Na reunião de 22 de fevereiro último, a Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) aprovou duas moções, nas quais clama “pelo fim imediato do genocídio em Gaza”, convoca “todos os setores da Universidade a se posicionarem no mesmo sentido”, denuncia atrocidades cometidas pelo exército de Israel e, ainda, solicita à Reitoria da USP “que reveja sua incompreensível posição de negar o pedido de instalação de um Palestine Corner para representar o Estado Palestino na Universidade de São Paulo”.

De acordo com uma das moções, sob “pretexto de exterminar o Hamas como meio de autodefesa, em quatro meses de guerra, as Forças Armadas de Israel já assassinaram mais de 27.500 mil palestinos, a maior parte deles crianças e mulheres, deixando 68 mil feridos e mais de 7 mil ainda desaparecidos sob os escombros, na data em que se escreve esse texto”.

Ainda segundo esse texto, “Israel tem bombardeado hospitais e aprisionado médicos e enfermeiros, impedindo deliberadamente o cuidado para com amputados e doentes; dos 36 hospitais antes existentes em Gaza, apenas quatro funcionam, muito parcialmente. O exército israelense também tem mirado jornalistas que divulgam essa tragédia, com o que 117 jornalistas já perderam a vida em missão na Cisjordânia e em Gaza”. Mais de 2 milhões de palestinos, aponta, “estão ao desabrigo, sem água, comida, ou medicamentos, ameaçados de morte por inanição”.

A moção prossegue lembrando que instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS), as Nações Unidas (ONU) e as afiliadas desta Unesco e Unicef “denunciam como crimes de guerra o ataque indiscriminado de Israel a escolas, universidades, igrejas, mesquitas e abrigos para refugiados, bem como a destruição dos lugares de memória e identidade do povo palestino, como a Igreja Grega Ortodoxa de São Porfirio (século V); o balneário otomano Hamam al-Samra (século XVI); a mesquita de Al-Sayid Hashim e a Grande Mesquita Omari — erguida sobre um antigo templo filisteu da idade de ferro, anterior à própria Bíblia”.

Estas, continua o texto, “são as razões pelas quais a África do Sul, apoiada por cerca de mil organizações mundiais, incluindo o governo brasileiro, apresentou em 29 de dezembro de 2023 ao Tribunal Internacional de Justiça (órgão judicial da ONU), uma acusação de genocídio por parte de Israel contra o povo palestino, a qual, embora aceita pelo Tribunal, em nada alterou a violência contra Gaza”.

A mobilização da sociedade civil “é essencial para interromper abusos de violência contra populações vulneráveis”, afirma ainda a moção. “Por isso, no que concerne à nossa atuação acadêmica, não aceitamos nos manter indiferentes a essa situação e solicitamos à Reitoria que reveja sua incompreensível posição de negar o pedido de instalação de um Palestine Corner para representar o Estado Palestino na Universidade de São Paulo”.

Trata-se de uma referência a espaços ou “cantos” (corners) existentes no Centro Intercultural Internacional (CII), no prédio da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani). Atualmente existem no CII cinco corners: de Israel (criado em dezembro de 2021), da França (junho de 2022), da Índia (agosto de 2022), da Irlanda (agosto de 2022) e da Coreia do Sul.

“Parece-nos incompreensível [a negativa], uma vez que a Palestina é um Estado reconhecido pelo governo brasileiro, do mesmo modo que o Estado de Israel, ao qual foi concedido um Israel Corner na nossa Universidade”, destaca a moção. “Se se nega a autorização de funcionamento de um Palestine Corner, que se suspenda, por paridade, a instalação do Israel Corner. É o mínimo de justiça que podemos solicitar, em meio a uma tão injusta guerra”.

Íntegra das moções aprovadas em 22/2

Moção da Congregação da FFLCH em repúdio ao massacre em Gaza”

A Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, reunida em 22 de fevereiro de 2024 vem a público anunciar o seu mais veemente repúdio ao massacre em curso na Faixa de Gaza. Repudiamos com igual veemência a morte de civis israelenses no ataque do Hamas de 7 de outubro. Declaramos que constitui uma obrigação ética e moral, compatível com a tradição humanista da nossa faculdade, denunciar o horror dessa guerra. Silenciar seria falhar perante um momento tão grave da História. Clamamos pelo fim imediato do genocídio em Gaza e convocamos todos os setores da Universidade a se posicionarem no mesmo sentido.

Manifestação da FFLCH em prol da paz e do fim do massacre em curso na Faixa de Gaza”

Independentemente das causas remotas (a ocupação dos territórios palestinos à revelia das resoluções 242 e 338 do CS/ONU) e causas recentes (o condenável ataque do grupo palestino Hamas a soldados e civis em Israel), é injustificável – sob qualquer ponto de vista do Direito e dos valores humanos – o massacre que Israel vêm perpetrando aos palestinos desde o dia 8 de outubro de 2023.

Sob o pretexto de exterminar o Hamas como meio de autodefesa, em quatro meses de guerra, as Forças Armadas de Israel já assassinaram mais de 27.500 mil palestinos, a maior parte deles crianças e mulheres, deixando 68 mil feridos e mais de 7 mil ainda desaparecidos sob os escombros, na data em que se escreve esse texto.

Desde então, Israel tem bombardeado hospitais e aprisionado médicos e enfermeiros, impedindo deliberadamente o cuidado para com amputados e doentes; dos 36 hospitais antes existentes em Gaza, apenas quatro funcionam, muito parcialmente. O exército israelense também tem mirado jornalistas que divulgam essa tragédia, com o que 117 jornalistas já perderam a vida em missão na Cisjordânia e em Gaza. Cerca de 80% das residências da Faixa foram destruídas e mais de 2 milhões de palestinos estão hoje ao desabrigo, sem água, comida, ou medicamentos, ameaçados de morte por inanição.

Apesar disso, com a aquiescência dos Estados Unidos e governos europeus, o Estado de Israel tem impedido a entrada de ajuda humanitária para os palestinos, surdo aos protestos de diversos organismos internacionais, como a ONU, a Unesco, a Unicef e a OMS. São esses organismos, ainda, que denunciam como crimes de guerra o ataque indiscriminado de Israel a escolas, universidades, igrejas, mesquitas e abrigos para refugiados, bem como a destruição dos lugares de memória e identidade do povo palestino, como a Igreja Grega Ortodoxa de São Porfirio (séc. V); o balneário otomano Hamam al-Samra (séc. XVI); a mesquita de Al-Sayid Hashim e a Grande Mesquita Omari – erguida sobre um antigo templo filisteu da idade de ferro, anterior à própria Bíblia.

Estas são as razões pelas quais a África do Sul, apoiada por cerca de mil organizações mundiais, incluindo o governo brasileiro, apresentou em 29 de dezembro de 2023 ao Tribunal Internacional de Justiça (órgão judicial da ONU), uma acusação de genocídio por parte de Israel contra o povo palestino, a qual, embora aceita pelo Tribunal, em nada alterou a violência contra Gaza. A acusação considera que os atos supracitados “têm a intenção de provocar a destruição de uma parte substancial do grupo nacional, racial e étnico palestino”.

Detentores de uma tradição de defesa dos direitos humanos, da paz e do respeito às diversas religiões, gêneros, etnias e nacionalidades, nós, docentes e discentes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, vimos nos unir às vozes de todos aqueles dos mais diversos países que vêm se indignando contra essa que é uma tragédia humanitária sem par.

Sabemos que a mobilização da sociedade civil é essencial para interromper abusos de violência contra populações vulneráveis. Por isso, no que concerne à nossa atuação acadêmica, não aceitamos nos manter indiferentes a essa situação e solicitamos à Reitoria que reveja sua incompreensível posição de negar o pedido de instalação de um Palestine Corner para representar o Estado Palestino na Universidade de São Paulo. Parece-nos incompreensível, uma vez que a Palestina é um Estado reconhecido pelo governo brasileiro, do mesmo modo que o Estado de Israel, ao qual foi concedido um Israel Corner na nossa Universidade. Se se nega a autorização de funcionamento de um Palestine Corner, que se suspenda, por paridade, a instalação do Israel Corner. É o mínimo de justiça que podemos solicitar, em meio a uma tão injusta guerra.

EXPRESSO ADUSP


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