Sucessão Reitoria
A epifania de Rodas
A Reitoria da USP divulgou, por meio do Ofício GR/302, de 9/7, e do informativo oficial USP Destaques 77, de 10/7, um “convite” à comunidade universitária para que discuta o processo de eleição de dirigentes: reitor(a), diretores de unidades e chefes de departamentos.
Em que consiste a proposta da Reitoria, afinal? O enunciado do USP Destaques 77 deixa claro: “Em carta, reitor convida comunidade para discutir processo de eleição de dirigentes; participação pode ser feita pelo site www.democracia.usp.br ou e-mail democracia@usp.br. Ou seja, nada além de um convite para “discutir” algo de tamanha importância à distância, por e-mail ou postagem no site criado pela Reitoria.
O comunicado acena com maior abertura, insinua “participação efetiva”, mas em momento algum fala em eleições diretas para reitor(a) e diretores de unidade. Ademais, se tivesse sido esta a decisão, que finalidade teria o convite à comunidade para “discutir [o] processo de eleição de dirigentes”?
A verdade é que a USP, em matéria de estrutura de poder, é extremamente conservadora. Ao contrário da maioria das universidades federais e das Universidades Estaduais Paulistas, Unesp e Unicamp, o poder oligárquico que controla a USP nunca aceitou sequer mecanismos amplos de consulta aos docentes, funcionários e estudantes para indicação do reitor.
Atitude imperial
As entidades representativas, com apoio de suas respectivas categorias, sempre reivindicaram eleições diretas para reitor e demais dirigentes. Sem sucesso, contudo. Eis que, no apagar das luzes de sua gestão (e portanto em pleno período de sucessão), o reitor após súbita revelação descobre os benefícios da democracia. Mas se é assim — se foi convertido, por efeito dessa epifania, às vantagens do agir democrático — por que razão sua “proposição” não se materializa em uma proposta efetiva? Por que motivo a “participação” da comunidade teria de ser exclusivamente virtual?
Não à toa estamos citando expressamente o reitor. É que o comunicado de que falamos é vertido de ponta a ponta em primeira pessoa. Procedimento esdrúxulo, pois seu objeto é assunto institucional de primeira grandeza. Apesar disso, a atitude imperial é nítida em diversas passagens: “Tal ideia ficou clara para mim”, “De minha parte, crio a oportunidade para as mudanças”, “Para facilitar a discussão, promovi a criação da página”…
A Adusp apresentou publicamente, no Informativo Adusp 363, de maio de 2013 (“Democratizar a indicação de reitor!”), sua proposta de inclusão, no Estatuto da USP, da “realização de consulta de caráter paritário, com a participação de todos os docentes, estudantes e funcionários, e a garantia de que o(a) eleito(a) por esta consulta conste da lista tríplice a ser elaborada pela reunião do Co e dos Conselhos Centrais”. É uma proposta concreta que, com o apoio do DCE e da APG, conseguiu o número de assinaturas suficiente para ser submetida ao Conselho Universitário ainda no segundo semestre de 2013. Excelente oportunidade, sem dúvida, para que o reitor exercite seus novos pendores democratizantes.
Fica evidente que, mais uma vez, o reitor e sua assessoria mostram uma aprendizagem tardia de gestão democrática na USP ou mero oportunismo propositivo de demandas já feitas pelos sindicatos e entidades estudantis. Basta lembrar o golpe que a Reitoria praticou ao nomear a sua Comissão da Verdade, ignorando olimpicamente as iniciativas da comunidade que procuraram, meses antes, construir uma Comissão com seus representantes e os da Reitoria.
Há muito, a estrutura de poder da USP precisa ser democratizada. Se de fato é esta a direção que a atual Reitoria deseja tomar, que convoque, não para 1º de outubro, mas já para a terceira semana de agosto, conforme ofício protocolado em 5/7 pela Adusp, DCE e APG, uma reunião do Co com pauta aberta às contribuições que estabeleçam a participação de todo o corpo da universidade na indicação do reitor(a), inclusive a acima descrita, de inclusão no Estatuto da USP da consulta de caráter paritário. Haveria, assim, tempo hábil para que todos – docentes, estudantes e funcionários – tenham voz e voto no processo em curso de indicação de reitor(a).
São Paulo, 16 de julho de 2013
Diretoria da Adusp
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