A recuperação do Hospital Universitário da USP (HU) não está no horizonte da gestão da Reitoria. Na reunião do Conselho Universitário (Co) realizada no último dia 7/3, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior afirmou que a Reitoria não vai investir na retomada da capacidade plena de atendimento do HU, demanda que vem sendo feita pela(o)s servidora(e)s do hospital, pela comunidade do Butantã e pelos movimentos populares desde que o desmonte do HU foi iniciado pela gestão M.A.Zago-V.Agopyan, a partir de 2014.

O reitor considera que o HU é um “serviço extremamente caro” e que não há condições de fazê-lo voltar a operar nos moldes anteriores ao desmonte – que teve sequência na gestão V.Agopyan-A.C.Hernandes e, pelo visto, não será revertido na gestão Carlotti-M.Arminda. Tanto Zago quanto Carlotti, recorde-se, são médicos.

“A ideia é manter o HU funcionando, não é ampliar o HU. Eu sei que vocês gostariam que o HU funcionasse com duzentos e poucos leitos, mas não vamos fazer isso. O HU custa hoje R$ 383 milhões. Não é um valor pequeno. Não estamos contra o HU, estamos dando 120 [novas contratações], vamos dar mais” (destaques nossos), disse Carlotti, em resposta à manifestação de Reinaldo Souza, representante da categoria da(o)s servidora(e)s técnico-administrativa(o)s no Co.

Na reunião, Souza cobrou da Reitoria medidas para a recuperação plena do mais importante equipamento público de saúde da região, referência para cerca de 600 mil moradores.

O reitor disse que comunicou ao superintendente do HU, José Pinhata Otoch, que quer que “o que está funcionando funcione bem”.

“Não pode ter goteira, não pode ter falta de energia. Aquilo lá tem que funcionar bem. Agora, não vamos ampliar porque é um serviço de saúde extremamente caro. É mais ou menos o preço, preço não” (destaque nosso), corrigiu-se, “o investimento que se faz no Incor [Instituto do Coração do HC-FMUSP], um pouquinho menos do que se faz no Icesp [Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, ligado ao HC-FMUSP], que são hospitais terceirizados, extremamente caros”, prosseguiu.

“Ao referir-se ao HU como ‘aquilo lá’ e demonstrar o entendimento de que a gestão está ‘dando’ vagas para o hospital, o médico Carlotti Junior revela seu desprezo por essa importante unidade de ensino, pesquisa e extensão. Desconsidera que a situação do hospital é resultado de intencional abandono das gestões reitorais desde 2014 para tentar justificar a privatização do Hospital Universitário. Há algo mais neoliberal do que isso? É preciso que defendamos o HU, espaço de formação de centenas de estudantes da saúde que garante o atendimento de milhares de pessoas do Butantã e da comunidade USP anualmente. O HU é SUS! O HU é nosso! Já perdemos o HRAC [Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais], não vamos perder o HU!”, afirma Michele Schultz, presidenta da Adusp.

Na descrição do reitor, o HU permanecerá com um quadro de pessoal que mantenha os atuais números de atendimento, sem retorno à capacidade anterior ao desmonte. “A ideia é que haja boa qualidade de atendimento e boas condições físicas, [que seja] reformado. Não quero o HU desatualizado”, disse Carlotti.

“Promiscuidade entre o público e o privado”

Antes do desmonte, o HU tinha pouco mais de 230 leitos ativos e realizava cerca de 17 mil atendimentos por mês, incluindo cirurgias e procedimentos ambulatoriais. Na atualidade, há 145 leitos ativos e uma média de atendimentos mensais em torno de 4 mil a 5 mil. No centro cirúrgico, apenas duas das dez salas estão sendo utilizadas, o que fez despencar em 40% o número de cirurgias realizadas na comparação entre os anos de 2014 e 2021. Na ala de pediatria, equipamentos novos seguem sem uso e amontoados em salas que deveriam estar sendo utilizadas para atendimento.

Os problemas estruturais do hospital vêm se agravando, com ocorrências como queda de energia elétrica e falta de água quente. Nas constantes chuvas deste verão, a água cai em verdadeiras enxurradas de forros e luminárias, invadindo corredores e salas de atendimento.

Daniel GarciaDaniel Garcia
Entidades seguem promovendo atos para denunciar desmonte do HU

No dia 1/3, um ato público organizado pela Adusp, Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), DCE-Livre “Alexandre Vannucchi Leme” e pelo Coletivo Butantã na Luta denunciou a situação de calamidade e reivindicou investimentos para a recuperação do hospital e a contratação de pessoal. Pelo menos 500 contratações seriam necessárias para a retomada da capacidade plena de atendimento do hospital.

“A situação do HU está muito ruim”, disse em entrevista ao Informativo Adusp o pediatra João Paulo Becker Lotufo, diretor clínico do HU. “Nós somos um hospital-escola que está abandonado. Ainda funciona graças à equipe que está aqui e que se mata de trabalhar.”

Barbara Della Torre, servidora do HU e representante da(o)s servidora(e)s técnico-administrativa(o)s no Co, reiterou as denúncias da situação “de completo desmonte e abandono da estrutura física do HU”.

“Não são goteiras, são enxurradas que caem pelos lustres. Pode haver um curto-circuito no Pronto-Socorro. É um absurdo que dentro de um hospital na maior universidade da América Latina isso esteja acontecendo”, afirmou na reunião do Co.

A servidora também questionou a postura da Reitoria de não aplicar recursos na recuperação plena do HU ao mesmo tempo que destinou R$ 217 milhões para os hospitais das Clínicas de São Paulo (HC-FMUSP) e de Ribeirão Preto (HC-FMRP). “Por quê? Por que são administrados por fundações?”, apontou. “É preciso dizer que há contradições aqui, há promiscuidade entre o público e o privado acontecendo dentro desta universidade.”

Auxílio-saúde para aposentada(o)s pode ser discutido “no futuro”, diz reitor

Na reunião, Carlotti também se referiu ao auxílio-saúde que a USP criou para subsidiar planos privados para a(o)s servidora(e)s. De acordo com o reitor, mais de 5 mil pessoas já haviam aderido ao sistema até o início da semana passada, “e acredito que vamos ter [um número] próximo da totalidade dos nossos servidores”, estimou.

Pelo menos duas empresas se credenciaram num chamamento público aberto pela Superintendência de Saúde (SAU) para oferecer uma modalidade de plano específica para servidora(e)s da USP.

O primeiro credenciamento firmado foi com a Unimed do Estado de São Paulo – Federação Estadual das Cooperativas Médicas, conforme ofício encaminhado pela Coordenadoria de Administração Geral (Codage) da USP nesta semana. Equipes de “consultores de vendas” da Unimed já estão a postos nos campi da capital e do interior para oferecer o plano aos e às servidora(e)s interessada(o)s.

Todos os procedimentos para a adesão devem ser feitos pelo Sistema MarteWeb. A SAU publicou em sua página na internet um guia de perguntas e respostas sobre o auxílio-saúde.

“O que fizemos é o que dava para fazer dentro do momento atual, dentro do valor financeiro que tínhamos disponível e com responsabilidade para os próximos anos”, dise Carlotti no Co. “Mas nada impede que no futuro você faça acréscimos, melhore os valores, acrescente pessoas que não foram incluídas nesse plano; discutir se pode ou não por exemplo a situação dos aposentados.”

Na atualidade, aposentada(o)s e pensionistas não podem requerer o auxílio-saúde. No último dia 3/3, a Adusp encaminhou um ofício à Reitoria no qual requer a extensão do benefício a essas pessoas.

De acordo com a entidade, a resolução que excluiu servidora(e)s aposentada(o)s e pensionistas do recebimento do auxílio-saúde “viola uma série de princípios e normas constitucionais que permitem a extensão do benefício” e “afronta diretamente o direito à saúde e o princípio constitucional da isonomia e paridade” (destaque do original).

Até esta quarta-feira (15/3), a Reitoria não havia respondido ao ofício.

EXPRESSO ADUSP


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