Em reunião temática do Co sobre graduação, pró-reitor apresenta “Programa de Desenvolvimento Profissional Docente”, a ser implementado ainda neste ano
Reunião temática discutiu números e propostas para a graduação (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

O pró-reitor de Graduação da USP, Aluisio Cotrim Segurado, anunciou na reunião temática sobre graduação do Conselho Universitário (Co) da última terça-feira (25/4) uma espécie de “surpresa” para a categoria docente da universidade: a criação do “Programa de Desenvolvimento Profissional Docente” (PDPD), cuja implantação deve ocorrer, de acordo com a Reitoria, já no segundo semestre deste ano.

Embora sua adoção seja iminente, o programa foi apresentado por meio de slides, somente em linhas gerais, sem detalhamentos ou aprofundamentos. De acordo com Segurado, a proposta já foi aprovada no Conselho de Graduação (CoG) e agora tramita nas câmaras do Conselho de Pós-Graduação (CoPG) — uma vez que a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG) é “parceira” na iniciativa — para depois ser encaminhada ao Co.

As diretrizes “já foram concebidas”, disse o pró-reitor, e foram apenas citadas na reunião temática desta terça — que teve, além do(a)s integrantes do Co, a participação do CoG e de diretores da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest).

São elas, conforme os slides apresentados, a “concepção ampla da formação docente” e a “organização de ações formativas em três blocos”. Os blocos — “1) conteúdos específicos da área”, “2) ciências da educação” e “3) métodos de ensino” — serão ministrados em módulos.

Os módulos “que estão sendo programados”, salientou Segurado, serão compostos portanto por “conteúdos específicos do processo pedagógico, conteúdo específico das áreas de formação relacionadas às ciências da educação e aos métodos de ensino, mais uma vez dando oportunidade, por exemplo, de adequarmos a questão do ensino híbrido e a incorporação de outras tecnologias”.

O pró-reitor não informou quem vai ministrar os módulos, qual será a sua duração ou como se dará a sua operacionalização nas diferentes áreas do conhecimento e mesmo nos campi da universidade.

O PDPD será um programa permanente, “ofertado continuamente no formato modular”. Esses “conteúdos modulares poderão ser do interesse do corpo docente já atuante na universidade”, podendo o(a)s professore(a)s participarem a qualquer momento.

Inicialmente, no entanto, o “público preferencial” do PDPD, conforme explicou Segurado, serão o(a)s novo(a)s docentes contratado(a)s pela USP até o final da gestão reitoral Carlos Gilberto Carlotti Jr.-Maria Arminda do Nascimento Arruda, em 2025 — um total previsto de 876 contratações.

“Ofertar aos e às novos e novas docentes um conteúdo modular de desenvolvimento docente nos parece uma oportunidade única para propiciar um adequado acolhimento dos novos colegas e ao mesmo tempo lhes dar um sentido de pertencimento à nossa instituição com a oferta de uma possibilidade de desenvolvimento individual na atividade docente”, disse.

Participação no PDPD será levada em conta na avaliação e na progressão na carreira

A fala de Segurado sugeriu que a adesão ou participação do(a) docente no PDPD será voluntária — porém, a “pegadinha” é que essa participação pode (ou deve) ter peso nos processos de progressão na carreira.

Nas palavras do pró-reitor, o Grupo de Trabalho de onde se originou a proposta “de atividades formativas” se articulou “com as instâncias responsáveis pela avaliação institucional e avaliação docente num esforço de desenvolvimento de um programa institucional permanente de desenvolvimento da prática docente profissional” que “pudesse ser entendido pela CERT [Comissão Especial de Regimes de Trabalho] e pela CAD [Câmara de Atividades Docentes] como elemento valioso para o desenvolvimento da carreira dos docentes e em função disso ser considerado na análise dos processos de avaliação para a progressão na carreira dos respectivos docentes”.

Segurado também identifica, “no momento em que o PDPD está sendo implementado e ofertado, a oportunidade de recomposição dos projetos acadêmicos individuais dos docentes e dos planos acadêmicos institucionais para [que] possam contemplar em que medida a unidade valorizará a opção do docente por um perfil que possa ter um foco prioritário no ensino de graduação”.

De acordo com o pró-reitor, menos de 10% do(a)s professore(a)s da USP “de fato priorizaram um dos pilares da atividade docente como caracterizando o seu perfil dominante”, conforme previsto no Estatuto do Docente. “Podemos especular que a cultura de que os diferentes perfis docentes seriam igualmente valorizados na universidade do ponto de vista institucional na progressão das carreiras talvez não estivesse suficientemente consolidada de modo a transmitir tranquilidade aos docentes para que optassem mais livremente por perfis de atividade predominante”, prosseguiu.

O PDPD surge, portanto, avalia Segurado, num momento em que, a partir dos novos projetos quinquenais do(a)s docentes, “caberá aos departamentos e unidades refletirem sobre isso e estimularem os docentes que possam eventualmente se identificar com perfis de diferentes naturezas”.

Segurado salientou ainda que o PDPD “não está desprezando as atividades já existentes nos GAPs [Grupos de Apoio Pedagógico] e outros programas de desenvolvimento docente” já existentes nas unidades, mas quer incorporá-los à nova modalidade.

USP deve adotar “Vestibular Paulista”, com avaliação seriada em conjunto com Unesp e Unicamp

Durante a reunião temática, o reitor Carlotti Jr. comunicou que a USP está conversando com a Unesp, a Unicamp e a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para criar o chamado “Vestibular Paulista”.

A proposta é reservar parte das vagas atualmente destinadas pela universidade, para ingresso por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM-USP), ao público de cerca de 400 mil estudantes que concluem o ensino médio, anualmente, na rede pública estadual.

No momento, 70% das vagas ofertadas pela USP são preenchidas pelo vestibular da Fuvest e 30% pelo ENEM-USP. Esse percentual é o teto, mas, segundo o pró-reitor de Graduação, há unidades que destinam percentual menor à modalidade ENEM-USP — em alguns casos, apenas 10%. Além disso, as cotas para candidato(a)s PPI também são distribuídas de forma desigual pelas unidades.

“O percentual de vagas alocado para a modalidade não Fuvest foi discricionário e dependeu da decisão de cada unidade. Algumas unidades ofertaram número muito reduzido para as modalidades alternativas de ingresso, inclusive para as categorias Escola Pública [EP] e PPI, fazendo com que por vezes a relação candidato/vaga para a modalidade ENEM-USP PPI fosse quatro vezes maior do que a ampla concorrência da Fuvest”, revelou Segurado, ainda na primeira parte da reunião.

“Me parece um grande equívoco essa oferta, que fez com que um mecanismo de inclusão acabasse se transformando num mecanismo de exclusão, porque com aquela relação candidato/vaga para uma vaga PPI, o que provavelmente estamos fazendo é afastando os candidatos da inscrição a essa modalidade de ingresso”, prosseguiu.

“Não consigo entender essa lógica”, disse por sua vez o reitor sobre a adoção de percentuais diferentes pelas unidades. Uma das justificativas da criação do Vestibular Paulista, de acordo com Carlotti, seria exatamente “a equalização da entrada dos novos alunos”

Secretaria da Educação pode oferecer bolsas a estudantes da USP

No novo modelo, 70% das vagas permaneceriam sendo preenchidas via Fuvest, 15% seriam destinadas a candidato(a)s de outros Estados via ENEM-USP e 15% ficariam com o Vestibular Paulista. Nesse último grupo, que teria algo em torno de 1.500 vagas, a distribuição seria feita entre aluno(a)s da rede pública estadual e das Escolas Técnicas Estaduais (ETECs), respeitando-se a proporção do número de matrículas em cada sistema. As metas de inclusão de aluno(a)s egresso(a)s da escola pública e PPI seriam mantidas.

A Unesp e a Unicamp “estão dispostas a fazer o mesmo trajeto”, segundo Carlotti Jr., adotando proporções diferentes.

O Vestibular Paulista incluiria ainda a avaliação seriada de todo(a)s o(a)s aluno(a)s da rede pública desde o primeiro ano do ensino médio. O reitor considera que com esse método seria possível identificar com antecedência o(a)s aluno(a)s com mais condições de ingressar na USP e oferecer, na sequência do ensino médio, cursos complementares e atividades de extensão que aumentassem suas chances de concorrer às vagas.

Dos cerca de 105 mil candidato(a)s ao vestibular da USP, “talvez metade seja da escola pública”, disse o reitor. Esse número corresponderia a cerca de 13% do total de concluintes do ensino médio da rede pública a cada ano. “É um valor [sic] muito baixo, não podemos manter esse valor. Nesse [novo] modelo teríamos 400 mil estudantes enxergando a USP como uma possibilidade”, acredita.

Carlotti Jr. informou ainda que a Secretaria da Educação avalia oferecer bolsas de permanência estudantil para o(a)s aluno(a)s que ingressassem pelo Vestibular Paulista. Em princípio, seriam bolsas válidas por três anos — “se bem negociado, de repente [estendemos] para toda a graduação”, disse o reitor.

Outra possibilidade que está sendo discutida com o secretário Renato Feder é a concessão de bolsas do governo estadual para cerca de 10 mil aluno(a)s de licenciatura da USP com atuação no ensino público.

A reunião temática sobre graduação, que ocupou manhã e tarde do(a)s participantes, foi a primeira nesse formato que a Reitoria promoveu no Co. As áreas cobertas pelas demais pró-reitorias — Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação, Cultura e Extensão Universitária e Inclusão e Pertencimento — serão igualmente objeto desse tipo de encontro.

Nessa primeira reunião temática, Segurado e o pró-reitor adjunto de Graduação, Marcos Neira, fizeram uma espécie de “jogral”, alternando-se na apresentação de uma grande lista de temas e propostas — incluindo, além dos assuntos abordados neste texto, uma radiografia dos números da graduação da USP; propostas de modificação ou atualização dos currículos; uso das tecnologias de informação e comunicação para ensino híbrido; “incentivos” da Reitoria para a adoção de mudanças; curricularização da extensão etc.

Nos próximos dias, o Informativo Adusp vai publicar reportagens sobre outras das questões discutidas na reunião temática do Co sobre graduação.

EXPRESSO ADUSP


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