Carreira docente
Em questionário sobre a progressão horizontal, 90% de 527 docentes desaprovam ranqueamento
Nesta segunda-feira (23/11), o Fórum Docentes USP 2009-2018 tornou públicos os resultados de um questionário sobre o processo em curso de progressão horizontal instaurado pelo Edital de Avaliação para Progressão Horizontal na Carreira Docente, divulgado em 20/5/2020 e depois atualizado por comunicados da Comissão Permanente de Avaliação (CPA). Respondido por 527 docentes, o questionário revela forte desaprovação da metodologia adotada pela CPA. Nessa mesma data o Fórum encaminhou ao chefe de Gabinete, Marcos Tavares, solicitação de audiência com o reitor Vahan Agopyan para tratar do assunto, “com certa urgência”.
Orelatório final destaca que, restando “pouco menos de 40 dias antes do prazo final para as submissões”, a maioria dos docentes que participaram da consulta não considera suficientemente claros os critérios para progressão, além de discordarem do ranqueamento “e da competição entre professores”, bem como o fato de que “a possível progressão dos docentes com mérito para tal terá um impacto pequeno no orçamento da USP”, conforme os dados apresentados pelo professor Marcílio Alves, membro e ex-presidente da Câmara de Avaliação Docente (CAD), durante o Encontro de Docentes USP 2020 realizado em 28/10, pois “tais progressões consumiriam menos de 1%ٍ do orçamento da USP”.
Dos respondentes ao questionário, “37,6% não consideram que estão claros os critérios para um possível ordenamento dos docentes; 31,9% afirmaram concordar com a progressão, mas que se deve buscar garantir a progressão de todos que tiverem mérito e criticam a possibilidade de ranqueamento”, informa o relatório final. “Ainda, 20,9% dos docentes só concordam com a progressão se todos os colegas que obtiverem mérito progredirem. Menos de 6% concordam com a maneira [com] que a USP está propondo o processo de progressão horizontal”.
Nada menos do que 107 docentes ou cerca de 20% dos participantes, índice relativamente alto, fizeram comentários livres no espaço criado com esta finalidade no questionário. “Considero que qualquer ranqueamento pode resultar em injustiças. Como medir e comparar o desempenho de diferentes docentes, que pesquisam em áreas diferentes, publicam em revistas diferentes? Como medir e comparar a qualidade das aulas e cursos oferecidos? Como medir e comparar docência, pesquisa, formação de recursos humanos, extensão e gestão? O que será priorizado?”, questionou um(a) docente.
“O ranqueamento é perverso, uma aberração que coloca uns professores contra outros”, disse outro(a).“Teve posicionamentos dos conselhos de departamento e da congregação, todas contrárias ao ranqueamento e apontando vícios formais do Edital, como não prever vagas”, registrou uma das manifestações. No mesmo sentido, alguém lembrou: “É generalizada a sensação de que o processo não incluiu suficientemente o retorno das unidades e departamentos, que nas discussões elaboraram uma série de sugestões pertinentes sobre a progressão”. Chama atenção, diz o relatório final, o fato de “27,9% dos docentes afirmarem que nenhuma discussão está ocorrendo em suas unidades sobre a progressão e 48,8% descreverem que há alguma discussão, mas muito limitada”.
Iniciativa confrontou machismo institucional dos processos de avaliação
Um questionamento importante do questionário confrontou diretamente os pressupostos burocráticos e o machismo institucional das avaliações conduzidas pela universidade, ao abordar o impacto da maternidade sobre o desempenho da carreira das docentes mulheres: “Você é a favor de sugerirmos que o período avaliado aumente em 1) 2 anos (para cada filho) para as docentes que tiveram filhos no período? 2) 1 ano (para cada filho) para as docentes que tiveram filhos no período? 3) Sou contra”.
A esse respeito, o relatório final avalia que é “também questionável avaliar-se docentes em um ano de pandemia mundial em um momento em que as creches não estão funcionando, sacrificando docentes que possuem filhos de pouca idade”, uma vez que “mães docentes estarão sendo avaliadas e ranqueadas numa lista junto com outros professores em condições completamente desiguais neste ano atípico devido ao Covid-19”.
Os resultados às perguntas reproduzidas acima foram encorajadores: “36,8% sugeriram que deveria ser acrescido em dois anos (para cada filho) o intervalo de tempo avaliado das docentes que tiveram filhos no período, e 40,2% acreditam ser justo aumentar o intervalo de avaliação em um ano (para cada filho)”. Os contrários a ambas as propostas somaram 23%.
Outro resultado muito expressivo é que 90% dos participantes responderam afirmativamente à pergunta “Devemos solicitar uma reunião com o reitor para tratar (principalmente) dos casos de docentes com mérito possivelmente não progredirem devido às limitações do orçamento USP?”
“A esmagadora maioria não vê como justo o ordenamento/competição entre colegas”
Na mensagem encaminhada ao Gabinete do Reitor, o professor Rodrigo Bissacot, um dos responsáveis pelo Fórum Docentes USP 2009-2018, sintetiza as conclusões a que o grupo chegou: “As informações obtidas falam por si só. Uma parcela não trivial de professores não está esclarecida sobre o processo/critérios da progressão, há ausência de informações/discussões em muitas unidades, a esmagadora maioria não vê como justo/correto o ordenamento/competição entre colegas com a possibilidade de docentes com mérito não progredirem”.
O e-mail enviado ao chefe de Gabinete coloca em evidência, ainda, a questão das docentes mães: “Outro ponto é o fato da progressão estar avaliando docentes em um período de pandemia onde creches não estão funcionando, colocando em clara desvantagem docentes com filhos de pouca idade, principalmente as docentes mães”, diz.
“Sobre este último ponto, estou anexando um documento adicional elaborado pelas docentes da USP”, continua Bissacot. “O texto conta com o apoio de algumas centenas de assinaturas e primordialmente sugere: 1. Que haja representatividade de gênero nas comissões de avaliação das Unidades e um melhor equilíbrio de gênero na Câmara de Atividades Docentes;2. Que o período observado para a avaliação da produção seja estendido em 18 meses por filho nascido ou adotado no período compreendido ao de avaliação; 3. Que o período observado para a avaliação da produção seja estendido em 12 meses para as docentes mulheres, devido a dificuldades que elas têm enfrentado na pandemia, assim, o período avaliativo seria de 2015 a 2020”.
A pedido dos organizadores, a Adusp divulgou o questionário por meio de um Expresso Adusp encaminhado por correio eletrônico em 4/11.
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