Serviço Público
Tarcísio impõe nomeação de ex-reitor do ITA como diretor do programa de privatização do Instituto de Pesquisas Tecnológicas
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) interferiu abertamente na diretoria do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para impor a nomeação do engenheiro Anderson Ribeiro Correia, ex-reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), como diretor de “Novos Negócios, Inovação e Open”, diretoria responsável pelo programa “IPT Open Experience”, por meio do qual vem sendo implantada uma rápida e crescente privatização da centenária instituição pública de pesquisa. Sem qualquer explicação, nem mesmo ao Conselho de Administração do IPT, a até então diretora de “Novos Negócios, Inovação e Open”, Cláudia Caparelli, foi retirada do cargo e substituída por Anderson.
Professor titular do ITA, Anderson exerceu dois mandatos como reitor da instituição: 2016-2018 e 2020-2023. Os reitores do ITA são escolhidos e nomeados pelo Alto Comando da Aeronáutica, sem passar pelo crivo de nenhum processo eleitoral minimamente democrático.
Anderson presidiu a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro, deixando o cargo para assumir seu segundo mandato à frente do ITA. Foi cotado para assumir o Ministério da Educação (MEC). Bolsonarista, teria questionado a confiabilidade das vacinas e das urnas eletrônicas.
O programa “IPT Open” foi iniciado na gestão do governador João Doria (PSDB), pela então secretária Patricia Ellen da Silva (Desenvolvimento Econômico), a pretexto de fomentar o desenvolvimento de empresas do setor de tecnologia digital, plano vinculado a um suposto projeto de fazer da capital paulista uma espécie de “Vale do Silício”.
Quando diretora da McKinsey Brasil, Patricia Ellen foi uma das responsáveis pelo projeto “USP do Futuro” (2015-2016). Foi ela quem cedeu, em 2021, parte do campus do IPT para a instalação da recém criada Faculdade Inteli-IBTCC, ligada ao banco BTG-Pactual. A empresa apoderou-se de instalações e de uma parte do espaço do campus do IPT, dispondo até de uma entrada própria identificada com sua logomarca.
O contrato entre IPT, Fundação IPT (FIPT, privada) e Inteli-IBTCC foi realizado com dispensa de licitação e é sigiloso. Embora tenha sido incluída no “IPT Open” como uma empresa de tecnologia, a Inteli-IBTCC é tão somente uma faculdade, sem nenhuma expertise em pesquisa ou tecnologia. Em junho de 2023, com base nas apurações do Informativo Adusp Online, o Ministério Público de Contas (MPC), setor do Ministério Público estadual (MP-SP), propôs ao Tribunal de Contas (TCE-SP) que o contrato seja investigado.
A próxima empresa a ser contemplada com as benesses do programa a ser dirigido por Anderson é a Google. O início da reforma das instalações que vão abrigar a Google está agendado para 26 de fevereiro.
Pesquisadora do IPT e diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia de São Paulo (SinTPq), a geóloga Priscila Leal considera que a nomeação de Anderson como diretor da instituição é uma imposição do governo estadual, não se deu de forma transparente, e o corpo funcional do IPT não foi ouvido a respeito. Além disso, Priscila considera “muito preocupante e completamente fora de propósito” que um cargo de direção de uma renomada instituição de ciência e tecnologia seja confiado a alguém que tem um comportamento anticientífico e “antivax”.
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