A Comissão Coordenadora do Programa de Pesquisa em Estudos Culturais da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP) emitiu nota de repúdio à matéria da TV Jovem Pan News intitulada “Virou moda – Professor humilha aluno sem máscara na USP – Alessandro Soares usou seu cargo de funcionário público para intimidar Wesley”, que foi ao ar no programa Pingo nos Is de 14/4.
 
Na véspera, a revista Oeste publicou reportagem de teor semelhante, intitulada “Aluno da USP é constrangido por não usar máscara” e na qual a Jovem Pan News se baseou. Oeste define-se como “A primeira plataforma de conteúdo cem por cento comprometida com a defesa do capitalismo e do livre mercado”. Alguns de seus colaboradores, como Augusto Nunes, Ana Paula Henkel e Guilherme Fiuza, também integram a equipe da Jovem Pan News.
 
Na sua nota, intitulada “Carta de Repúdio”, a comissão enfatiza o fato de que a Comissão Assessora de Saúde da Reitoria da Universidade de São Paulo de 20/3/2022 determina que o uso de máscara é obrigatório para os corpos discente e docente, servidores técnico-administrativos, prestadores de serviços e visitantes nos ambientes fechados da Universidade, incluindo salas de aula, auditórios, museus, laboratórios, bibliotecas, locais de atendimento ao público e setores administrativos da Universidade. Nos ambientes externos, o uso de máscara é recomendado em situações de aglomeração. Tal medida foi confirmada junto à comunidade acadêmica pelo Boletim Epidemiológico USP-Covid, divulgado em 13/4 e disponível no site USP Retorno Seguro.
 
“Após citar nominalmente o professor Alessandro Soares da Silva, docente da disciplina ‘Sociedade e Estado’, que teria segundo a reportagem ‘confrontado’ o aluno Wesley Caique Silva por recusar-se a usar máscara, a reportagem veicula um áudio que, na verdade, mostra exatamente o oposto à manchete exibida: o aluno Wesley desrespeita o professor em seu exercício como funcionário público, recusa-se a utilizar um equipamento de uso obrigatório na universidade, desafia o professor a listar a legislação em vigor sobre o tema, provoca tumulto em sala de aula, prejudica as atividades didáticas, e, por fim, aciona, sem qualquer motivo legal, a Polícia Militar para abertura de um intimidatório Boletim de Ocorrência”, registra a nota da Comissão Coordenadora do Programa de Pesquisa em Estudos Culturais da EACH.
 
“A matéria desconsidera o sofrimento docente mediante tal desrespeito — lembrando que também os professores estão sujeitos às exigências sanitárias, mesmo com todo o desconforto de precisar lecionar utilizando máscaras, em prol da saúde e bem-estar de toda a comunidade; e desinforma quanto à legalidade das exigências estabelecidas pela Comissão Assessora de Saúde da Reitoria da USP”.
 
Ainda segundo a nota, em nenhuma passagem do áudio exposto pela emissora verifica-se que o professor Alessandro Soares teria humilhado Wesley ou usado seu cargo de funcionário público para intimidar o aluno. Além disso, prossegue, “a reportagem desqualifica como ‘esquerdista’ a posição do Centro Acadêmico Herbert de Souza, que publicou uma nota de repúdio em defesa da posição do professor, do regramento acadêmico e da própria sanidade do ambiente universitário”, e assim “desrespeita uma instância legítima de representação dos estudantes da universidade, buscando invalidar sua análise e peso político”.
 
A comissão critica fortemente os comentários feitos na ocasião por Guilherme Fiuza e Ana Paula Henkel, porque, “de caráter negacionista e sensacionalista, para além do evidente desconhecimento de conceitos elementares da Sociologia como o de ‘sociedade’ mesmo, qualificam a defesa de preceitos validados cientificamente no combate à pandemia como ‘propaganda’ e ‘fanfarra’, e acusam a Universidade de São Paulo de adotar medidas sanitárias desprovidas de fundamentação científica, chegando ao ponto de questionar a necessária vacinação de crianças contra a Covid-19”.
 
No entender da comissão, num “clima de fake news”, a apresentadora “propositadamente desqualifica e confunde a livre discussão de ideias com “doutrinação”, faz uso de termos retoricamente apelativos como “agenda nefasta da esquerda”, “ajoelhar-se a uma turba ideológica”, e acusa o fazer docente de “falácia” e de veicular “mentiras”. Não bastasse, “ainda mistura o debate provocado pela reportagem com um conjunto de desinformações sobre o currículo das escolas públicas, tema que supostamente integraria uma ‘agenda global’ para desvirtuar crianças precocemente expostas a discussões sobre gênero!”.
 
Diz ainda a nota que a “irresponsabilidade social de tais comentários é evidente”, em especial “se consideramos o caráter público e necessário respeito à veracidade das informações que deveria pautar o noticiário de uma emissora mandatária de concessão pública”. Por essas razões, explica, os e as docentes da comissão “repudiamos a notícia em causa, e reiteramos nosso apoio aos professores da Universidade de São Paulo, que permanecem, de forma responsável, zelando pela saúde pública, pela vida e pelo respeito à integridade de todos, resistindo, a despeito de tantos ataques, na luta pela educação, pelo desenvolvimento da ciência e pela universidade pública”. Posição da qual a atitude do professor Alessandro Soares da Silva é um elogioso exemplo, acrescentam.
 
“Aproveitamos para reiterar nossa adesão ao protocolo da Universidade de São Paulo para o retorno seguro às atividades presenciais. Nos solidarizamos com todos os docentes, discentes e funcionários que têm trabalhado/estudado com a mesma dedicação apesar dos cuidados necessários neste momento”, finaliza o documento, assinado por treze docentes da EACH.

Íntegra da nota da Comissão Coordenadora

A Comissão Coordenadora do Programa de Pesquisa em Estudos Culturais da EACH-USP vem por meio deste documento manifestar seu repúdio à reportagem veiculada e comentada pelo programa “Os Pingos nos Is”, da rede Jovem Pan, no dia 14 de abril de 2022 com o título “Virou Moda – Professor Humilha Aluno Sem Máscara na USP: Alessandro Soares usou seu cargo de funcionário público para intimidar Wesley”, e declarar seu apoio à atitude do professor no caso em questão.
 
A notícia de que teria sido exigido de um aluno do curso de graduação em Gestão de Políticas Públicas o uso de máscara de proteção facial em sala de aula foi seguida da informação de que se encontraria em vigor um decreto estadual desobrigando o uso do equipamento em ambientes abertos ou fechados, após o que o apresentador do programa afirma que o docente teria desrespeitado a legislação vigente. Segue o link da matéria: https://revistaoeste.com/politica/aluno-da-usp-e-constrangido-por-nao-usar-mascara/.
 
O jornalista omite deliberadamente a informação de que se encontrava igualmente vigente, com base no disposto na Portaria Interministerial nº 14/2022, no Decreto Estadual nº 66.897, de 17 de março de 2022, nas especificidades e autonomia administrativa do ambiente universitário, a diretriz estabelecida pela Comissão Assessora de Saúde da Reitoria da Universidade de São Paulo (USP) publicada em 20 de março de 2022, a qual: determina que o uso de máscara será obrigatório a todo o corpo discente e docente, servidores técnico-administrativos, prestadores de serviços e visitantes nos ambientes fechados da Universidade, incluindo salas de aula, auditórios, museus, laboratórios, bibliotecas, locais de atendimento ao público e setores administrativos da Universidade. Nos ambientes externos, o uso de máscara é recomendado em situações de aglomeração. Informação esta que pode ser encontrada em https://igc.usp.br/covid/comissao-especial/docs-oficiais/comunicado-20220320/. Tal medida foi confirmada junto à comunidade acadêmica pelo Boletim Epidemiológico USP-Covid, divulgado no dia 13 de abril e disponível no site USP Retorno Seguro: https://retornoseguro.usp.br.
 
Após citar nominalmente o prof. Alessandro Soares da Silva, docente da disciplina “Sociedade e Estado”, que teria segundo a reportagem “confrontado” o aluno Wesley Caique Silva por recusar-se a usar máscara, a reportagem veicula um áudio que, na verdade, mostra exatamente o oposto à manchete exibida: o aluno Wesley desrespeita o professor em seu exercício como funcionário público, recusa-se a utilizar um equipamento de uso obrigatório na universidade, desafia o professor a listar a legislação em vigor sobre o tema, provoca tumulto em sala de aula, prejudica as atividades didáticas, e, por fim, aciona, sem qualquer motivo legal, a Polícia Militar para abertura de um intimidatório Boletim de Ocorrência.
 
A matéria desconsidera o sofrimento docente mediante tal desrespeito – lembrando que também os professores estão sujeitos às exigências sanitárias, mesmo com todo o desconforto de precisar lecionar utilizando máscaras, em prol da saúde e bem-estar de toda a comunidade; e desinforma quanto à legalidade das exigências estabelecidas pela Comissão Assessora de Saúde da Reitoria da USP.
 
Assinale-se que, em nenhuma passagem do áudio exposto verifica-se que o professor Alessandro Soares teria “humilhado” Wesley ou usado seu cargo de funcionário público para intimidar o aluno. Ademais, não se pode afirmar que uma situação do gênero “virou moda”, como se tais procedimentos de humilhação e intimidação fossem não apenas existentes como constantes no âmbito da universidade – instituição que, em sentido contrário, é pautada pelos preceitos da boa educação e pelo respeito ao indivíduo e à democracia.
 
De forma mal intencionada, outrossim, a reportagem desqualifica como “esquerdista” a posição do Centro Acadêmico Herbert de Souza, que publicou uma Nota de Repúdio em defesa da posição do professor, do regramento acadêmico e da própria sanidade do ambiente universitário. Em outras palavras, a reportagem desrespeita uma instância legítima de representação dos estudantes da universidade, buscando invalidar sua análise e peso político.
 
Os comentários que se seguem, de Guilherme Fiuza e Ana Paula Henkel, de caráter negacionista e sensacionalista, para além do evidente desconhecimento de conceitos elementares da Sociologia como o de “sociedade” mesmo, qualificam a defesa de preceitos validados cientificamente no combate à pandemia como “propaganda” e “fanfarra”, e acusam a Universidade de São Paulo de adotar medidas sanitárias desprovidas de fundamentação científica, chegando ao ponto de questionar a necessária vacinação de crianças contra a Covid-19.
 
A apresentadora Ana Paula, surpreendentemente, elogia a “coragem” do aluno Wesley, que hoje é alvo de devido processo disciplinar no âmbito da universidade, instigando o público do programa “Pingos nos Is” à perturbação das atividades acadêmicas. Em clima de “fake news”, a apresentadora propositadamente desqualifica e confunde a livre discussão de ideias com “doutrinação”, faz uso de termos retoricamente apelativos como “agenda nefasta da esquerda”, “ajoelhar-se a uma turba ideológica”, e acusa o fazer docente de “falácia” e de veicular “mentiras”. Não bastasse, ainda mistura o debate provocado pela reportagem com um conjunto de desinformações sobre o currículo das escolas públicas, tema que supostamente integraria uma “agenda global” para desvirtuar crianças precocemente expostas a discussões sobre gênero!
 
A irresponsabilidade social de tais comentários é evidente e se assoma a nosso repúdio, em especial se consideramos o caráter público e necessário respeito à veracidade das informações que deveria pautar o noticiário de uma emissora mandatária de concessão pública.
 
Tendo em vista o exposto, repudiamos a notícia em causa, e reiteramos nosso apoio aos professores da Universidade de São Paulo, que permanecem, de forma responsável, zelando pela saúde pública, pela vida e pelo respeito à integridade de todos, resistindo, a despeito de tantos ataques, na luta pela educação, pelo desenvolvimento da ciência e pela universidade pública. Posição da qual a atitude do prof. Alessandro Soares da Silva é um elogioso exemplo.
 
Aproveitamos para reiterar nossa adesão ao protocolo da Universidade de São Paulo para o retorno seguro às atividades presenciais. Nos solidarizamos com todos os docentes, discentes e funcionários que têm trabalhado/estudado com a mesma dedicação apesar dos cuidados necessários neste momento.
 
Cordialmente,
 
Profa. Graziela Perosa
Prof. Mário Pedrazzoli
Prof. André Fontan Kohler
Profa. Ana Laura Godinho Lima
Profa. Dária Gorete Jaremtchuk
Prof. Jefferson Agostini Mello
Profa. Luciana Dadico
Prof. Márcio Moretto Ribeiro
Prof. Luiz Silveira Menna Barreto
Profa. Régia Cristina Oliveira
Prof. Rogério Monteiro de Siqueira
Prof. Thomás Augusto Santoro Haddad
Profa. Vivian Grace Fernandez Dávila Urquidi
 

EXPRESSO ADUSP


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