Democracia na USP
Resultados da Consulta de 23/10 representam grande derrota política da gestão Zago-Vahan
Oposicionistas Arminda e Sauer somados receberam 53% dos votos de docentes e 70% dos votos totais, em cabal rejeição ao projeto do reitor
Os reitoráveis situacionistas sofreram uma contundente derrota na Consulta oficial realizada pela Comissão Eleitoral em 23/10. Embora o candidato do reitor, Vahan Agopyan, tenha sido o mais votado pela categoria docente, com 1.072 votos, os oposicionistas Maria Arminda e Ildo Sauer receberam, respectivamente, 850 e 552 votos, ou seja: uma soma de 1.402 votos. O quarto concorrente, o situacionista Ricardo Terra, recebeu 138 votos. Foram 101 nulos e 21 em branco. Assim, entre os docentes, os votos válidos na Oposição somaram 53,67%.
foto: Daniel Garcia | foto: Daniel Garcia | foto: Marcos Santos/USP Imagens |
Arminda | Sauer | Vahan |
Além disso, nas duas outras categorias, funcionários técnico-administrativos e estudantes, Arminda foi a mais votada. Em ambas, tanto ela como Sauer conquistaram, sozinhos, votação maior do que o vice-reitor afastado Vahan (e mesmo do que Vahan e Terra somados). Todos os resultados agregados da Consulta favorecem a Oposição, mostrando o grande desgaste da gestão M.A. Zago-Vahan Agopyan.
O resultado foi tão avassalador que o jornal O Estado de S. Paulo, tradicionalmente muito ligado à Reitoria, mancheteou: “Diretora da FFLCH ganha consulta pública para Reitoria da USP”, baseando-se na soma dos votos dos candidatos nas três categorias: “Ela teve 3.749 votos”. “Em segundo lugar, ficou o candidato Ildo Luís Sauer (2.353 votos)”. Por este critério, Vahan situou-se em terceiro lugar, pois recebeu apenas 2.138 votos. Arminda (41,19%) e Sauer (27,11%) somados obtiveram 70,30% dos votos válidos tomados nas três categorias. Vahan obteve 24,63% e Terra, com 439 votos, 5,05%, portanto somam 29,68% (vide Tabelas).
Votos recebidos | % | Soma % | |
---|---|---|---|
Vahan | 2.138 | 24,63 |
70,3
|
M. Arminda | 3.749 | 43,19 | |
Ildo Sauer | 2.353 | 27,11 | |
Ricardo Terra | 439 | 5,05 |
Professores
|
Funcionários
|
Estudantes
|
%
|
Soma %
|
|
---|---|---|---|---|---|
Vahan |
13,67
|
5,51
|
6,31
|
25,49
|
69,22
|
M. Arminda |
10,84
|
16,12
|
15,65
|
42,61
|
|
Ildo Sauer |
7,04
|
10,45
|
9,12
|
26,61
|
|
Ricardo Terra |
1,75
|
1,22
|
2,22
|
5,19
|
Candidatos | Docentes | Funcionários | Estudantes | |||
---|---|---|---|---|---|---|
votos
|
%
|
votos
|
%
|
votos
|
%
|
|
V. Agopyan |
1.072
|
41,04
|
579
|
16,54
|
487
|
18,96
|
M. Arminda |
850
|
32,54
|
1.693
|
48,38
|
1206
|
46,96
|
I. Sauer |
552
|
21,13
|
1.098
|
31,38
|
703
|
27,37
|
R. Terra |
138
|
5,28
|
129
|
3,68
|
172
|
6,69
|
Total |
2.612
|
100
|
3499
|
100
|
2.568
|
100
|
Candidatos | Docentes | Estudantes + funcionários | Total |
---|---|---|---|
V. Agopyan |
28,72%
|
5,27%
|
34%
|
M. Arminda |
22,77%
|
14,33%
|
37,11%
|
I. Sauer |
14,79%
|
8,90%
|
23,70%
|
R. Terra |
3,69%
|
1,48%
|
5,19%
|
Votaram 9.309 pessoas, consideradas as três categorias. Diferentemente da Consulta realizada em 2013, quando os eleitores puderam votar em até três chapas, desta vez cada eleitor teve de votar em apenas uma chapa (ou, quando não, pôde votar em branco, ou anular o voto). É possível que essa alteração, que não mereceu explicações por parte da Comissão Eleitoral ou da Reitoria, tenha impedido uma vitória ainda mais clara da Oposição.
Caso mantida a regra vigente em 2013, os eleitores de Arminda e Sauer tenderiam a votar nas duas candidaturas, reforçando-as reciprocamente, e mesmo que os eleitores de Terra votassem também em Vahan o resultado do situacionismo tenderia a ficar muito aquém do necessário para bater a Oposição.
Esta foi a segunda consulta oficial realizada desde que esse dispositivo foi criado pelo Conselho Universitário (Co), na reforma do Estatuto de 2013, ao final da gestão de J.G. Rodas. A consulta tem caráter meramente indicativo e, por isso, à época sua aprovação pelo Co frustrou a comunidade, que reivindicava eleições diretas ou, ao menos, consulta com caráter deliberativo.
Dificuldades do situacionismo
Os resultados colhidos em 23/10 confirmam as dificuldades enfrentadas pelo situacionismo e abrem chance para surpresas e composições entre os candidatos oposicionistas. Os segmentos não docentes expressaram uma forte rejeição aos reitoráveis ligados à gestão atual. A diretora licenciada da FFLCH recebeu 1.693 votos de funcionários (48,38%), ao passo que o vice-diretor licenciado do IEE obteve 1.098 (31,38%), o que acumula 80% dos votos válidos, contra apenas 579 (16,51%) dados a Vahan e 129 (3,68%) a Terra.
Quanto aos estudantes, Arminda obteve 1.206 votos (46,96%) e Sauer 703 (27,37%), de modo que ambos somam 74,33% dos válidos, enquanto Vahan recebeu 487 votos (11,96%) e Terra 172 (6,69%). A soma de todos os votos recebidos pelo ex-presidente da CERT e ex-presidente do Grupo de Trabalho Atividade Docente (GT-AD) é inferior ao total de votos em branco e nulos: 439, contra 630.
A vantagem obtida pelas candidaturas oposicionistas entre os docentes e a vitória por larga margem entre funcionários e entre estudantes refletem-se em outras formas de medir os resultados da eleição, seja considerando-se a votação proporcional com base em dispositivo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, a saber: 70% de docentes, 30% de funcionários e estudantes), seja calculando a votação paritária entre os três segmentos.
Na primeira, Arminda alcança 37,11% e Ildo 23,70%, contra 34% de Vahan e 5,19% de Terra, o que resulta em 60,81% dos votos proporcionais conferidos à Oposição e apenas 39,19% à Situação. Na paritária, a vantagem dos candidatos oposicionistas é ainda maior: Arminda (42,61%) e Sauer (26,61%) somam 69,22%, ao passo que Vahan (25,49%) e Terra (5,19%) juntos têm somente 30,68%.
Talvez em decorrência do clima de repressão, desmobilização e desolação vivido na USP, bem como da demissão de mais de 3 mil funcionários, a Consulta de 23/10 contou com participação menor que a primeira, realizada em 2013 com 13.826 votantes.
Ainda assim, os resultados mostraram que a maioria dos que se manifestaram nas três categorias — inclusive entre os docentes, ao contrário do que sugere o título do comunicado oficial da Comissão Eleitoral de 23/10 — o fez de modo a antagonizar a gestão capitaneada por M.A. Zago e o projeto de continuidade das candidaturas situacionistas (a oficial e a “coadjuvante”).
Na Consulta recém-realizada, votaram 48,1% dos docentes (2.734, de um total de 5.685), 27,4% dos servidores técnicos e administrativos (3.802, de um total de 13.878) e 3,7% dos discentes (2.773, de um total de 75.786). Houve 84 votos em branco e 546 votos nulos.
A eleição da lista tríplice para escolha do reitor ou reitora e vice-reitor da USP será realizada no próximo dia 30/10. Ao contrário da Consulta, só poderão votar os participantes do restritíssimo “colégio eleitoral”, que não respeita sequer o determinado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB: 70% de docentes, 15% de funcionários, 15% de estudantes), uma vez que nele os docentes somam mais de 80% e, dentre eles, os professores titulares são a grande maioria. Mais uma vez quase 99% da comunidade universitária serão excluídos do processo eleitoral. Além da circunstância sui generis de que serão escolhidas três chapas entre apenas quatro concorrentes, ao final de tudo quem decide é o grande eleitor: o governador Geraldo Alckmin (PSDB).
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