Saúde
Pós-graduandos propõem prorrogação de prazos e bolsas por um ano, questionam condições de segurança nos laboratórios e reivindicam diálogo para garantir uma retomada presencial das pesquisas “planejada e cautelosa”
31/07/2020 15h54
“As pressões de prazos e assédios morais não devem ser fatores que direcionam a volta às atividades”, dizem seis associações da capital e do interior no documento “A USP não vai parar: em que condições? Carta aberta em defesa da vida dos Pós-Graduandos”. Pedem também a inclusão de alunos e técnicos no GT responsável pela elaboração do Plano de Readequação (PRAA-2020)
Prorrogação de prazos e bolsas por um ano, de modo a garantir que o retorno dos pós-graduandos aos laboratórios de pesquisa se dê em condições de biossegurança, é a proposta de seis associações de pós-graduandos da USP: dos campi da capital, de Ribeirão Preto e de São Carlos, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina (Prolam).
No documento “A USP não vai parar: em que condições? Carta aberta em defesa da vida dos Pós-Graduandos”, as associações apontam a situação de vulnerabilidade dos pesquisadores: “Ao mesmo tempo que aderem à missão de continuar contribuindo com a pesquisa de qualidade, encontram graves dificuldades em dar continuidade ao trabalho em meio à pandemia. Assim, é central a problematização e o debate sobre o retorno das atividades de pesquisa em laboratórios da Universidade de São Paulo, formulado por meio de diálogo com os representantes discentes e servidores”.
Defendem que a retomada seja “detalhadamente planejada e cautelosa, respeitando as garantias de biossegurança, como distribuição de Equipamentos de Proteção Individual, revezamento para todos nos laboratórios, testagem em massa da comunidade acadêmica, marcação de distanciamento em locais propícios à aglomeração e fornecimento de alimentação”.
Reforçam: “O retorno das atividades presenciais de pesquisa deve ser analisado de maneira responsável com a participação da comunidade acadêmica. Portanto, esta avaliação precisa contar também com a participação de estudantes e técnicos no âmbito do Grupo de Trabalho responsável pela elaboração do Plano de Readequação para o Ano Acadêmico 2020 (PRAA-2020)”.
“Contexto aumenta a pressão psicológica e deteriora a saúde mental”
O documento chama atenção para a situação singular dos pós-graduandos durante a pandemia: “Como membros da comunidade científica, compreendem a necessidade do distanciamento social, porém seus prazos de pesquisa estão se encurtando e as possibilidades de financiamento diminuem. Todo esse contexto aumenta a pressão psicológica e deteriora a saúde mental dos pesquisadores”.
As associações questionam se existe segurança para o retorno — “Os laboratórios têm condições de funcionamento? Haverá técnicos e docentes disponíveis nos laboratórios para viabilizar as pesquisas com segurança?” — e rejeitam imposições institucionais indevidas: “As pressões de prazos e assédios morais não devem ser fatores que direcionam a volta às atividades, essa tem que ser conduzida e assegurada pela USP a partir do diálogo com toda [a] comunidade acadêmica”.
Além disso, lembram que a responsabilidade pela retomada do trabalho presencial de pesquisa não pode individualizada e imputada ao pós-graduando: “A Universidade deve apresentar um plano que contemple todas as especificidades de cada área e que garanta que o retorno das atividades de laboratório terá o amparo institucional devido”. De acordo com a carta, há departamentos que responsabilizam “o próprio pós-graduando, caso este venha a adoecer”, atitude que as associações repudiam: “Essa grave pressão não corresponde ao significado real da Universidade. De fato, nesse momento de crise é preciso defender a continuidade da pesquisa científica, mas não podemos colocar nenhuma vida em risco”.
No entendimento das associações, somente a prorrogação de prazos e bolsas seria capaz de “minimizar os danos da Covid-19 aos pós-graduandos”, garantir um retorno responsável e “que compartilhe dos valiosos critérios de segurança que o momento ainda exige”. Em resumo: “Nesse momento de crise a Universidade deve garantir segurança institucional à vida das pessoas e dos pós-graduandos”.
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