Neste ano em que marcamos os 60 anos do golpe militar no Brasil, a Associação de Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp) presta homenagem à memória de todas e todos aqueles que sofreram e resistiram durante os anos da Ditadura Militar (1964-1985). Esse período, caracterizado por graves violações dos direitos humanos e pela supressão das liberdades democráticas, deixou cicatrizes profundas em nossa sociedade.

Manifestações artísticas e culturais foram brutalmente censuradas, e tiveram impedido o seu desenvolvimento, enquanto atividades e pesquisas científicas nas mais diferentes áreas do conhecimento foram abaladas e sacrificadas em razão do exílio, banimento, aposentadoria compulsória ou mesmo prisões de dezenas de nossos e nossas melhores cientistas e pensadores(as), empobrecendo-se com isso o patrimônio intelectual e cultural da sociedade brasileira. Trata-se aqui de uma perda irreparável.

Os direitos políticos de cidadãs e cidadãos brasileiros foram severamente restringidos, e tantos foram forçados ao exílio, perseguidos por suas visões de mundo, orientações sexuais, identidades de gênero e atividades políticas. Centenas de opositora(e)s política(o)s foram assassinada(o)s ou desapareceram sob circunstâncias “misteriosas”, deixando famílias e amiga(o)s sem respostas ou justiça. Profundamente impactante foi a perseguição direcionada à comunidade acadêmica; estudantes, servidora(e)s técnico-administrativa(o)s e docentes da USP foram alvos de ações repressivas e perseguições; muitos e muitas foram detidos(as), torturados(as) e até mesmo assassinados(as).

A concentração de terra e renda no país aumentou vertiginosamente no período, agravando conflitos agrários e prejudicando as comunidades campesinas. Além disso, povos indígenas sofreram imensuravelmente, com milhares de vidas perdidas devido à violência da Ditadura Militar. É com pesar que também reconhecemos a continuidade de práticas inaceitáveis herdadas desse período, como os métodos de tortura e execução que, lamentavelmente, foram naturalizados como meio de repressão policial a criminosos, a movimentos sociais e a populares criminalizados (“suspeitos”), sendo exemplares os trágicos casos do assassinato e desaparecimento do pedreiro Amarildo, no Rio de Janeiro (2013), e do massacre, pela Polícia Militar, de oitenta moradores da Baixada Santista (2023-2024).

Importante ressaltar que a ditadura contou com apoio de amplos setores da sociedade, em especial o grande empresariado, evidenciando uma complexidade que a história ainda desvela. É digno de nota que o Ato Institucional número Cinco (AI-5), marco da intensificação repressiva da ditadura, tenha sido elaborado no âmbito da própria USP.

Neste momento de reflexão, a Adusp reafirma seu compromisso com a defesa dos direitos humanos, da democracia e da liberdade de expressão. Recordar a Ditadura Militar não é apenas um ato de memória, mas um imperativo para garantir que as sombras do passado não rondem nosso presente e futuro.

Que esta nota sirva como um lembrete da nossa responsabilidade coletiva de preservar e proteger os valores democráticos, e de honrar a memória daqueles que sofreram nas mãos de um regime que negou os mais fundamentais direitos humanos, incluindo membros valiosos de nossa própria comunidade universitária!

Por verdade, memória, justiça e reparação!

A Diretoria da Adusp

EXPRESSO ADUSP


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