Conjuntura Política
Governo decide exonerar diretor do INPE
02/08/2019 17h15
Ricardo Galvão, professor do Instituto de Física da USP, foi comunicado da decisão em reunião com o ministro Marcos Pontes nesta sexta (2/8). Há várias semanas Galvão era alvo de ataques por conta da divulgação dos altos índices de desmatamento da Amazônia, que a cúpula do Planalto considera "mentirosos". Coalizão Ciência e Sociedade lamenta a exoneração e a postura do governo em relação ao meio ambiente
O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Ricardo Osório Galvão, será exonerado do cargo pelo governo. A decisão foi anunciada nesta sexta (2/8), depois de reunião entre Galvão e o ministro Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, em Brasília.
"É claro que, diante da maneira como eu me manifestei com relação ao presidente, criou-se um constragimento que é insustentável", disse Ricardo Galvão em breve conversa com os jornalistas depois do encontro. "No entanto, eu tinha a preocupação muito grande [de] que isso fosse respingar no INPE. Não vai acontecer. Inclusive nós discutimos em detalhes como vai ser a continuação da administração", prosseguiu, dizendo que sugeriu ao ministro um nome para o cargo.
Ricardo Galvão, que é docente do Instituto de Física da USP, foi nomeado para a direção do INPE em 2016 pelo então ministro Gilberto Kassab. Seu mandato iria até 2020.
Para general, dados são "manipulados"
A decisão de exonerar o professor foi tomada após uma longa sequência de críticas e questionamentos da cúpula do governo aos dados de desmatamento da Amazônia. Já no dia 3/7, em entrevista publicada pela BBC Brasil, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, afirmou que "esses índices de desmatamento da Amazônia são manipulados".
Nas semanas seguintes, o próprio Jair Bolsonaro acusou o instituto de divulgar informações que não correspondem à realidade. "A questão do INPE, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos, e nós vamos chamar aqui o presidente do INPE para conversar sobre isso, e ponto final nessa questão", declarou, entre outras afirmações disparatadas.
Galvão respondeu, afirmando numa entrevista que Bolsonaro fazia "acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira". O professor também ressaltou que o capitão reformado não tem qualificação para fazer análise de dados e precisa respeitar "um senhor de 71 anos, professor titular da Universidade de São Paulo, membro da Academia Brasileira de Ciências, presidente da Sociedade Brasileira de Física durante três anos, membro do Conselho Científico da Sociedade Europeia de Física durante três anos".
Não faltou também uma farpa ao anúncio da indicação de um dos filhos de Bolsonaro para ocupar a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos: "Todos os diretores dessas unidades de pesquisa não são escolhidos por indicação política ou porque o pai deles quis dar um filé mignon pra eles", fustigou.
Em coletiva à imprensa no dia 1/8, véspera da decisão de exonerar Galvão, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, voltou a contestar os índices de desmatamento divulgados pelo INPE e anunciou que o governo vai adotar um novo modelo de monitoramento, com a contratação de serviços por satélites.
Na saída da reunião com Pontes, Galvão disse que o ministro tem "alta capacidade técnica" e que "concorda inteiramente com os dados do INPE". "Foi só uma questão simples de comunicação que houve e que nós esperamos corrigir. Nós temos que aprender com os erros e temos que corrigir no futuro", enfatizou.
O trabalho do INPE e de Ricardo Galvão foi defendido por várias entidades do mundo científico e acadêmico brasileiro. Uma das manifestações partiu da Coalizão Ciência e Sociedade, integrada por 65 pesquisadores de todas as regiões do Brasil, vários deles pertencentes à USP. No dia 5/7, o grupo divulgou o artigo "O governo e o desmatamento: a negação como mecanismo de defesa", no qual afirma: "A negação da realidade objetiva do desmatamento nos cobra um alto custo, na diminuição do bem-estar da população brasileira, da credibilidade e reputação da comunidade científica nacional e de nossas perspectivas de inserção como parceiro comercial em um mundo onde a sustentabilidade abre as portas para mercados importantes e cooperações relevantes".
A nota é encerrada com um comentário sobre a coletiva de imprensa do dia 1/8, que teve, além de Salles, a presença de Jair Bolsonaro e dos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Augusto Heleno. A respeito do que ali se disse, considera a Coalizão, "cabe recordar o escritor polonês Henryk Sienkiewicz, prêmio Nobel de Literatura, no épico Quo Vadis: 'Em tua narrativa, a mentira flutua sobre a verdade como óleo sobre água'."
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