferior, em termos proporcionais, ao destinado a outras unidades.
A apresentação revelou que a dotação básica da FFLCH vem decrescendo desde 2013, quando foi de R$ 7,140 milhões. Caiu para R$ 4,64 milhões em 2014, subiu ligeiramente para R$ 4,73 milhões em 2015 e recuou para R$ 3,78 milhões em 2016, valor inferior aos R$ 4,02 milhões recebidos pela unidade em 2010. Segundo Maria Arminda, a redução compromete treinamento, equipamentos de segurança, informática e manutenção predial — a verba desta declinou de R$ 1,21 milhão em 2013 para R$ 663 mil em 2016.
Maria Arminda optou, nos gráficos, por fazer uma comparação direta com os números correspondentes da Escola Politécnica (EP). Mostrou por exemplo que, embora tenha “menos de metade” dos alunos da FFLCH, a EP recebeu dotação básica de R$ 5,9 milhões em 2016, isto é: 56% acima dos R$ 3,78 milhões destinados à FFLCH.
A exposição da diretora foi seguida de uma insólita resposta de José Roberto Piqueira, diretor da EP, que integra a Comissão de Orçamento e Patrimônio (COP), colegiado a quem compete propor o orçamento da universidade e as correspondentes dotações por unidade.
Desagravo
Piqueira expressou-se de modo rude. Alegou que a EP possui grande número de equipamentos e laboratórios, e afirmou que a diretora da FFLCH comparou grandezas diferentes, “preço da laranja com preço da melancia”, sendo por isso “comparação sem sentido e quase primária”. Acrescentou que “as pessoas têm que fazer bem o seu trabalho, façam bem o seu trabalho” e definiu a fala da colega como “chororô”. Maria Arminda replicou em seguida e recebeu aplausos até da mesa diretora. O episódio foi objeto de uma nota da Diretoria da Adusp, “Desagravo à FFLCH”, publicada no Informativo Adusp 428.
Qualquer que seja o desdobramento específico do protesto da FFLCH, fica uma questão central que é a distribuição interna dos recursos via COP.
A discussão é antiga. Em dezembro de 2002, quando o Co preparava-se para votar as diretrizes orçamentárias de 2003, o representante discente da Pós-Graduação na COP, José Menezes Gomes, propôs a retirada do item denominado “Adicional de Desempenho Acadêmico”, que definia critérios para a destinação de uma parcela de 20% da verba destinada a “outros custeios e investimentos”. Esta última correspondia, então, a 15% do orçamento total da USP (em números da época, cerca de R$ 300 milhões, de um total de R$ 2 bilhões). Assim, o item em questão representava 3% do orçamento, o equivalente a cerca de R$ 60 milhões.
A COP, contudo, rejeitou a proposta. “Quando se discute o orçamento da USP estamos, é claro, discutindo uma concepção de universidade. Isso fica bem claro quando analisamos as diretrizes orçamentárias: nelas está a concepção de uma universidade voltada para o mercado, tendo nas fundações privadas e nos cursos pagos as vantagens para recebimento de verbas de parte do item ‘outros custeios e investimentos’. O caráter produtivista na determinação de parte desta verba é bem evidente”, declarou à época Gomes (vide Informativo Adusp 128).
Quais critérios norteiam a distribuição desses recursos entre as diferentes unidades? Esses critérios foram discutidos e aprovados pelo Co? Com a palavra, a Reitoria!
Informativo nº 429
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