Perdemos a jornalista Rosana Bullara, servidora da USP e militante “de cuja coragem não se podia duvidar”

Rosana Bullara

 

A jornalista Rosana Bullara, servidora da USP ultimamente lotada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas — depois de trabalhar por muitos anos no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) e na Faculdade de Educação — faleceu nesta quarta-feira (10/3), possível vítima de Covid-19. Ex-diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Rosana era uma experiente e corajosa militante das lutas sindicais e de outras causas democráticas. Sua morte aos 62 anos consternou a direção e a militância do Sintusp, que emitiu nota de pesar.

Claudionor Brandão, diretor do Sintusp, postou numa rede social um pequeno texto em homenagem a ela. “Conheci a Rosana quando comecei a militância na Asusp [Associação dos Servidores], durante a preparação da greve da URP, em 1988. Além de militante, ela também era contratada para editar o jornal da associação. Mas só tive oportunidade de conversar com ela ao final da assembleia de encerramento da greve, no dia 16 de novembro daquele mesmo ano”, relata. “O assunto da conversa foi o fato que presenciei na véspera, na porta de uma escola do Jardim Arpoador, onde eu estava fazendo a boca de urna para as candidaturas do PT à Prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina e Luiz Eduardo [Greenhalgh]”.

Rosana votava naquele colégio, fato que Brandão desconhecia. “Quando a vi encostando seu carro bem perto da porta do colégio eu fui em sua direção para cumprimentar, foi aí que um dos PMs que faziam faziam a ‘segurança’ ali gritou: ‘Ei, pode tirar esse carro daí e procurar outro lugar para estacionar… Ou você é aleijada?’”

Vítima de paralisia infantil, dependente de muletas para se locomover, Rosana de pronto respondeu: “Tenho dois braços, duas pernas e um cérebro, então se tem algum aleijado aqui é você que não tem cérebro”, o que provocou a imediata reação do PM. “O milico partiu para cima e ela desceu do carro e parou ele com sua muleta encostada no peito do safado, que ficou meio sem ação, porque tudo mundo que estava por ali começou  a aplaudir e a gritar uma frase muito ouvida na época, ‘abaixo a repressão’, e o PM se afastou”, conta Brandão. Rosana então entrou e foi votar. “Essa era a companheira Rosana, alguém de cuja coragem não se podia duvidar!”, completou.

“Conhecia a companheira Rosana desde o final dos anos setenta e começo dos oitenta. Lembro-me dela em um ato durante a greve dos funcionários públicos do Estado e do município de São Paulo (eu era, então, servidor municipal)”, relembra outro diretor do Sintusp, Alexandre Pariol. “Neste dia, havíamos organizado um ato conjunto do movimento — que já era a maior greve ocorrida desde a histórica greve de 1979. Estávamos sob os governos Maluf no Estado e Reinaldo de Barros no município. Uma brutal repressão. Este ato conjunto estava acontecendo na Praça da Sé. De repente policiais militares com seus cassetetes começaram a fazer um grande cordão de isolamento, tentando tirar todos nós da Praça da Sé”, relata. 

“A Rosana se levantou, e com sua muletas, permaneceu ereta, enquanto que os policiais foram obrigados a desfazer a sua corrente.  Isto nos inspirou a continuar lutando, vendo a resistência daquela figura frágil., fisicamente, mas muito forte na sua resistência. E assim sempre foi a Rosana. Uma das maiores lutadoras e guerreiras que conheci

Nota de pesar da Diretoria do Sintusp

A Diretoria do Sintusp manifesta seu profundo pesar pelo falecimento da companheira Rosana Bullara, ocorrido nesta quarta, dia 10.

Rosana era uma militante de longa data, esteve presente nas lutas da nossa categoria e da classe trabalhadora desde o final dos anos 70, ainda no período da ditadura militar.

A companheira foi diretora do sindicato, e também jornalista da entidade.

Quem participou das nossas lutas deve se lembrar do seu famoso Monza, que acompanhou tantas mobilizações, atos e greves da nossa categoria, e até mesmo momentos de enfrentamento com a repressão policial, demonstrando toda a coragem e disposição de luta da companheira.

Expressamos aqui nossa solidariedade aos seus vários colegas de trabalho ao longo de todos esses anos de Universidade, bem como a seus familiares e amigos.

Companheira Rosana Bullara, Presente!

EXPRESSO ADUSP


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