Mauro de Mello Leonel Junior, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) aposentado, faleceu no último sábado (12/3) aos 73 anos de idade (1948-2022). Havia mais de quarenta dias ele estava internado na UTI de um hospital paulistano, com problemas pulmonares e recuperando-se de um infarto.  

Graduou-se em Economia Política pela Universidade de Paris 8 (1975) e em Ciências Políticas e Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1987), com mestrado em Economia Política pela Universidade de Paris 8 (1977), mestrado em Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP, 1988) e doutorado em Sociologia pela USP (1994). Pós-doutorou-se na USP (1995-1996).

Antes de tornar-se antropólogo e professor universitário trabalhou como jornalista em publicações no Brasil e no exterior (Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Liberation). Como ele próprio informava no seu currículo Lattes, teve algumas graduações e pós-graduações interrompidas no Brasil, “devido ao exílio político durante a Ditadura Militar”, e na França.

Foi professor da Universidade de Lisboa (1977-1979) e da Unesp (1996-2006). Atuou como professor substituto do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), em 1995-1996. Ingressou como docente concursado no Curso de Gestão Ambiental da EACH em 2006 e obteve a livre-docência em 2008, ao defender a tese “Configurações das Amazônias: políticas, mercados e biossociodiversidades”. Foi ainda professor visitante do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Integração da América Latina (Prolam).

“Mauro, pessoa fundamental em minha vida, professor e pesquisador referência, era daqueles seres humanos absolutamente inesquecíveis. Sua intensa vida for marcada pela luta por justiça social, ambiental e econômica e pela construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária”, escreveu o professor André Simões, da EACH, em texto que circulou entre docentes da unidade.

“Ele foi firme contra a Ditadura Militar e pagou preço alto por isto (foi, sem dúvida alguma, um grande brasileiro!!!). Era pessoa livre, altamente intelectualizada e que adorava estar o mais próximo possível do povo, dos mais humildes”. Era “antifascista com todas as suas forças” e “brilhante professor”, disse Simões.

Há muitos anos, relatou o amigo, Mauro vivia “relativamente só” num apartamento na Praça da República, no Copan, prédio projetado por Oscar Niemeyer (muito admirado por ele) e “decorado de modo, digamos, incrível, repleto de livros por todos os cantos, uma gigantesca estátua de cemitério na sala, lindos objetos de arte indígena por toda a casa, fotografias mágicas de pensadores do Brasil e do mundo pelas paredes”.

Mauro foi consultor da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Banco Mundial e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e, segundo Simões, desenvolveu importante trabalho junto às populações indígenas do Brasil, em especial na Amazônia, por muitos anos. Escreveu A Morte Social dos Rios (Perspectiva, IAMÁ, 1998),  Etnodicéia Uruéu-Au-Au (Edusp, Fapesp, IAMÁ, 1995), Roads, Indians and the Environment in the Amazon: from the Central Brazil to the Pacific (IWGIA, 1992), e foi coautor de Enviromenment, Poverty and Indians (Novib, 1991), os dois últimos editados respectivamente em Copenhague e Amsterdã.

No convite para seu velório e cremação, que ocorreram neste domingo (13/3), amigos e familiares lhe fizeram nova homenagem: “Mauro sempre amou as rosas e em particular amava uma delas, a tímida e frágil flor da alegria e do desejo revolucionário de transformar o mundo, tão bem revelada na imortal frase de Rosa Luxemburgo que ele tanto  amava: ‘Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres’. Sua reivindicação continua viva e seguimos seu exemplo, tal como se diz em Rojava, com nenhum minuto de silêncio e toda uma vida de lutas! Maurinho presente, agora e sempre! Um abraço afetuoso de seus familiares e amigos”.

EXPRESSO ADUSP


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