Troca de acusações entre grupos de estudantes, relacionadas à condução da Associação de Moradores do Conjunto Residencial da USP (Amorcrusp), bem como o apoio da Polícia Militar (PM) e da Guarda Civil Universitária (GCU) à gestão atual da entidade, a pedido da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), acabaram motivando o Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre “Alexandre Vannucchi Leme”) a emitir nota a respeito da situação, por meio da qual critica como “inconsequente” e “sem diálogo” a política de controle do Crusp levada a cabo pela PRIP e, ainda, repudia a entrada da PM e da GCU nos blocos residenciais do campus.

“A USP vem recebendo seguidas denúncias de agressões ocorridas nos espaços do Crusp, acompanhadas de vídeos, fotografias, cópias de boletins de ocorrência e depoimentos”, declarou a PRIP na nota intitulada “À Comunidade USP”. “A USP tem a responsabilidade de proteger a integridade da sua comunidade e de seus edifícios. Conversas e reuniões têm sido realizadas para enfrentar essa situação inaceitável”, prossegue.

“Em alguns casos a gravidade dos acontecimentos impuseram [sic] a instauração de processo administrativo disciplinar para averiguação dos fatos. Em dois casos, que apresentavam provas irrefutáveis, foram determinadas medidas cautelares de restrição da circulação dos denunciados no Crusp. Eles terão amplo direito de defesa no âmbito do processo administrativo”.

Notificações relativas à cautelar foram entregues aos estudantes envolvidos. Além disso, a PRIP agendou reunião para terça-feira (20/12) às 14h no seu Gabinete, no prédio da Reitoria, com as entidades representativas, “para tratar das questões de permanência estudantil da USP”.

Uma Comissão de Transição, por sua vez, divulgou “Declaração coletiva contra as medidas invasivas e autoritárias” da PRIP e da atual gestão da Amorcrusp, AvanteCrusp. De acordo com a declaração, após “descumprir decisões tiradas na Reunião Geral do CRUSP de 01/12/2022 e na Assembleia Geral do Crusp de 8/12/2022 – que deliberou e aprovou a destituição da gestão AvanteCrusp”, frente a “casos de invasão de apartamento por um membro da gestão, acusações de assédio moral contra trabalhadores terceirizados e manipulação de documentos oficiais da Associação de Moradores do CRUSP, como atas”, a gestão destituída acionou a PRIP “a fim de evitar que os moradores utilizassem os materiais de propriedade da Associação para a Assembleia Geral, que estava marcada para o dia 14/12/2022, às 19h, na Ágora em frente ao bandejão Central, e que havia sido aprovada no dia 8/12/2022”.

Ainda segundo a Comissão de Transição, a Guarda Universitária “já estava presente no local quando moradores solicitaram o uso da caixa de som, do microfone e das cadeiras, e impediu que os moradores entrassem no espaço e utilizassem o material, alegando que o membro da gestão destituída, Elvander, estava se recusando a permitir o acesso”. No entanto, continua, “a Assembleia aconteceu mesmo assim, com a presença de cerca de 50 pessoas”, e após deliberação, “foi aprovado que fosse reafirmado oficialmente a resistência da gestão AvanteCrusp em entregar os recursos da Associação dos Moradores para a Comissão de Transição que foi instaurada em 8/12/2022, incluindo chaves, arquivos, prestação de contas etc”.

Além disso, “foi aprovado que os presentes daquela Assembleia iriam garantir, ainda naquela noite, a troca das fechaduras do espaço da Amorcrusp e que esta assembleia iria terminar dentro deste espaço, uma vez que não houve respeito e contribuição por parte da gestão na transição pacífica que foi amplamente discutida e aprovada pelos moradores”, declara a Comissão de Transição.

“Ocorre que, apesar da aprovação da proposta de destituição e de ocupação do espaço, para que ocorresse de fato uma transição, na noite de 14/12/2022 a Guarda Universitária, junto a seguranças terceirizados da Albatroz e Policiais Militares chegaram ao local e impediram que o que foi deliberado e decidido democraticamente pelos moradores fosse cumprido, alegando que estavam impedindo a entrada sob ordens da PRIP a fim de preservar o patrimônio”.

“A posição da PRIP e da Guarda Universitária foi irredutível: os moradores não poderiam entrar, não considerando, portanto, as deliberações e a autonomia dos estudantes”, informa ainda a Comissão de Transição. “Por este motivo, moradores e outros estudantes ocuparam e permanecem ocupando a frente da Amorcrusp desde as 21h de 14/12/2022, mesmo com as últimas tentativas da Pró-Reitoria e da gestão destituída de abrir sindicância contra moradores que se opuserem às suas ações e decisões ilegítimas, incluindo notificação que dá 24 horas para a pessoa notificada sair do Crusp. Foram acionados advogados, Sindicatos, entidades e veículos de mídia para notificarmos estes acontecimentos desmedidos”.

Amorcrusp apresenta sua versão e nega defender catracas

Procurada pelo Informativo Adusp para que se manifestasse, a gestão atual da Amorcrusp, intitulada Avante, classifica como fake news as informações que tem circulado. “Ocorreram, nas últimas semanas, uma série de assembleias/reuniões abertas organizadas pela Amorcrusp. Infelizmente, esses espaços se tornaram extremamente hostis e contraproducentes, uma vez que um grupo de estudantes e pessoas externas, compostos por membros da antiga gestão da associação e outras pessoas, sempre buscava ganhar as discussões com base no grito, na ameaça, nos xingamentos, silenciamento das pessoas e até mesmo com violência física”, sustenta. “Também desejavam realizar um julgamento sumário do membro da gestão atual, sem garantir qualquer direito de defesa”.

Segundo seu relato, numa assembleia “chamada para votar a destituição da gestão Avante”, esta “se organizou com seus apoiadores”e ganhou a votação. “As pessoas contrárias não aceitaram o resultado e começou uma briga com violência física, agressões verbais e ameaças. Após isso, esse grupo realizou uma outra assembleia e instituiu uma autogestão, se auto-intitulando os novos diretores da entidade, e decidiu que tomaria o espaço da Amorcrusp”.

Na última quarta-feira, prossegue a gestão, “esse grupo decidiu que, por terem se auto-proclamado gestão, ocupariam o espaço da Amorcrusp, desrespeitando a decisão legítima de nós estudantes, visto que o espaço de deliberação legítimo é o convocado pela entidade de representação”. Segundo sua versão, a Guarda Universitária “apenas ficou na frente do espaço não deixando eles arrombarem a porta e os moradores do bloco F puderam observar que não houve agressão, apenas tentativa de avançar por parte do grupo para cima dos funcionários”.

Paralelamente a isso, diz a Avante, a PRIP “instaurou o controle de acesso aos prédios do Crusp”, mas, embora a Amorcrusp venha sendo responsabilizada pelo grupo opositor por essa medida, a explicação seria outra: “A verdade é que o espaço que nós moradores íamos tirar nossa posição sobre o tema era justamente a primeira assembleia que eles implodiram. Destacamos que (1) esse tema não é consensual entre nós moradores, mas também que (2) o modelo adotado não tem impedido ninguém de adentrar no Crusp, somente anotando o nome de cada pessoa que entra e horário”. Além disso, garante, a atual gestão nunca defendeu “catracas e coisas do tipo, muito pelo contrário, então é fake news o que têm sido divulgado nesse sentido”.

Íntegra da nota do DCE-Livre

O DCE Livre da USP, instituição máxima de representação estudantil da Universidade de São Paulo, vem a público manifestar repúdio às atuais intervenções da Polícia Militar e da Guarda Universitária nos espaços do Conjunto Residencial da USP.

Nos últimos meses, a Reitoria da USP, por meio da Pró Reitoria de Inclusão e Pertencimento, vem levando a cabo uma política de controle do Crusp completamente inconsequente. Não tem existido diálogo com os moradores do local, tampouco uma política de acolhimento aos estudantes que são parte da USP e necessitam da política de assistência da universidade.

Diante das disputas atinentes a essa política empreendida pela reitoria, a PM e a Guarda Universitária tem intervido nos espaços estudantis do CRUSP. É inadmissível que esses organismos intervenham desta forma em espaços de deliberação estudantil. Cabe ressaltar, ainda, que a própria presença da PM na USP vem sendo alvo de denúncias pelos estudantes há muitos anos, e a universidade não tem se demonstrado aberta a discutir uma outra política de segurança, que repudie o racismo e a repressão inerentes a um modelo militar de polícia.

Ainda, inúmeros moradores receberam notificações de despejo de seus apartamentos, inclusive morador com filho sendo ameaçado de despejo em 24h.

O DCE presta sua solidariedade a esses moradores sendo cruelmente ameaçados e reprimidos, e oferecerá todos os recursos disponíveis para impedir a intervenção arbitrária da Reitoria, que utiliza práticas e normas da ditadura militar para reprimir os estudantes.

Ressaltamos, também, que a agressão não é um método político aceitável, e serve apenas para esvaziar espaços coletivos, afastando o conjunto dos estudantes das deliberações comuns.

Acreditamos na importância do debate coletivo e democrático, bem como na defesa da autoorganização estudantil.

Fora PM da USP! Por uma política de assistência estudantil a altura de uma universidade que deve enegrecer-se e popularizar-se.

EXPRESSO ADUSP


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