Debate sobre situação da EACH reúne comunidade universitária na FFLCH

Realizado no dia 2/6 no auditório da História, o debate “Crime na EACH e o descaso da Reitoria” contou com a presença de docentes, funcionários e estudantes de diferentes unidades da USP. Muitos dos presentes não sabiam mais do que o fato de o campus Leste estar interditado por decisão judicial devido à contaminação ambiental. O debate serviu para esclarecer a situação de abandono e irresponsabilidade institucional enfrentada pela comunidade da EACH há anos.

A mesa foi composta pelos professores Alberto Tufaile, Elisabete Franco, Marcos Bernardino de Carvalho (todos da EACH), pelos estudantes Maria Salete Perroni e Thiago Bomfim e pelo funcionário Fabiano Gomes Teixeira do Prado. Faixas com os dizeres “Qual o futuro da EACH?” e “Eu quero 0% de contaminação!” apontavam os rumos da discussão.

Daniel Garcia
Professor Tufaile no debate de 2/6

O debate foi iniciado por uma exposição detalhada e calorosa do professor Alberto Tufaile, que apresentou fotografias e vídeos da deposição de solo contaminado dentro do campus Leste em 2011. Tufaile descreveu o crime ambiental cometido e exibiu a notificação emitida pelo então diretor geral do Parque Ecológico do Tietê e encaminhada ao diretor da EACH, José Jorge Boueri, em 6/6/2011. A notificação determinava que fosse paralisada a entrada e movimentação de terra e entulho na área do campus Leste, que fica dentro do Parque.

O professor explicou que a deposição foi momentaneamente suspensa, mas depois de duas semanas, quando ocorreu a até agora inexplicada exoneração do diretor do Parque Ecológico, continuou como se nada tivesse acontecido. No total, estima-se que foram realizadas 6 mil viagens de caminhão com terra contaminada.

“Se eu pegar um carrinho de mão com entulho e jogar no Parque Ecológico do Tietê é um crime inafiançável. Tem uma placa colocada lá que diz que se eu fizer isso e for pego pela polícia, vou para a cadeia. É um crime levar 6 mil caminhões de entulho!”, disse Tufaile. Somando-se a esta notificação, há uma multa de R$ 96 mil lavrada pela Cetesb contra a USP em 31/10/2013 e a interdição do campus em 9/1.

Metano

 

Marcos Bernardino
Tubulação para drenagem de metano na EACH

Quando ocorreu a implantação do campus Leste, em 2005, já se suspeitava que a área estava fortemente contaminada e sabia-se que possuia grandes bolsões de gás metano. Na época foi assinado pela USP um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que impunha determinadas medidas a serem implantadas pela Reitoria, como condição para utilização do campus.

“Houve a exigência que a USP assinasse desde o início um TAC para que ao longo da implantação da escola se pudessem resolver os problemas que se suspeitava que existiam: o caso do solo, que era necessário fazer uma análise mesmo no aterro original, e a questão do metano que já era conhecida”, comentou o professor Marcos Bernardino de Carvalho. “Descaso! A USP, como todos sabemos, conseguiu protelar uma por uma as exigências do TAC, e é por isso que a gente está nessa situação! São quase 10 anos de implantação com os termos do TAC sendo invariavelmente contornados e a Cetesb pressionando a Universidade”.

Membro da Comissão Ambiental criada na unidade após a greve  de 50 dias realizada em 2013, o professor Marcos exibiu imagens recentes da EACH, feitas em visita de que participou, nas quais é possível ver tapumes cercando todas as áreas verdes, formando estreitos corredores pelos quais seria realizada  a circulação de pessoas. Também é possível ver que as áreas verdes quase não têm grama.

O que mais chocou os participantes do debate foram as fotografias das tubulações implan­ta­das nos prédios para drenagem do metano. Elas são visíveis e tomam o espaço das áreas cobertas destinadas à passagem de pessoas quando chove. Segundo Marcos, o barulho emitido pelas bombas de sucção é grande e ainda não teriam sido implantadas as tubulações do prédio conhecido como “Titanic”, o maior e que abriga o maior número de salas de aula e de professores. Será necessário mais um mês para implantá-las e depois serão feitos testes de eficiência.

Já foram abertas duas investigações no Ministério Público sobre o caso da EACH. Uma delas é para averiguar justamente o descaso da Reitoria diante da situação. A outra investiga denúncias de improbidade. A Reitoria insiste que está providenciando tudo que foi solicitado pela Cetesb, e se nega a conversar com a diretoria da EACH, que já protocolou dois pedidos de reunião.

Indignação

Além de toda a situação de descaso desde a implantação da EACH, o chamado “Plano B” adotado pela atual gestão da Reitoria depois da interdição do campus não agradou ninguém. Atualmente, as atividades estão espalhadas por diferentes campi da USP e também em locais alugados, como a Unicid, instituição de ensino privado. “A nossa situação hoje é de pulverização, estamos espalhados, assim como os alunos, por vários pontos da cidade”, conta Fabiano, representante dos funcionários.

“A maior parte das nossas atividades nós já retomamos, ainda que precariamente, deixando um monte de coisa acumulada para quando o campus for desinterditado, sabe-se lá quando!”, explica. “Nós temos uma ansiedade muito grande para que o campus seja reaberto, precisamos que ele seja reaberto para que nossas atividades sejam colocadas em ordem, não tem como fazer na Fatec ou na Unicid o que a gente fazia [no campus leste], mas queremos voltar com segurança e com qualidade”.

“A gente vive agora na EACH um momento muito delicado: estamos fragmentados e isso dificulta inclusive as nossas reuniões para articular o movimento”, disse Bia Michele, pós-graduanda. “Eu não tenho dúvidas de que isso foi caso pensado da Reitoria, podem dizer que é teoria da conspiração, mas ela sabe muito bem que a gente não é coitadinho, sabe muito bem o que é colocar os estudantes na Unicid, na Faculdade de Saúde Pública e no Butantã, sabe porque viram que quando as três categorias estiveram juntas tiraram o diretor Boueri! Sabe que as três categorias unidas fazem uma greve com muita potência, como essa greve que está sendo construída agora!”.

O professor Francisco Miraglia, diretor da Adusp, alertou a todos que os problemas da EACH não são apenas da unidade, mas sim da USP inteira: “Isso tudo significa uma profunda falta de respeito a professores, estudantes e funcionários, mas não só os da EACH: é uma falta de respeito a cada um de nós! E é importante que a gente se conscientize disso. São colegas nossos que estão sendo tratados de uma forma indigna há anos. E a origem disso é a falta de democracia e a falta de exercício de autonomia desta Universidade!”, concluiu.

Informativo nº 383

EXPRESSO ADUSP


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