Os principais portais jornalísticos brasileiros mantiveram em destaque um expressivo número de textos alimentados por declarações de um sujeito ofensivo à democracia brasileira e por dados distribuídos pelas agências ligadas ao atual chefe de um conhecido país vizinho.

O interesse de ambos é o de colocar em evidência as suas ações, como forma de recuperar o prestígio no mundo dos negócios e da política, respectivamente.

E olha que esses senhores estão conseguindo “plantar” informes publicitários e propagandas políticas gratuitamente, sem contestação dos editores sobre a factualidade desse conteúdo.

Com seu negócio de mídia em decadência, o tal também vendedor de carros (que promete modificar a indústria mundial com inovações e possíveis ganhos ambientais) conseguiu substituir o nome da sua empresa para uma letra em “caixa alta”, atraindo os seguidores de um discurso do vale-tudo em prol da liberdade de expressão, especialmente daqueles que usam a força para destruir o equilíbrio social em benefício próprio.

Já o atual mandatário do simpático país vizinho revela uma nova nação, repleta de dados com exaltações ao rápido avanço econômico (mesmo que a realidade seja contrária a esse discurso). Repete-se uma história latino-americana baseada em números e no triste distanciamento entre ricos e pobres. Nesse patamar, vale se aproximar dos poderosos estrangeiros e, ao mesmo tempo, atacar os adversários contrários à exploração.

A apuração é fundamental ao jornalismo de qualidade e parece que esses dados deixaram de ser checados, ou melhor: investigados. Sendo assim, esses textos não podem ser facilmente enquadrados como desinformação ou fake news, porque eles existem e foram produzidos por gente perigosa que conhece e, muito, o processo de comunicação.

Até quando os nossos editores deixarão se enganar?

Relembrando as aulas sobre media-criticism do jornalista e professor Jair Borin (1942-2003), da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP):

Seria falta de assunto, critérios duvidosos de seleção, matéria paga ou, simplesmente, publicaram esses textos por estarem de rabo preso com o lobby da classe dominante.

Professor titular do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, que chefiou de 1999 a 2001, Borin pesquisou as relações de poder no jornalismo e foi importante ativista da reforma agrária e apoiador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Também foi diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (por duas vezes) e, posteriormente, presidente da Associação de Docentes da USP (1995-1997). Faleceu em 22 de abril de 2003, deixando um legado que jamais será esquecido em defesa de uma sociedade justa e democrática (leia mais sobre Borin no portal da Adusp).

EXPRESSO ADUSP


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