Opinião
Respeitem a USP!
Neste artigo, o professor titular José Marcelino de Rezende Pinto (FFCLRP-USP) questiona evento promovido em 15/4/25 pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP e por “cátedras” do Instituto de Estudos Avançados mantidas por empresas e entidades privadas
O que aconteceu no Seminário “Políticas Institucionais de Pós-Graduação voltadas ao Incremento da Educação Básica no Estado de São Paulo”, em especial em sua mesa “síntese”, é de envergonhar a história desta universidade. Pessoas que não possuem nenhum vínculo com a formação de professores, a começar pelo secretário estadual de Educação, exportado do Paraná pelos males que fez à educação daquele estado, buscam desqualificar o trabalho feito pelas instituições formadoras e, mais uma vez, culpar os professores pelas mazelas de nossa educação.
Cabe comentar que Maria Helena Guimarães de Castro reinou no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP-MEC) nos anos FHC e foi secretária de Educação do Estado de São Paulo, ou seja, teve todos os instrumentos para melhorar a qualidade da rede estadual de São Paulo e do pais e o que fez? Mais que isso, na qualidade de relatora, em 2019, declarou o Conselho Nacional de Educação (CNE) sem “competência” para definir o valor a ser gasto com um aluno para garantir um padrão mínimo de qualidade de ensino como estabelece a Constituição Federal. Para que serve o CNE então? Para aprovar cursos privados?
Mozart Ramos foi secretário de Educação de Pernambuco, presidente executivo do Todos Pela Educação e é diretor de “Articulação e Inovação” do Instituto Ayrton Senna. O mesmo instituto que dá nome à cátedra ocupada por Maria Helena no Instituto de Estudos Avançados (IEA) de Ribeirão Preto (financiada por quem?). No mesmo IEA-RP, Mozart ocupa a cátedra que homenageia o grande nome da ciência brasileira Sérgio Ferreira, que é financiada por um banco. Pobre Sérgio, onde estiver, deve estar bem bravo.
É preciso repensar a lógica dessas cátedras, a começar pela discussão de quem as financia, pois quem põe o dinheiro dá a linha. Em seguida: quais os critérios para indicar os “catedráticos”? Os professores da área são ouvidos? Em Ribeirão Preto, que tem um curso de Pedagogia, isso não ocorreu.
No caso da educação o que se tem observado é o uso do nome USP via cátedras para vender as receitas do empresariado para a educação pública. O mesmo empresariado que, aliás empresaria muito mal, vide as Americanas (Fundação Lemann) e que sempre diz que não são necessários mais recursos para a educação básica, mas que matricula seus filhos em escolas privadas que custam, por mês, o que se gasta em um ano com um aluno da escola pública, quando não os mandam para o exterior.
Outra obsessão destes “especialistas” é submeter os alunos a exames padronizados que chamam de avaliação (e que rendem milhões do orçamento do INEP para as empresas privadas que os realizam) e dizer que se baseiam ‘em evidências’. Ora, ora, essas pessoas não frequentaram os bancos da universidade? Que ciência, que pesquisa não se baseia em evidências? O problema é a qualidade das evidências. E nossos empresários, que bancam bolsas em Stanford (Fundação Lemann), com o olhar do comerciante mesquinho, pensam que as notas dos alunos são as únicas evidências. Contudo, desde o Relatório Coleman, de 1966, sabe-se que 70% dos resultados dos exames se explicam por fatores extraescolares, basicamente pelo capital cultural das famílias.
Portanto, nota-se como essa “evidência” não é tão evidente assim. Para quem tem alguma dúvida quanto a onde isso vai dar sugere-se a leitura do livro de Diane Ravitch Vida e Morte do Grande Sistema Escolar Americano: Como os testes padronizados e o modelo de mercado ameaçam a educação, ou o blog do professor Luiz Carlos de Freitas, da Unicamp.
Em suma, cabe ao Conselho Universitário repensar a lógica de criação, financiamento e de indicação das cátedras que, infelizmente no caso da educação, estão sequestrando o nome da USP para interesses ligados ao setor privado que lucra com os exames, com a venda de “pacotes instrucionais” e com a desqualificação da escola pública de educação básica.
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