Democracia na USP
Agora, Alckmin quer cotas. E a USP?
O governador Geraldo Alckmin reuniu-se, em 4/12, com representantes da ong Educafro para apresentar os detalhes da proposta que prevê a implantação de 50% de cotas para alunos de escolas públicas, com recorte racial segundo a composição étnica do Estado, na USP, Unesp e Unicamp. A reserva será feita considerando o número de vagas em cada curso e turno, ou seja, 50% das vagas disponibilizadas em cada carreira serão direcionadas aos alunos de escolas públicas. A meta deverá ser alcançada gradualmente até 2016. “Se preciso, vou me acorrentar”, disse o governador, na reunião, sobre eventuais resistências das universidades públicas paulistas às cotas.
A reserva de 50% das vagas para egressos de escolas públicas irá considerar a composição étnica da população de São Paulo. Dentro dos 50% de vagas a serem preenchidas pelos cotistas, por meio do vestibular, 35% serão direcionados a afrodescendentes a partir de 2013.
Estão previstas três vias de acesso às vagas cotistas nos cursos e instituições de escolha. Além do vestibular no modelo atual, serão feitas “captações de alunos exemplares” em escolas públicas de diferentes regiões do Estado; e serão abertas vagas em um curso semi-presencial de dois anos seguindo o modelo conhecido nos Estados Unidos como college, que na versão paulista possivelmente será vinculado à Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). “A Univesp vai garantir o avanço da universidade pública”, vaticinou Alckmin.
Graças ao auxílio da nota do Enem, o college permitirá que, após o término do ensino médio, os estudantes de escolas públicas que quiserem entrar na universidade façam dois anos de curso semi-presencial para aprendizagem de conteúdo geral e de caráter técnico. O ingresso em uma das três universidades paulistas poderá ocorrer sem a necessidade de vestibular, se o aluno do college obtiver um rendimento médio igual ou superior a sete após os dois anos. Ao fim do primeiro ano das aulas, o estudante que quiser poderá optar por um diploma de formação técnica e ingressar no mercado de trabalho.
O Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis), da Unicamp, servirá de modelo para a captação, na rede pública, de alunos tidos como “de excelência”. As escolas indicarão seus melhores alunos para que tenham acesso direto às universidades, sem passar pelo vestibular. Não ficou claro, no entanto, como será a divisão das vagas, entre as três modalidades.
“Meritocracia”
Dentre os presentes na reunião estavam Frei David, diretor executivo da Educafro; Carlos Vogt, assessor do governador, coordenador geral da Univesp e ex-reitor da Unicamp; Luiz Carlos Quadrelli, secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia; e Heloisa de Souza Arruda, secretária de Justiça.
A ideia é que os reitores submetam o projeto à votação nos conselhos universitários, o quanto antes. A etapa é considerada difícil, uma vez que parcela substancial da comunidade acadêmica enxerga as cotas sociais e étnicas como uma ameaça à “meritocracia”. “Os reitores estão de acordo, mas precisamos trabalhar”, disse Vogt na reunião.
Hoje, apenas 28,6% dos alunos da USP são oriundos de escolas públicas. Na Unicamp, esses estudantes representam 31% dos matriculados e na Unesp 39%. A ideia do governo é de que até 2016 esses alunos preencham 50% das vagas por curso e turno. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, de 2006, ano em que a USP implantou o Programa de Inclusão Social (Inclusp), até 2011, apenas 87 alunos negros foram matriculados em cursos como Medicina, Direito e Engenharia — número que representa 0,9% dos matriculados nessas carreiras naquele período.
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