Comissão da Verdade
Ato marca a entrega do abaixo-assinado por uma Comissão da Verdade na USP

Ato organizado pelo Fórum Aberto pela Democratização da USP, ocorrido em 7/11, no auditório do Instituto Oceanográfico (IO), encerrou a fase de coleta de assinaturas pela criação de uma Comissão da Verdade na USP.
Participaram como convidados o presidente da Comissão Estadual da Verdade, deputado Adriano Diogo (PT); o procurador Sérgio Suiama, da Procuradoria Regional da República em São Paulo; o professor Edson Teles, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e representante da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos; e os professores Marilena Chauí (FFLCH) e Jorge Souto Maior (FD), este último representando a Associação dos Juizes para a Democracia (AJD).
Daniel Garcia |
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Familiares de mortos e desaparecidos políticos que tiveram vínculo com a USP também compareceram.
A maioria das poltronas com placas que indicavam “reservado”, destinadas a membros do Conselho Universitário (Co) e ao reitor João Grandino Rodas permaneceram desocupadas até o final do evento. Do Co, participaram apenas alguns dos representantes discentes, o professor Flávio Coelho, diretor do Instituto de Matemática e Estatística (IME), e a funcionária Nely Wada, diretora do Sintusp.
Justificaram ausência, enviando mensagem, os professores Marco Antônio Zago, pró-reitor de Pesquisa, e Renato de Figueiredo Jardim, diretor do IFUSP.
Sintoma
A ausência dos representantes institucionais foi considerada sintomática por alguns presentes ao ato, consultados pelo Informativo Adusp, quando considerados os eventuais desdobramentos da entrega do abaixo-assinado à Reitoria. Henrique Carneiro (FFLCH) acredita que o caráter social das mobilizações na USP empresta maior força ao pedido de criação da Comissão da Verdade. “Mas não estou com muitas expectativas com relação à mudança de postura da Reitoria”, disse. Já Leda Paulani (FEA) enxerga no Fórum pela Democratização a capacidade de evidenciar que as universidades paulistas ainda têm uma estrutura autoritária: “Essa estrutura foi herdada da Ditadura e permaneceu; a Ditadura acabou e a estrutura continuou a mesma”.
O ato teve início com um vídeo que mostrou o rosto das 47 vítimas da Ditadura que tinham vínculo com a USP. Em seguida, o estudante Fábio Franco, mediador da mesa, leu carta encaminhada pela Comissão Nacional da Verdade, justificando ausência e declarando apoio à criação da Comissão da Verdade da USP. Franco anunciou, então, que foram coletadas mais de 4 mil assinaturas, reivindicando a criação de uma Comissão da Verdade na instituição. “Hoje é o fechamento da campanha, mas também a abertura de uma nova luta”, disse. Entidades que compõem o Fórum pela Democratização da USP foram convidadas a falar antes de a palavra ser passada aos debatedores.
O estudante Felipe Faria (Beira), diretor do DCE, destacou a forte repressão ao movimento estudantil sofrida na atual gestão da Reitoria. Magno Carvalho, diretor do Sintusp, defendeu que a Comissão da Verdade a ser criada na Universidade deve exigir total independência da burocracia universitária. “Do contrário, não avançaremos”, ponderou.
A vice-presidente da Adusp e representante da entidade no Fórum pela Democratização, professora Elisabetta Santoro, relembrou a história da criação da entidade, relacionada, entre outros fatores, à exigência de explicações sobre o assassinato, em 1975, de Vladimir Herzog, então docente da Escola de Comunicações e Artes da USP. “Não é possível que a USP continue a calar a respeito de um passado que tentam nos fazer crer que não ocorreu”, disse a professora.
Transição
No debate, o procurador Suiama ressaltou a necessidade da boa aplicação da justiça de transição, para que violências contra os direitos humanos não se repitam em regimes democráticos que lidam com um passado de repressão. “Já foram abertas quatro ações penais contra torturadores da Ditadura no Brasil. Não há Justiça sem verdade e sem memória”.
O deputado Adriano Diogo reivindicou o levantamento das biografias completas dos desaparecidos políticos. Ele também recomendou a realização de mais pesquisas, sugerindo a cassação do histórico trabalhista de funcionários e do diploma de profissionais que tiveram relação com a USP e compactuaram com a Ditadura Militar. “Como, por exemplo, os médicos Harry Chibata e Isac Abramovich. É gente que está aí até hoje mandando na USP”.
Edson Teles ressaltou: “Está acontecendo uma articulação como há tempo não se via na USP”. O professor também comemorou a abertura de processos contra torturadores e salientou que isso se deve em grande medida ao surgimento da Comissão Nacional da Verdade. Filho e sobrinho de militantes de esquerda supliciados durante a Ditadura, Edson revelou que sua família impetrou ações judiciais contra um dos principais torturadores, o hoje coronel da reserva Brilhante Ustra, do Exército.
Marilena Chauí destacou a impossibilidade de calar ou conter a vontade de justiça dos familiares que perderam seus parentes por conta da repressão da Ditadura. Antes, conversou com o Informativo Adusp sobre as suas expectativas quanto ao comportamento da Reitoria depois de receber o abaixo-assinado: “[A Comissão da Verdade na USP] vai ser um movimento social importantíssimo acoplado à Comissão Nacional da Verdade, mas vai trabalhar por conta própria. Talvez os conselheiros do Co até se empenhem individualmente no assunto. Mas do ponto de vista administrativo e da direção acho que não vai acontecer nada. O Co e a Reitoria não vão se empenhar, pois pertencem a uma percepção burocrática, conservadora e reacionária da universidade. Realmente não acredito que haverá um empenho institucional. Espero estar errada”.
No dia 21/11, uma comissão formada por representantes de Adusp, Sintusp, DCE e APG , além de outros membros do Fórum Aberto pela Democratização da USP, entregará ao secretário geral da Reitoria, professor Rubens Beçak, o abaixo-assinado que pede a criação de uma Comissão da Verdade na USP.
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