Defesa da Universidade
Retorno às atividades presenciais agrava problemas do Crusp, onde há até cobrança de “aluguel” de vagas
A Superintendência de Assistência Social (SAS) vai agendar na próxima semana uma reunião com a nova diretoria da Associação dos Moradores do Conjunto Residencial da USP (Amorcrusp) para discutir demandas apresentadas pela(o)s moradora(e)s. Várias delas decorrem de problemas históricos e estruturais do Crusp, mas se tornam especialmente sensíveis com o retorno às aulas e atividades presenciais na universidade.
Um dos principais problemas apontados por moradora(e)s e integrantes da diretoria da Amorcrusp ouvida(o)s pelo Informativo Adusp se refere à ocupação irregular de vagas, ou mesmo de apartamentos inteiros, por pessoas já sem vínculo com a universidade — aluna(o)s que concluíram o curso e permanecem na moradia — ou que sequer estudaram na USP.
“Há dezenas de vagas ocupadas irregularmente, e não vou nem entrar no mérito de serem pessoas que não têm vínculo com a USP ou em apartamentos invadidos. É uma situação extremamente delicada”, afirma um morador, aluno de graduação na área da saúde.
Um caso extremo é o de um apartamento ocupado irregularmente no qual um jovem sem vínculo algum com a universidade “oferece” uma vaga, cobrando aluguel de uma aluna. “Paga os 500 [reais] e vem aqui você me passa os 500 e eu te arrumo um quarto no Crusp!”, diz o rapaz à aluna numa mensagem de texto por WhatsApp à qual o Informativo Adusp teve acesso. Os prints da troca de mensagens já foram encaminhados pela Amorcrusp à SAS.
Essa aluna, cuja família mora no interior do estado de São Paulo, ilustra outra situação que preocupa a Amorcrusp: a falta de alojamento para estudantes ingressantes que se inscreveram no Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE) e ainda não têm resposta da aprovação do pedido.
Essa(e)s aluna(o)s poderiam ficar em alojamentos provisórios existentes nos próprios blocos do Crusp, mas esses alojamentos não estão disponíveis neste início de semestre, de acordo com a Amorcrusp. Como as aulas presenciais já se iniciaram, a(o)s estudantes têm que conseguir acomodação por conta própria enquanto não sai a lista da(o)s contemplada(o)s, o que deve ocorrer na semana que vem.
Os auxílios do PAPFE, coordenado pela SAS, são voltados a aluna(o)s em primeira graduação classificados no Sistema de Avaliação Socioeconômica (SASe). O programa tem benefícios como o apoio-moradia (em São Paulo, vagas no próprio Crusp), auxílio-alimentação e auxílio-livros.
Na atualidade, o problema da carência de vagas é agravado pela desocupação do Bloco D da moradia, em processo de reforma. O movimento estudantil reivindica historicamente a devolução dos blocos K e L ao conjunto residencial. Os prédios foram ocupados por décadas por setores administrativos da universidade, chegando a sediar o gabinete do reitor e outros órgãos centrais, que só retornaram ao seu prédio original, após suntuosa reforma, no final da gestão de J. G. Rodas (2010-2013).
Moradores e moradoras ficam sem serviço de modem de internet
Utilizando como justificativa o retorno presencial, a Reitoria cortou o serviço dos modems de Internet que vinham sendo utilizados pela(o)s aluna(o)s do Crusp ao longo da pandemia. Uma vez que as aulas e demais atividades passaram a ser realizadas em formato remoto nos dois últimos anos, esse recurso era absolutamente imprescindível para os trabalhos acadêmicos.
“Não recebemos comunicação prévia sobre esse corte. A Internet instalada no Crusp ainda não funciona bem, na verdade funciona só em alguns locais, e os moradores demoram para fazer os testes e comunicar os resultados à STI [Superintendência de Tecnologia da Informação]”, relatou uma moradora do Crusp, aluna de pós-graduação, ao Informativo Adusp.
Especialmente na pós-graduação, há disciplinas que serão mantidas em formato remoto ou híbrido neste semestre, o que prejudica aquela(e)s que necessitavam do acesso fornecido pelos modems na moradia. “Os estudantes estão sofrendo com essa situação”, descreve a aluna.
Na visão da doutoranda, a USP precisa resolver urgentemente muitos problemas que afetam o Crusp, até porque a consolidação do programa de cotas fará com que a universidade receba cada vez mais aluna(o)s que dependerão da moradia estudantil e de outros auxílios para conseguir permanecer na academia e se formar.
O Informativo Adusp procurou a Assessoria de Imprensa da Reitoria para que a universidade se manifestasse sobre o corte do serviço dos modems e sobre a eventual devolução dos blocos K e L ao Crusp, mas não recebeu resposta até o fechamento desta reportagem. Havendo manifestação por parte da Reitoria, o texto será atualizado.
A reportagem também procurou a SAS. A nova superintendente de Assistência Social, professora Marie-Claire Sekkel, docente do Instituto de Psicologia da USP, comprometeu-se a receber o Informativo Adusp nos próximos dias para abordar as questões envolvendo o Crusp.
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