Nesta quarta-feira (22/7), debate promovido pela Frente Luiz Hirata discutirá projeto de ensino e pesquisa vinculado à “modernização do campo”, implantado na Esalq durante a Ditadura Militar

Hirata, assassinado sob tortura em 1971

Na próxima quarta-feira (22/7) às 18 horas, a Frente de Defesa da Democracia Luiz Hirata inicia um ciclo de debates sobre as consequências da Ditadura Militar na Universidade de São Paulo e particularmente na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba, lembrando os 50 anos do assassinato do aluno que empresta seu nome a esse coletivo. Militante do grupo de origem católica Ação Popular (AP), que fazia oposição à ditadura, Luiz Hirata foi assassinado sob tortura no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), na capital paulista, em 20/12/1971.

Neste primeiro evento, o professor Rodrigo Sarruge Molina, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), responderá a questões sobre sua tese de doutorado, “Ditadura, agricultura e educação: a Esalq-USP e a modernização conservadora do campo brasileiro (1964 a 1985)”, defendida na Faculdade de Educação da Unicamp em 2016. Molina considera que é fundamental o conhecimento profundo deste passado sombrio “para evitarmos que regimes ditatoriais, autoritários ou ilegítimos voltem a se instalar em nossa sociedade”.

A investigação de Molina baseou-se principalmente em fontes primárias do acervo das unidades da Esalq e do Arquivo Público do Estado de São Paulo: jornais, dossiês, relatórios, revistas, cartas, fotografias, mapas e atas da Congregação da Esalq. “Também foram aplicados questionários, realizadas entrevistas e vivência antropológica no meio institucional, seja dentro ou fora de seus muros”, explica ele no resumo da tese.

ResearchGate

Professor Rodrigo Sarruge Molina (UFES)

Arquivo pessoal

Professor Paulo Moruzzi Marques (Esalq)

“No decorrer de nossa pesquisa procuramos relacionar a Ditadura, a Agricultura e a Educação Superior Agrícola como fatores articulados ao projeto político e econômico dos militares, dos empresários e do imperialismo que objetivou a modernização do campo, mesmo que o ‘moderno’ estivesse acompanhado do ‘arcaico’, um fenômeno estrutural do capitalismo desenvolvido no Brasil”, diz Molina. “Neste percurso investigativo nos interrogamos: ‘quem são os esalqueanos e quais foram suas contribuições e resistências ao projeto da ditadura para o meio rural?’

Tais indagações levaram o pesquisador a analisar o período pré-golpe de 1964, quando ocorreram movimentações de funcionários do governo dos EUA e da extrema-direita brasileira dentro da Esalq, auxiliares na deposição do presidente João Goulart e perseguidores da esquerda esalqueana. “Após o golpe, analisamos o período ditatorial, quando o campus USP de Piracicaba passou por um grande plano de intervenção estadunidense via Usaid [United States Agency for International Development], que pretendeu implantar o sistema de Land Grant College System no Brasil. Foi neste período que os professores estrangeiros e os esalqueanos criaram novos cursos de graduação e a pós-graduação, com especial destaque para a área da energia nuclear aplicada ao campo (CENA)”.

Na avaliação de Molina, esses movimentos foram coordenados: “Tratou-se de um projeto de Estado a serviço dos empresários nacionais e internacionais, quando a Esalq aprofundou a prática do ensino e da pesquisa em benefício da agroindústria, especialmente a mutação genética de sementes, animais e o desenvolvimento de tecnologias rurais financiadas com dinheiro público, embora o povo estivesse marginalizado deste processo. Nesse sentido procuramos compreender o papel da Esalq como centro estratégico da classe dominante na formação de intelectuais orgânicos do ruralismo, sujeitos que atuam no interior da sociedade civil e política em cargos de direção empresarial ou estatal”.

Em síntese: “Seja fora da escola com o genocídio dos ‘povos da terra’ ou dentro da ‘Luiz de Queiroz’ com a perseguição e prisão de esalqueanos contrários ao regime, concluímos que a modernização capitalista do campo brasileiro foi resultado da aliança do imperialismo com as classes hegemônicas do movimento civil-militar de 1964”.

O ciclo de debates que se inicia nesta semana pretende, assim, jogar luz sobre estes e outros aspectos da Ditadura Militar, de modo a contribuir com um melhor conhecimento do período 1964-1985 e, desse modo, combater as narrativas difundidas pelo bolsonarismo, que falsificam e distorcem a história do período. No campo diretamente político, a Frente Luiz Hirata acaba de participar das atividades do “Dia Nacional de Mobilização Fora Bolsonaro e Mourão” (10/7).

“A Frente de Defesa da Democracia nasce com este propósito diante de ameaças flagrantes ao nosso frágil e incompleto regime democrático. Nesta ótica, trata-se de refletir e discutir o período trágico da ditadura como um meio de não regredir, mas avançar nas conquistas democráticas do país”, diz o professor Paulo Moruzzi Marques (Esalq), diretor regional da Adusp em Piracicaba.

EXPRESSO ADUSP


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