Foi realizado em 9/6 um ato-debate que procurou manter viva a memória da violenta ação policial ocorrida no campus do Butantã, em 2009, nesse mesmo dia. O evento, que ocorreu no auditório Adma Jafet, no Instituto de Física, contou com a participação dos professores Fábio Konder Comparato, da Faculdade de Direito, e João Zanetic (Adusp), de Claudionor Brandão (Sintusp), Pedro Serrano (DCE) e Thiago Silva (APG).

O professor Zanetic deu início ao ato relembrando o processo de negociação da data-base em 2010 até o presente momento e criticou o corte de salários dos funcionários em greve e o conteúdo da “Proposta de acordo de fim de greve” apresentada pela Reitoria em reunião com representantes do Sintusp. O presidente da Adusp comparou a situação atual à vivida em 2009: “O que nós temos sentido nesse momento é algo similar ao que ocorreu em outros anos e que, no ano passado, culminou com a chamada da PM pela reitora da USP”.

O professor Comparato optou por apresentar propostas relativas à organização do poder na universidade. Por serem ligadas ao governo estadual, USP, Unesp e Unicamp “sofrem, necessariamente, influência política”, afirmou. O artigo 207 da Constituição Federal prevê autonomia didático-científica, administrativa, financeira e patrimonial das universidades, mas isso não ocorre nessas três instituições, porque “elas foram criadas como autarquias” e é “o governador quem nomeia o chefe das autarquias”, as quais “dependem do orçamento público do Estado”.

Patrimônio

Para eliminar a dependência, o professor propôs como solução uma mudança de status das universidades, que deveriam tornar-se fundações públicas, “cortando-se todos os vínculos com o Estado”. Esse modelo dependeria, contudo, de um patrimônio de valor expressivo, que garantisse a independência financeira da universidade.

Seria necessário, ainda, reformular a estrutura interna: “Quero chamar a atenção para um fato que em geral não é considerado e sobretudo é muito mal percebido entre alunos e fun­cio­nários não docentes. A universidade, como toda escola, é um órgão hierárquico, não é possível igualar todos os seus integrantes numa mesma situação de iguais direitos e deveres. Daí porque o esquema democrático jamais pode funcionar numa universidade. A quem se atribui a soberania? O corpo discente é passageiro. Além disso, necessariamente, há alguém que manda e alguém que deve obedecer, de acordo com a lei do regulamento. Então o grande problema da estrutura das universidades não é a falta de democracia, é a falta de controle de poder”.

Ele sugeriu a criação de duas ouvidorias centrais (uma para estudantes, outra para funcionários não docentes), e a instituição de um órgão encarregado de regulamentar o trabalho de funcionários não docentes, além de uma comissão de arbitragem para negociar conflitos de trabalho.

Conquistas

Claudionor Brandão relembrou o histórico de lutas e conquistas em greves nos últimos 20 anos. Para ele, o que está em jogo na greve atual é a universidade do futuro: “Os funcionários e os professores, com suas greves, têm impedido que se consolide algo que seria crucial para esse projeto de sucatear determinadas áreas da universidade: o arrocho salarial”.

Ele citou as conquistas salariais das greves de 1988 e 2004: reajustes de 80% e 24,5% respectivamente. “Se esse reajustes salariais não tivessem ocorrido, em que níveis estariam os salários hoje? As greves que temos feito de 2000 para cá têm impedido a evasão de bons professores e bons funcionários”.

No seu entender, duas das categorias estão fora da luta: “Uma parte da universidade, que são os estudantes, encontra-se totalmente anestesiada. Salvo honrosas exceções, os professores estão cooptados. A resistência que resta hoje são os funcionários, resistência que está se tentando quebrar com o corte de salário, com a ameaça de repressão, com multas sobre o sindicato, com processos, demissões”, acredita. Brandão defendeu a extinção da PM: “É uma força repressiva criada no tempo da Ditadura para reprimir o movimento social”.

Memória

Pedro Serrano questionou onde está a memória das pessoas, uma vez que a mobilização atual está significativamente inferior à de 2009. Segundo ele, os acontecimentos de 9/6/09, o ingresso da USP na Univesp e a nomeação de Rodas revelam a estrutura de poder antidemocrática da universidade e a forma truculenta como Reitoria e Governo do Estado têm lidado com o movimento social.

Thiago Silva, coordenador da APG, leu uma nota produzida pela atual gestão: “Lamentavelmente, após um ano da desastrosa entrada da PM no Campus, o problema permanece atual. O mentor da ideia, hoje reitor da USP, continua apostando na intransigência. Mas a violência das bombas de gás está se sofisticando. Agora, Rodas investe no corte de ponto, coleciona mandados de reintegração de posse e propõe um ultimato como se fosse negociação. Para nós, o conflito aberto só terá fim com a democratização da USP. Para dizer, com segurança, ‘PM no Campus nunca mais’ só com eleições Diretas para Reitor acompanhadas da democratização das estruturas de poder da Universidade”.

 

Informativo nº 308

EXPRESSO ADUSP


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