Centenas de pessoas participaram da cerimônia pública realizada em 15/3 no saguão do Instituto de Geociências (IGc-USP), em que a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça anistiou Alexandre Vannucchi Leme, que estudava na unidade, em 1973, quando foi assassinado pelas equipes de torturadores do II Exército, em São Paulo. Familiares e amigos de Alexandre compareceram. O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, e a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, declararam que o Estado brasileiro reconhece sua culpa pelo ocorrido e pede oficialmente desculpas à família.

Estiveram presentes o coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), professor Paulo Sérgio Pinheiro; o presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), Marco Antonio Barbosa; o presidente da Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva”, deputado Adriano Diogo; o senador Eduardo Suplicy; o deputado federal Ivan Valente; o presidente da UNE, Daniel Iliescu; o presidente do DCE-Livre Alexandre Vannucchi Leme, Adrian Fuentes; os ex-ministros Paulo Vannuchi e José Gregori; o ex-governador Alberto Goldman; e representantes da Adusp, do Fórum Aberto pela Democratização da USP, da CUT, da Conlutas e outras entidades.

Daniel GarciaDaniel Garcia
Ministra Maria do Rosário e parte da mesa do IGc

Na mesma cerimônia, Clarice Herzog, viúva de Vladimir Herzog, e seus filhos receberam das mãos de Rosa Cardoso, integrante da CNV, o novo atestado de óbito do jornalista, assassinado em 1975. O atestado original, que indicava “suicídio” como causa da morte de Herzog, professor da ECA-USP, foi corrigido por decisão judicial. O novo documento registra que o jornalista foi assassinado em decorrência de lesões e maus-tratos sofridos nas dependências do II Exército.

“Nação justa”

Paulo Abrão destacou a importância de realizar-se, pela primeira vez, um ato público reunindo a Comissão de Anistia, a CEMDP e a CNV. Ele declarou que a homenagem se estendia também a Ronaldo Mouth Queiroz, igualmente aluno do IGc, assassinado um mês depois de Alexandre. A ministra Maria do Rosário chamou atenção para os “assassinatos bárbaros e cruéis” de Alexandre e Ronaldo, que resultaram de um processo político “engendrado como terrorismo de Estado”.

O diretor do IGc, professor Valdecir Janasi, fez um discurso curto, mas contundente, saudando os “visitantes ilustres que vieram compartilhar este momento tão significativo” e homenageando a turma de Alexandre  na unidade: “Além de se tornarem geólogos, tinham o desafio de construir uma nação justa. No caso de Alexandre e Ronaldo, isso lhes custou a vida”. Ele valorizou a “formação moral” propiciada pelos trabalhos da Comissão de Anistia, que sustentam “o direito à verdade, o direito à memória e o direito à resistência”. Repudiou, ainda, os “discursos que relativizam os males da Ditadura e apresentam a tortura como justificável”.

O deputado Adriano Diogo, ex-preso político e ex-aluno do IGc, onde foi colega de Alexandre, emocionou-se ao se dirigir às irmãs dele, presentes ao ato. Ele observou que cerca de quarenta alunos do instituto foram presos na mesma época, por fazerem oposição à Ditadura Militar, e que uma missa por Alexandre, organizada pelos estudantes, lotou a Catedral da Sé.

Informativo nº 359

EXPRESSO ADUSP


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