Na véspera da deflagração da greve estudantil aprovada em assembleia geral dos(as) alunos(as) da USP, iniciada nesta quinta-feira (21/9) e que tem como uma de suas principais bandeiras a contratação de docentes para sanar o déficit recorde de professores(as) da universidade, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Jr. voltou a defender a política de “reposição” adotada por sua gestão. O vídeo com a manifestação do reitor foi divulgado pela Assessoria de Imprensa da USP nesta quarta-feira (20/9).

A publicação do vídeo ocorre num momento em que boa parte da universidade se mobiliza para exigir da Reitoria a recomposição do quadro docente da USP, cuja diminuição caracteriza uma política de precarização da atividade dos(as) professores(as), com reflexos que se espraiam do prejuízo à formação dos(as) alunos(as) até a sobrecarga aos e às docentes que seguem trabalhando.

Como se estivesse fazendo uma exposição no Conselho Universitário (Co),  Carlotti Jr. repisou, por meio de uma apresentação em power point, que serão preenchidos 879 claros docentes até o final da gestão, em 2025 ─ 876 distribuídos nas unidades e mais três específicos para disciplinas de Língua Brasileira de Sinais (Libras).

O número, disse o reitor, representaria a diferença entre o quadro docente de janeiro de 2014 ─ quando a gestão reitoral de M.A. Zago-V. Agopyan, a pretexto de debelar uma crise econômico-financeira na USP, barrou contratações e desencadeou o desmonte de equipamentos como o Hospital Universitário (HU) e as creches ─ e o existente em janeiro de 2022, início de sua gestão ao lado de sua vice, Maria Arminda do Nascimento Arruda.

De acordo com o reitor, a USP tinha 6.026 docentes em janeiro de 2014 e 5.150 em janeiro de 2022.

Os dados mostrados pela Reitoria não são condizentes com aqueles levantados pela Adusp, que têm por base as folhas de pagamento da universidade. A entidade considera nos seus cálculos apenas os(as) docentes efetivos(as), e não a soma destes(as)s com os(as) temporário(as). Além disso, os levantamentos da Adusp levam em conta os números a partir de setembro de 2014, momento em que a USP passou a publicar as folhas de pagamento na sua página de Transparência na Internet, e não os de janeiro daquele ano, citados por Carlotti Jr.

Em setembro de 2014, havia 5.934 docentes efetivos(as) na USP, enquanto o total geral, considerando os(as) temporários(as), era de 5.999. Utilizando o mesmo mês de 2022, o total de docentes efetivos(as) chegava a 4.941.

A última folha de pagamento disponível, de agosto de 2023, registra 4.892 docentes efetivos(as) ─ déficit recorde, portanto, de 1.042 em relação a setembro de 2014, ano utilizado por base pela Reitoria (veja aqui o quadro completo). Esse número expressa também uma diferença de 163 claros a menos na comparação com as 879 contratações do “pacote” da gestão.

Vale dizer ainda que o plano de “reposição” adotado pela Reitoria desconsidera as saídas que ocorrerão naturalmente ao longo do período da própria gestão Carlotti Jr.-M. Arminda. O levantamento da Adusp registra 189 desligamentos por aposentadoria, falecimentos ou exonerações em 2022. De janeiro a agosto de 2023, já são 116 perdas.

Esses números, repita-se, foram omitidos na apresentação feita por Carlotti Jr. em seu power point, assim como qualquer projeção de perdas que ocorrerão daqui até o final da gestão em 2025. A conta não fecha.

Contratações precisam considerar “viabilidade orçamentária” e “salário digno”

No vídeo, o reitor diz ainda que o número de contratações deve permitir “a possibilidade da recuperação salarial dos atuais docentes” e que a USP precisa avaliar se haverá “viabilidade orçamentária para essas contratações e se os docentes poderão ter um salário digno de exercer as suas atividades”. Ficam no ar as dúvidas sobre o que o reitor considera um “salário digno” e se a universidade está nesse patamar no momento ou, em caso negativo, quando e como o atingirá.

Carlotti Jr. apresentou também quadros com as vagas abertas por unidade e o percentual das contratações já realizadas. Na unidade que mais perdeu docentes em números absolutos, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), até o momento foram contratados(as) 11 novos(as) docentes, o que representa apenas 15,7% do total de 70 claros concedidos.

Em assembleia setorial realizada nesta quarta-feira, docentes da unidade decidiram paralisar suas atividades de 21 a 26/9, em “apoio às reivindicações estudantis atuais, especialmente as de contratação docente e permanência”, com nova assembleia no dia 26/9, mesma data em que ocorrerá uma assembleia geral da Adusp que tem na pauta indicativo de paralisação.

Num vídeo divulgado no início da semana, o diretor da FFLCH, Paulo Martins, afirmou que a unidade terá problemas para realizar os concursos para as 70 vagas até a metade do ano que vem (o prazo é limitado pela legislação eleitoral), devido ao número insuficiente de servidores(as) técnico-administrativos(as) da faculdade.

A redução do quadro de funcionários(as), por sinal, é outra consequência deletéria das ações draconianas de “austeridade fiscal” e da implantação dos “Parâmetros de Sustentabilidade Econômico-Financeira” na USP a partir de 2017, ainda na gestão Zago-Agopyan.

De acordo com o Anuário Estatístico, a universidade possuía 17.200 servidores(as) técnico-administrativo(as) em 2014, contra 12.854 em 2022 ─ redução de 25,3%. O plano de “reposição” do quadro de funcionários(as) prevê, porém, somente cerca de 600 contratações ao longo da atual gestão.

No vídeo, Carlotti Jr. disse ainda esperar que, no tocante aos claros docentes, a próxima gestão “possa fazer uma política até de antecipação dessas vagas, não permitindo que o número de professores na universidade diminua como foi realizado no passado”.

O reitor procurou encerrar sua fala de modo otimista. “Até o final do ano teremos mais de 200 concursos terminados e vamos ter um número muito grande de contratações no final de 23 e início de 24, tendendo a diminuir o déficit de professores e aumentar a possibilidade de nós termos uma maior capacidade de aulas para os nossos alunos”, arriscou, num reconhecimento de que atualmente essa capacidade está aquém das necessidades do corpo discente.

EXPRESSO ADUSP


    Se preferir, receba nosso Expresso pelo canal de whatsapp clicando aqui

    Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!