A maioria da população paulista é contrária à privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), cujo leilão está previsto para o segundo semestre. É o que revela pesquisa inédita realizada pela Quaest Pesquisa e Consultoria com 1.640 entrevistados, entre os dias 4 e 7 de abril, e cujos resultados foram divulgados detalhadamente pelo portal G1, em 15 de abril.

A privatização da Sabesp vem sendo conduzida “a ferro e fogo” pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos)-Felício Ramuth (PSD). A aprovação pela Assembleia Legislativa (Alesp), em 6 de dezembro último, do projeto de lei 1.501/2023, que autoriza sua alienação, é objeto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) ajuizada pelo Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores no Tribunal de Justiça (TJ-SP), uma semana depois.

Nada menos que 52% das pessoas ouvidas pela Quaest são contra a venda da Sabesp, enquanto 36% se declararam a favor. Além disso, 4% não são “nem contra e nem a favor” e as demais 8% não quiseram responder.

De acordo com a pesquisa, a adesão à privatização da companhia é maior no interior (41%) do que na capital (29%). Inversamente, a rejeição à privatização na capital é muito forte: 61%, enquanto no interior é maioria relativa: 46%. Os dados também mostraram variações expressivas conforme o gênero, idade e escolaridade das pessoas entrevistadas. No entanto, apesar das variações a privatização é rejeitada em todos os segmentos e recortes.

Enquanto 53% das mulheres ouvidas dizem ser contrárias à privatização, 11% não sabem, 5% são indiferentes e 31% são a favor, no caso dos homens 52% são contra, 4% não sabem, 3% são indiferentes e 42% são a favor.

Quanto à idade, os mais jovens e os mais idosos são os que mais rechaçam a privatização da Sabesp. Na faixa de 16 a 30 anos de idade, 57% são contra e apenas 31% a favor; na faixa de 31 a 50 anos, 49% são contra e 41% a favor; e nas faixa de 51 anos ou mais, 51% são contra e 35% a favor.

Quanto maior a escolaridade, maior a rejeição à venda da estatal. Dos que têm ensino fundamental, 49% são contra a privatização e 34% a favor; dos que têm ensino médio completou ou incompleto, 53% são contra e 36% a favor; dos que têm ensino superior incompleto ou mais, 54% são desfavoráveis e 39% a favor.

De modo semelhante, quanto mais alta a renda, maior a rejeição. Entre as pessoas entrevistadas, 54% das que ganham acima de 5 salários mínimos mensais são contra a privatização da Sabesp.

Vereadores da capital aprovam em 1o turno lei que permite contratar Sabesp após transferência acionária

Apenas dois dias após a divulgação da pesquisa da Quaest, a Câmara Municipal de São Paulo decidiu atropelar uma série de audiências públicas sobre a privatização da Sabesp agendadas para debater o substitutivo do projeto de lei 163/2024 (previstas para ocorrer nos dias 18, 20, 22, 24 e 27 de abril) e o colocou em votação em primeiro turno, em 17 de abril. A maioria governista prevaleceu e a matéria, que autoriza o município a aderir à privatização da Sabesp, foi aprovada com 36 votos favoráveis e 18 contrários.

A lei municipal 14.934/2009, em vigência, que autoriza o poder executivo a celebrar contratos com a Sabesp, determina, no seu artigo 2º, que os acordos firmados entre a Prefeitura e a empresa estadual com base nessa autorização “serão automaticamente extintos se o Estado vier a transferir o controle acionário da Sabesp à iniciativa privada”.

Assim, uma vez que o governo estadual pretende privatizar a companhia, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), aliado do governador Tarcísio, agiu no sentido de fazer aprovar essa nova lei, de modo a manter o contrato com a Sabesp mesmo após a privatização. A capital paulista responde pelo maior contrato da empresa, entre os 366 municípios atendidos por ela.

“A cidade de São Paulo está correndo um risco gravíssimo e todo mundo deve ser alertado”, declara o deputado federal e candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL-SP), em áudio que circula nas redes sociais. “O prefeito Ricardo Nunes está tentando a todo custo aprovar a privatização da Sabesp na Câmara Municipal. E essa medida pode transformar a Sabesp, que hoje é uma companhia bem avaliada, a maior da América Latina, na ENEL da água, com serviço caro e mal feito”.

EXPRESSO ADUSP


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