A demissão de um docente do Instituto de Biociências (IB) pela Reitoria no dia 7/6, ao final de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) iniciado em 2019 que concluiu serem procedentes as denúncias de injúria e de ameaças que lhe eram imputadas, “pode ser considerado um marco” na história da Universidade de São Paulo, afirma manifesto recém publicado na plataforma de abaixo-assinados Change.org. “Ignorar ou encontrar desculpas para as ações do assediador significa abrir caminho para que ele continue fazendo o mesmo”, adverte, e, assim, sejam punidas “as verdadeiras vítimas”.

As professoras Maria Elice Brzezinski Prestes e Maria Cristina Arias, que foram alvo de injúrias do professor, são as autoras do “Manifesto sobre violência de gênero contra mulheres”. O documento, porém, recebeu as assinaturas de outros 57 docentes do IB, homens e mulheres, bem como do Centro Acadêmico de Biologia (Cabio); dos representantes discentes da graduação e da pós-graduação; de pós-doutorando(a)s; dos representantes do(a)s funcionário(a)s no Conselho Técnico-Administrativo (CTA) e na Congregação da unidade e no Conselho de Base do Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp); e dos coletivos IB Mulheres, Trepadeiras, Negro Bitita e Biodiversidade.

De acordo com a petição, que continua aberta a novas assinaturas que a endossem, o assédio, moral ou sexual, “foi identificado como fenômeno destrutivo no ambiente de trabalho a partir da década de 1990”, e a partir de 2010 “a violência de gênero desencadeou um movimento mundial”, estabelecendo convenções, protocolos e leis.

“Na USP, surgiram grupos seriamente engajados no combate à violência de gênero. Por exemplo, desde 2013 e 2017, o Coletivo Trepadeiras e o IB Mulheres trabalham no acolhimento de pessoas vítimas de violência e na promoção da discussão sobre o assunto dentro do instituto. Além disso, iniciativas comunitário-acadêmicas, como a Rede Não Cala e a USP Mulheres, promovem ações em toda a Universidade. Em dezembro de 2020, a USP ofereceu apoio institucional com o Protocolo de Violência de Gênero contra a Mulher”.

Foi neste contexto global e local, explica o manifesto, que se deu a demissão. No entender da(o)s signatária(o)s, o “reconhecimento da seriedade desse tipo de comportamento” constitui uma importante inflexão.  “A mudança cultural promovida por esse episódio sinaliza que a USP está aberta à modernidade e que os valores de nossa comunidade são o pilar de sua respeitabilidade e prestígio. É em nome desses valores que falamos”, conclui.

“Manifesto sobre violência de gênero contra mulheres” (íntegra)

Em um local de trabalho, o assédio é definido por Marie-France Hirigoyen (1998) como: "Qualquer conduta abusiva, manifestando-se geralmente por meio de comportamento, palavras, atos, gestos, escritos que possam prejudicar a personalidade, a dignidade ou a integridade física ou mental de uma pessoa, colocar em risco o seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho ".

O assédio sexual, por sua vez, é mais um passo na perseguição moral. Relacionados a ambos os sexos, muitas vezes não condicionados a obter favores de natureza sexual, mas a fazer valer o poder do outro. O assédio sexual por um professor adiciona uma dimensão hierárquica ao poder que ele pensa ter sobre o histórico escolar de um aluno. Mais do que isso, desgasta a ação pedagógica de toda a instituição de ensino.

O assédio, seja moral ou sexual, foi identificado como fenômeno destrutivo no ambiente de trabalho a partir da década de 1990. Como resultado, países anglo-saxões e nórdicos começaram a estudar o fenômeno. Em 2010, a violência de gênero desencadeou um movimento mundial, estabelecendo convenções, protocolos e leis.

Na USP, surgiram grupos seriamente engajados no combate à violência de gênero. Por exemplo, desde 2013 e 2017, o Grupo Trepadeiras (Grupo de Plantas Trepadeiras) e o IB Mulheres (IB Mulheres) trabalham no acolhimento de pessoas vítimas de violência e na promoção da discussão sobre o assunto dentro do Instituto. Além disso, iniciativas comunitário-acadêmicas, como a Rede Não Cala e a USP Mulheres, promovem ações em toda a Universidade. Em dezembro de 2020, a Universidade de São Paulo ofereceu apoio institucional com o Protocolo de Violência de Gênero contra a Mulher.

Neste contexto global e local, o recém-anunciado despedimento de um professor da Universidade resultou de um processo administrativo-disciplinar desencadeado por comportamentos inadequados.

O reconhecimento da seriedade desse tipo de comportamento pela Universidade de São Paulo pode ser considerado um marco em sua história. Ignorar ou encontrar desculpas para as ações do assediador significa abrir caminho para que ele continue fazendo o mesmo e penalize as verdadeiras vítimas.

A mudança cultural promovida por esse episódio sinaliza que a USP está aberta à modernidade e que os valores de nossa comunidade são o pilar de sua respeitabilidade e prestígio. É em nome desses valores que falamos.

Maria Elice B. Prestes

Cristina Arias

Endossam Grupos e Coletivos:

  • IB Mulheres
  • Coletivo Trepadeiras – IB-USP
  • Coletivo Negro Bitita – IB-USP
  • Coletivo Biodiversidade – IB-USP
  • Centro Acadêmico da Biologia – CABIO
  • Representantes Discentes da Graduação – IB-USP
  • Representantes Discentes da Pós-graduação – IB-USP
  • Pós-doutorando (a) s do IB-USP do PNPD nos Programas de Pós-graduação de Zoologia, de Ecologia, e de Fisiologia
  • Representantes de funcionário (a) s do IB-USP no CTA, Congregação e CDB (Sintusp): Leandro Tadeu, Marcelo Cardagi, Paulo Diaz, Patrícia Biral Varela

Docentes:

  • Renata Pardini: Departamento de Zoologia
  • Daniel JG Lahr: Departamento de Zoologia
  • Fernando PL Marques: Departamento de Zoologia
  • Maria D. Vibranovski: Departamento de Genética e Biologia Evolutiva
  • Ricardo Pinto da Rocha: Departamento de Zoologia
  • Alessandra Fernandes Bizerra: Departamento de Zoologia
  • Sónia Andrade: Departamento de Genética e Biologia Evolutiva
  • Paulo Inácio de Knegt López de Prado: Departamento de Ecologia
  • Silvia Cristina R. de Souza: Departamento de Fisiologia
  • Maíra Batistoni e Silva: Departamento de Fisiologia
  • André Frazão Helene: Departamento de Fisiologia
  • Jean Paul Metzger: Departamento de Ecologia
  • José Eduardo Marian: Departamento de Zoologia
  • Paulo R Guimarães Jr: Departamento de Ecologia
  • Mônica de Toledo Piza Ragazzo: Departamento de Zoologia
  • Daniela Lopes Scarpa: Departamento de Ecologia
  • Carlos Ribeiro Vilela: Departamento de Genética
  • Cristiane Calixto: Departamento de Botânica
  • Silvio Shigueo Nihei: Departamento de Zoologia
  • Adriana Maria Zanforlin Martini: Departamento de Ecologia
  • Fernando Ribeiro Gomes: Departamento de Fisiologia
  • Rodrigo Cogni: Departamento de Ecologia
  • Maria Magdalena Rossi: Departamento de Botânica
  • Tiago B. Quental: Departamento de Ecologia
  • Michael Hrncir: Departamento de Fisiologia
  • José Guilherme Chaui-Berlinck: Departamento de Fisiologia
  • Gisele Akemi Oda: Departamento de Fisiologia
  • Alexandre Adalardo de Oliveira: Departamento de Ecologia
  • Suzana Ursi: Departamento de Botânica
  • Lucile Maria Floeter Inverno: Departamento de Fisiologia
  • Igor Cesarino: Departamento de Botânica
  • Lygia V Pereira: Departamento de Genética
  • André C. Morandini: Departamento de Zoologia
  • Márcio Reis Custódio: Departamento de Fisiologia
  • Rui Sergio Sereni Murrieta: Departamento de Genética e Biologia Evolutiva
  • Beatriz Pacheco Jordão: Departamento de Fisiologia
  • Mariana Cabral de Oliveira: Departamento de Botânica
  • Déborah Yara AC dos Santos: Departamento de Botânica
  • Paulo Takeo Sano: Departamento de Botânica
  • Antonio C. Marques: Departamento de Zoologia
  • Federico David Brown Almeida: Departamento de Zoologia
  • Glauco Machado: Departamento de Ecologia
  • Michel Naslavsky: Departamento de Genética e Biologia Evolutiva
  • Eduardo SA Santos: Departamento de Zoologia
  • Diogo Meyer: Departamento de Genética e Biologia Evolutiva
  • Gregório Ceccantini: Departamento de Botânica
  • Rosana Louro Ferreira Silva: Departamento de Zoologia
  • João Miguel de Matos Nogueira: Departamento de Zoologia
  • Gabriel Marroig: Departamento de Genética e Biologia Evolutiva
  • Tatiana Teixeira Torres: Departamento de Genética e Biologia Evolutiva
  • Sergio Tadeu Meirelles: Departamento de Ecologia
  • Taran Grant: Departamento de Zoologia
  • Tábita Hünemeier: Departamento de Genética e Biologia Evolutiva
  • Miguel Trefaut Rodrigues: Departamento de Zoologia
  • Cristina Yumi Miyaki: Departamento de Genética e Biologia Evolutiva
  • Rachel Montesinos: Departamento de Zoologia
  • Isabel Alves dos Santos: Departamento de Ecologia

EXPRESSO ADUSP


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