Warwick Estevam Kerr (1922-2018)

Faleceu aos 96 anos de idade, em Ribeirão Preto, em 15/9, o professor Warwick Estevam Kerr, entomologista, agrônomo, geneticista e um dos maiores especialistas do mundo em abelhas. Formou-se e doutorou-se na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), onde também lecionou no Departamento de Genética. Warwick destacou-se como liderança e criador de instituições científicas. Primeiro diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), de 1962 a 1964, foi por duas vezes diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), de 1975 a 1979 e de 1999 a 2002. Presidiu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) de 1969 a 1973.

A família lembra que Warwick fundou diversos departamentos de pesquisa e ensino nas universidades públicas brasileiras: de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Rio Claro (Unesp), de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), de Biologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), além de haver contribuído de forma marcante com o desenvolvimento do Instituto de Genética e Bioquímica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e que foi o primeiro cientista brasileiro a ser eleito Membro Estrangeiro da National Academy of Sciences dos Estados Unidos, tendo sido, ainda, membro titular da Academia do Terceiro Mundo.
Depois que se aposentou na USP, o pesquisador "escolheu, por vontade própria, morar no Maranhão", segundo registra a nota de pesar do curso de Biologia da UFMA, pois "queria contribuir para o avanço do ensino e da pesquisa em um dos estados mais pobres da nação, onde residiu por oito anos, tempo necessário para que fundasse o departamento de Biologia, o Laboratório de Genética (LabGeM) e o curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Maranhão". Em 17 de abril de 2017, recebeu o título de "Professor Honoris Causa" da UFMA. Também foi reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). 
"Esteve sempre envolvido com pesquisas que renderam avanços no manejo e amansamento das abelhas africanas, hoje muito importantes na produção melífera brasileira, e que escaparam para o meio ambiente quando ele as introduziu no Brasil em 1956. Atuou sempre sob o princípio da indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão, buscando permanentemente estabelecer relações com a população e com os movimentos sociais, para transferir-lhes diretamente saberes e resultados de pesquisas", diz a nota da família, assinada pelas filhas Florence, Lucy, Jacira, Ligia Regina e Tânia e pelo filho Américo Sansigolo Kerr, professor do Instituto de Física da USP. A esposa, Lygia, faleceu em 2017.
"Suas convicções socialistas renderam-lhe duas detenções durante a ditadura militar instaurada em 1964 e uma constante vigilância por parte dos órgãos ditatoriais de segurança naquele período. Seu espírito generoso desde cedo o fez abraçar a utopia socialista, agindo por construirmos uma sociedade justa e igualitária onde a ciência e demais saberes estejam a serviço da maioria da população".
 

INPA, UFMA e UFU apontam contribuições notáveis de Warwick

O INPA emitiu nota de pesar que aponta a importância da sua passagem pela instituição: "Warwick Kerr deixa um legado tão importante para a ciência e formação de recursos humanos que a mais alta homenagem conferida pelo INPA, a Menção Honrosa Warwick Estevam Kerr, leva o nome dele por suas inestimáveis contribuições à Pós-Graduação, atividade que muito estimulou em toda sua vida por acreditar na importância da educação e formação de recursos humanos de qualidade para a Amazônia".
"Foi o Dr. Kerr, por exemplo, quem ajudou a trazer para o INPA vários dos seus atuais pesquisadores, incentivando e apoiando incondicionalmente a fundação de vários programas de pós-graduação, como o PPG em Entomologia, Ecologia e Biologia de Água Doce durante sua primeira gestão no INPA, assim como o Programa de Pós-Graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva (PPG-GCBEv) em sua segunda gestão.
Seu empenho constante em prol da educação e ciência no Brasil é plenamente demonstrado pela sua brilhante carreira científica, tendo atuado em remotas regiões brasileiras, como Maranhão e Amazonas, onde orientou inúmeros estudantes em nível de graduação e pós-graduação e contribuiu efetivamente para as FAPs [fundações de apoio à pesquisa] estaduais".
A UFMA registrou que Warwick possuía pós-doutorados na Columbia University e University of California System, ministrou aulas em universidades norte-americanas e publicou diversos livros na área de apicultura. "Os dados apontam para 648 trabalhos científicos, cujos escritos podem ser encontrados em revistas renomadas como a Science, Evolution e The American Naturalist".
A UFU, onde esteve por dois períodos (1988-1999 e 2003-2010), implantou o curso de Pós-Graduação em Genética e Bioquímica em nível de mestrado (1994) e de doutorado (1999) e desenvolveu pesquisas com abelhas, hortaliças e frutas, também expressou seu pesar pelo falecimento do pesquisador. "Uma mostra das condecorações e da produção científica do professor está disponível na Coleção Especial Dr. Warwick Estevam Kerr, na biblioteca do Campus Umuarama". Além de mencionar entre seus principais trabalhos a introdução no Brasil da abelha africana e o desenvolvimento da abelha "africanizada", a universidade destacou a descoberta de "um tipo de alface com 20 vezes mais vitamina A do que o comum". Na UFU, embora aposentado em 1992, Warwick orientou alunos, ministrou aulas e realizou pesquisas até 2012.
O reitor da UFU, Valder Steffen Júnior, enfatizou o papel de Warwick como educador, uma vez que formou diversas gerações de pesquisadores, obtendo por isso grande reconhecimento da comunidade científica nacional e internacional. "Dr. Kerr, além disso, sempre foi um ser humano muito afável. Todos aqueles que conviviam com ele se sentiam acolhidos. Sempre foi muito espirituoso, com uma palavra interessante, uma palavra nova, uma palavra de incentivo, de encorajamento às pessoas", observou. "Ele tinha ideias muito claras sobre a importância do sistema federal de ensino superior, da universidade  pública, da universidade democrática".
 

EXPRESSO ADUSP


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