Novo presidente da Capes é defensor da teoria do design inteligente, espécie de roupagem atualizada do criacionismo

Benedito Guimarães Aguiar Neto deixa a Reitoria da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que ocupava desde 2011, para dirigir a agência do MEC, às voltas com problemas orçamentários e corte de bolsas. O novo presidente acredita que “a ideia da existência de um design inteligente pode estar presente a partir da educação básica”, num contraponto à teoria da evolução

portal Mackenzie
Benedito Guimarães Aguiar Neto, novo presidente da Capes

Novo presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação (MEC), o professor Benedito Guimarães Aguiar Neto é um defensor da chamada Teoria do Design Inteligente (TDI), definida em artigo de Roney Seixas Andrade e Wilmar do Valle Barbosa, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), como a “terceira fase do movimento criacionista”. “O movimento do design inteligente é marcado por claras implicações teológico-políticas uma vez que seus membros se veem de fato em uma batalha contra a ‘doença social’ do materialismo e do modernismo”, escrevem os autores.

Aguiar Neto, cuja nomeação para a Capes foi publicada nesta sexta (24/1) no Diário Oficial da União, era desde 2011 reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Em outubro de 2019, a universidade realizou seu II Congresso de Design Inteligente. Na ocasião, o então reitor declarou, de acordo com texto publicado no portal da instituição: “Queremos colocar um contraponto à teoria da evolução e disseminar que a ideia da existência de um design inteligente pode estar presente a partir da educação básica, de uma maneira que podemos, com argumentos científicos, discutir o criacionismo”. Aguiar Neto afirmou também que o Mackenzie ampliaria “os estudos da TDI”.

O mesmo congresso recebeu o bioquímico norte-americano Michael Behe, anunciado no título da matéria como “maior expoente do design inteligente”. Também de acordo com o portal, Behe declarou que “grandes afirmações darwinistas se apoiam numa imaginação indisciplinada”. Portanto, prossegue o texto, “os estudos celulares mostrariam que a teoria evolucionista possui diversas falhas ou argumentos que não são bem explicados”.

No congresso foram lançados os livros A caixa preta de Darwin, de autoria de Behe, e Fomos planejados: a maior descoberta científica de todos os tempos, de Marcos Eberlin, coordenador do Núcleo de Pesquisa Mackenzie em Ciência, Fé e Sociedade (Discovery-Mackenzie).

Eberlin e Aguiar Neto são coautores do artigo “A informação bioquímica: sinal evidente de design inteligente”, que integra livro com a primeira coletânea organizada pela Sociedade Brasileira do Design Inteligente (TDI Brasil), cuja publicação está prevista para maio deste ano pela Editora Mackenzie.

Aproximação com evangélicos e empresários da educação

 Como registra a Folha de S. Paulo, a substituição de Anderson Correia por Aguiar Neto na presidência da Capes – que no ano passado cortou 8% de suas bolsas – marca mais um episódio na dança das cadeiras dos cargos importantes do MEC em pouco mais de um ano do governo Bolsonaro.

O próprio posto de ministro foi ocupado inicialmente por Ricardo Vélez Rodríguez, que ficou pouco mais de três meses na função, sendo substituído por Abraham Weintraub – que, entre uma ofensa e outra a jornalistas e internautas em entrevistas ou aparições nas redes sociais, liderou o festival de erros da última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

A nomeação do novo presidente da Capes também sinaliza maior aproximação do governo com setores evangélicos e com as instituições privadas na educação superior – a irmã do ministro Paulo Guedes, Elizabeth Guedes, preside a Associação Nacional da Universidades Particulares (ANUP), enquanto Aguiar Neto já presidiu a Associação Brasileira de Instituições Educacionais Evangélicas (ABIEE). O slogan “Deus acima de todos” parece ecoar por aqui.

Defesa do “Future-se” e dos modelos de empreendedorismo e inovação

O novo presidente da Capes tem graduação e mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e doutorado pela Universidade Técnica de Berlim (Alemanha), além de pós-doutorado pela Universidade de Washington (Estados Unidos). É professor titular aposentado da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). No Mackenzie, entre os projetos de pesquisa citados em seu Currículo Lattes estão o de “Modelos de integração universidade-empresa em ecossistemas de empreededorismo e inovação em ambientes universitários” e o de “Ética, razão de Estado e empreendedorismo”.

Referindo-se a esses temas, por sinal, Aguiar Neto fez uma defesa pública do programa “Future-se”, lançado pelo MEC no ano passado, afirmando que o projeto poderia “acarretar muitos benefícios”, sendo especialmente pertinente “o item relativo à criação de ecossistemas de inovação e empreendedorismo”.

“Esperamos que o ‘Future-se’ realize-se com pleno êxito. Afinal, as universidades brasileiras estão sedentas por serem reconhecidas de modo amplo como produtoras de conhecimento e por sua capacidade de contribuir para a geração da inovação e, consequentemente, ascensão socioeconômica”, escreveu em artigo publicado pela Folha de S. Paulo.

EXPRESSO ADUSP


    Se preferir, receba nosso Expresso pelo canal de whatsapp clicando aqui

    Fortaleça o seu sindicato. Preencha uma ficha de filiação, aqui!