A professora Rossana Pulcineli Vieira Francisco, presidenta da Câmara de Atividades Docentes (CAD) da Comissão Permanente de Avaliação (CPA), deu a entender que não haverá prorrogação para o preenchimento do formulário de submissão do Projeto Acadêmico Docente (PrADo) referente ao ciclo 2026-2030. O prazo vai até o próximo dia 3 de novembro.

Numa live realizada pela CAD no dia 18 de setembro para responder a perguntas de docentes sobre o processo, um professor argumentou que faria mais sentido deixar a entrega do complexo formulário para dezembro, ou seja, depois do final do semestre letivo, período em que as atividades se acumulam.

Rossana respondeu que “nós precisamos, de alguma forma, agilizar mais os processos na nossa universidade”.

A presidenta da CAD também disse que completar toda a tarefa pode levar de oito a 16 horas, “não é uma coisa que está complicada”, e o prazo de dois meses foi concedido “exatamente para que o docente possa preencher com calma”. “Fazer o projeto acadêmico é uma obrigação nossa administrativa, como também é uma obrigação administrativa fazer o Relatório de Atividades Docentes [RAD], que compõe a avaliação docente”, justificou.

A entrega do PrADo é obrigatória para todos(as) os(as) os docentes efetivos(as), incluindo aqueles(as) que tiveram a conclusão do seu período probatório até o último 1o de setembro.

A questão do limite para submissão do projeto chegou a suscitar ruídos entre professores e professoras, devido a um e-mail enviado em nome do “Sistema CPA” no último dia 26 de setembro. O e-mail alertava, erroneamente, que o prazo para entrega do PrADo se encerrava em quinze dias. Posteriormente foi enviada nova mensagem, que corrigiu a anterior.

Retórica sobre avaliação emula discurso do setor privado

Na live, a professora Agma Machado Traina, vice-presidenta da CAD, enfatizou os princípios do sistema avaliativo da USP, que emulam chavões bastante presentes nos discursos corporativos do mundo privado. Por exemplo: “nós todos fazemos parte de uma grande engrenagem, somos partezinhas que fazemos com que o departamento funcione bem e que os departamentos de uma unidade integrem todas as capacidades necessárias para que a unidade também atue da melhor forma possível, e depois tenhamos a USP como um todo no nível de excelência que nós todos queremos e que nós todos acompanhamos”.

A declaração veio a propósito de um “conselho” da professora para que os(as) docentes “não deixem de consultar o material que está lá, que com certeza vai trazer mais subsídios, mais apoio para vocês poderem construir o PrADo de vocês”.

O material, no caso, são o projeto acadêmico institucional da unidade e o projeto acadêmico do departamento. “Ambos vão nortear a nossa construção individual de cada docente do seu projeto acadêmico para os próximos cinco anos”, explicou Agma.

“Por que a importância deles? Primeiro, o departamento é o órgão que olha, que cuida dos seus docentes. Ele tem o projeto acadêmico do departamento, ele traz então os detalhes das metas, dos objetivos que o departamento se colocou dentro do escopo do projeto acadêmico institucional para criar todo o necessário para que a unidade caminhe bem. No projeto acadêmico institucional, nós temos também os perfis docentes da unidade, que é muito importante para que cada um de nós possamos [sic] olhar aquilo que é esperado de cada um de nós naquele perfil, naquele nível de docente que nós estamos”, prosseguiu a professora.

Em outras palavras, trata-se de “uma indicação dos seus objetivos para os próximos cinco anos, a indicação de como que esse projeto que você está montando, que você está planejando, como que o seu PrADo se articula, se alinha com o projeto acadêmico do seu departamento e ou da sua unidade”. Tudo muito simples e prático.

A roda viva, na definição de Rossana Francisco, é uma engrenagem em que “a unidade diz onde ela quer chegar, o departamento diz como ele contribui para a unidade chegar lá, e agora está na hora de nós como docentes dizermos como a gente vai contribuir para o departamento chegar nos objetivos que foram traçados”.

Se ainda achar pouco, o(a) docente pode também consultar o tripé “Missão, Visão e Valores” da USP, além dos “objetivos estratégicos” de cada pró-reitoria. Os termos oficiais, bastante permeados pelo jargão do mundo empresarial, estão disponíveis no portal da USP e nas páginas das pró-reitorias.

Formulário dá “oportunidade” para conhecer Declaração de São Francisco

Entre as novidades para o ciclo 2026-2030 está a abertura de um período para que o departamento possa interagir com o(a) docente, permitindo a inclusão de “eventuais ajustes e aprimoramentos do projeto acadêmico”, de modo a que o PrADo se torne “o mais viável, o mais alinhado e o mais compatível possível com o departamento”, definiu Agma Traina. Essa “janela” ficará aberta até o dia 31 de janeiro de 2026.

Outra novidade é a inclusão de um campo referente à Declaração de São Francisco sobre Avaliação da Pesquisa (DORA, na sigla em inglês). A DORA defende a necessidade urgente de “melhorar a maneira pela qual as agências de financiamento, as instituições acadêmicas e outros grupos avaliam a produção da pesquisa científica”, e propõe a adoção de princípios como “a necessidade de eliminar o uso de métricas baseadas em periódicos, como o fator de impacto, nas considerações de financiamento, nomeação e promoção” e “a necessidade de avaliar a pesquisa por seus próprios méritos, em vez de depender dos méritos do periódico no qual ele foi publicada”.

A USP tornou-se signatária da declaração na gestão do ex-reitor Vahan Agopyan (2018-2021), mas, como reconheceu Rossana Francisco, a universidade “não tem feito muita coisa para isso”. “É uma decisão, é algo que não vai mudar de uma hora para outra, é um processo. (…) Então, o mais importante que a gente colocou isso é para que todo mundo conheça a declaração”, disse. “Acho que é importante que a gente olhe, mas também não precisa ter uma preocupação imensa com relação a isso, mas é uma oportunidade para a gente dizer como o nosso trabalho influencia a sociedade. Logicamente que, a depender da área, a influência é uma, a depender da área, a influência é outra.”

O formulário oferece ainda um campo de preenchimento opcional para que o(a) docente informe se suas atividades se relacionam diretamente com alguns dos chamados “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015.

Os ODS não propiciaram avanços expressivos ao longo de uma década, e sua presença numa peça destinada à avaliação na universidade se presta mais a uma jogada de marketing, com repercussão nos onipresentes rankings internacionais, do que a constituir um elemento que tenha relevância nas atividades desenvolvidas pelos(as) docentes. Trata-se, no fundo, de um novo elemento de condicionamento e pressão.

Ao responder aos questionamentos de professores e professoras, a presidenta da CAD disse várias vezes que o PrADo não trata de atividades já realizadas, mas dos projetos a realizar nos próximos cinco anos. O balanço do que foi efetivamente atingido caberá ao Relatório de Atividades Docentes (RAD), também obrigatório, a ser entregue ao final desse período.

Cabe lembrar que sete docentes que não entregaram o seu RAD referente ao último ciclo estão sendo submetidos(as) a uma “sindicância punitiva [sic]” na universidade. Em outros 32 casos, a avaliação foi de que o RAD não atendeu àquilo que o projeto acadêmico estabelecia. Nessas situações, conforme previsto nos artigos 33 a 37 da Resolução 7.272/2016, que criou o novo aparato avaliativo da USP, é estabelecido um “protocolo de compromisso” entre o(a) docente e o departamento, no qual devem constar “o diagnóstico objetivo das condições que levaram ao resultado apontado”; “os encaminhamentos, processos e ações a serem adotados com vista à superação das dificuldades detectadas”; e “a indicação expressa de metas a serem cumpridas e, quando couber, a caracterização das respectivas responsabilidades”.

Quem estiver enquadrado(a) em protocolo de compromisso, com duração de dois anos, deve citá-lo no PrADo e especificar quais são as atividades planejadas para depois do seu cumprimento.

O “correto” seria entregar PrADo e RAD simultaneamente, diz presidenta da CAD

Rossana também ressaltou que em muitos casos o atual projeto acadêmico do departamento esgotará seu prazo em meio ao período abrangido pelo PrADo. A orientação é que o(a) docente leve em conta o “projeto acadêmico aprovado e vigente no momento que a gente estiver fazendo o PrADo”. Se houver mudanças significativas no projeto departamental, o(a) docente poderá fazer ajustes no meio do caminho, explicou. Quando não houver departamentos, como é o caso da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), vale o projeto da unidade.

A roda viva estará permanentemente sendo alimentada, porque o sistema prevê a entrada de novos PrADos no segundo semestre de cada ano para situações como as de docentes que concluam estágio probatório, tenham retornado de alguma licença ou recebam progressão – nesse caso, terão que adaptar o seu projeto ao perfil exigido para o novo nível da carreira.

Alguns questionamentos apareceram de forma recorrente durante a live. Vários(as) docentes perguntaram sobre como preencher o formulário se houver previsão de aposentadoria no período. No caso da compulsória (75 anos de idade), deve ser proposto o planejamento das atividades até a data do afastamento. No caso de aposentadoria voluntária, Rossana Francisco recomenda cuidado no planejamento, porque não necessariamente a homologação da saída ocorrerá no momento imaginado pelo(a) docente, que também pode mudar de ideia no período.

Outro tema que suscitou várias perguntas foi a diferença entre “indicadores” e “qualificadores”. De acordo com a presidenta da CAD, os indicadores estão mais ligados às métricas quantitativas, como número de artigos publicados, enquanto os qualificadores consideram também os impactos sociais, econômicos etc.

Docentes de uma unidade que tenham vinculação subsidiária a outra podem incluir atividades planejadas na segunda, mas devem levar em conta que sua avaliação será feita pelo departamento de origem.

A presidenta da CAD alertou ainda que todas as situações de limitação de atividades ou readaptação por motivos de saúde precisam ser devidamente formalizadas.

A professora reconheceu que a produção acadêmica de 2025 acabará ficando de fora do período de avaliação devido a um atraso na aprovação dos projetos das unidades e dos departamentos. A CPA, disse, “está estudando” meios de resolver essa situação “de forma mais ágil e também sem sobrecarregar os docentes”. O “correto”, na sua avaliação, seria que “simultaneamente à entrega do relatório de atividades nós entregássemos o projeto acadêmico para os próximos cinco anos”. “Mas isso a gente sabe que é uma sobrecarga muito grande para os docentes, para as unidades”, considera.

“Nós já evoluímos bastante, há pouco tempo a gente nem tinha projeto acadêmico, agora nós estamos fazendo projeto acadêmico; não tinha relatório de avaliação, não tinha previsibilidade para a progressão horizontal… Mas há muita coisa para ser aprimorada ainda”, afirmou. Virão por aí novas engrenagens para alimentar a insaciável roda viva avaliativa?

Orientações gerais sobre o preenchimento do formulário do PrADo, além de um roteiro de perguntas e respostas, podem ser consultadas no site preparado pela Vice-Reitoria da USP. O e-mail para encaminhamento de dúvidas é cad@usp.br.

EXPRESSO ADUSP


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