Soberania alimentar
Estudantes encerram a X JURA-Esalq com vivência no Acampamento Marielle Vive
Neste artigo, Fábio Frattini Marchetti, pós-doutorando na Esalq, relata atividades desenvolvidas durante visita às 400 famílias de trabalhadoras(es) rurais sem terra acampadas em Valinhos
A X Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA), realizada entre os dias 16 e 21 de abril, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da USP, finalizou suas atividades com uma vivência no Acampamento Marielle Vive, no município de Valinhos (SP). Cerca de vinte estudantes participaram das atividades ao longo do dia, junto às famílias acampadas, oportunidade em que puderam dialogar, trocar experiências e conhecer um pouco mais dos desafios da luta pela terra, da produção de alimentos saudáveis e conservação ambiental.
Os estudantes foram recebidos com um café da manhã preparado no local, com bolo de milho, mandioca assada, pães, geleias, sucos, café e chá, produtos in natura e beneficiados, todos oriundos da reforma agrária. No período da manhã, foi realizada uma roda de conversa com lideranças locais sobre o histórico de ocupação da área, as formas de organização do acampamento, bem como as conquistas e dificuldades enfrentadas pelas famílias.
Em seguida, os estudantes fizeram uma turnê guiada para conhecer as residências, as áreas de produção comunitária e os espaços coletivos, como, por exemplo, a horta mandala agroecológica, o canteiro de plantas medicinais e a cozinha coletiva, a qual serve diariamente mais de 100 refeições no café, almoço e jantar.
Após o almoço, os estudantes foram divididos em dois grupos para realizar trabalhos de mutirão, um deles no preparo de canteiros da horta mandala e outro no plantio de 50 mudas nativas em uma área de nascente. Para o encerramento da atividade, os estudantes se reuniram em uma nova roda de conversa, na qual puderam compartilhar os sentimentos, emoções e aprendizados do dia.
A JURA acontece durante o “Abril de Lutas”, na semana em que é lembrado o Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996, quando 19 trabalhadores rurais foram assassinados no estado do Pará. Esta data passou para a história de luta do povo sem-terra e é conhecida como o Dia Nacional de Luta pela Terra.
O Acampamento Marielle Vive é o lar de aproximadamente 400 famílias, desde 2018, quando a fazenda foi ocupada para denunciar seu abandono e o não cumprimento da função social da terra, cujo destino servia até então apenas para fins de especulação imobiliária. Em nota, divulgada em 2021, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pontua que “com os sem terra, a fazenda se transformou em um grande acampamento produtivo, que doa alimentos saudáveis e comercializa cestas de produtos agroecológicos e artesanato, gerando renda, construindo dignidade e possibilidades de vida.”
Este tipo de ação foi crucial para amenizar as dificuldades e escassez provocadas pela pandemia de Covid-19. Atualmente, as famílias convivem com a insegurança da possibilidade iminente de despejo, ainda que resistam dia após dia contra toda forma de opressão, violência e injustiça social e institucional.
A Esalq, por meio de seus grupos de extensão e estudos sobre a questão agrária, reforça seu compromisso de apoio às famílias acampadas, a partir de práticas e estudos para o desenvolvimento de arranjos produtivos agroecológicos, no fortalecimento da reforma agrária popular e para que o acampamento se torne um assentamento modelo para Valinhos e região.
Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!
Mais Lidas
- Revista nº 68 - novembro de 2024
- Ex-reitores(as) exigem “punição exemplar” de generais, coronéis e civis envolvidos na trama golpista para assassinar Lula, Alckmin e Moraes
- Alesp aprova projeto que corta recursos da educação pública, proposta qualificada como “retrocesso” e “crime” pela oposição
- Instituto de Psicologia confere diploma póstumo a Aurora Furtado, assassinada pela Ditadura Militar, em cerimônia tocante que também lembrou Iara Iavelberg
- Mais uma vez, Restaurante Universitário de Piracicaba deixa de fornecer refeições, e estudantes exigem “desterceirização” do equipamento