Na assembleia de posse, nova Diretoria da Adusp ressalta a defesa do caráter público e da necessidade de democratização da USP
Programa da gestão foi construído de forma coletiva, enfatizou Michele Schultz (foto: Daniel Garcia)

Reeleita para um novo mandato à frente da Diretoria da Adusp, a professora Michele Schultz ressaltou na assembleia de posse, realizada no último dia 30/6 no auditório Abrahão de Moraes, no Instituto de Física da USP, que tanto a formação da chapa quanto o programa da gestão foram resultado de construções coletivas, e não de perspectivas individuais. O programa expressa, entre outros pontos, a defesa do caráter público da universidade e a necessidade de democratização das suas instâncias decisórias.

“Temos que defender a democracia não só para fora da universidade, e também avançar muitíssimo na democratização dos espaços de poder internamente”, disse Michele. Um exemplo dessa discussão está no debate sobre a formação de lista tríplice para a escolha do(a) reitor(a) das universidades estaduais paulistas. Na avaliação do Fórum das Seis, é preciso mudar o processo de escolha, adotando eleições diretas e paritárias na comunidade universitária.

No âmbito interno, a professora mencionou também como desafio a ser enfrentado a existência de um movimento de docentes que se caracteriza como antissindical.

No contexto mais amplo, apesar da derrota de Jair Bolsonaro nas urnas, depois de grande mobilização nas ruas, o bolsonarismo e as políticas tocadas em seu governo permanecem presentes – por exemplo, na administração do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

“Na nossa interpretação, o Tarcísio não está descolado das políticas que foram tocadas no governo de Jair Bolsonaro, embora haja uma certa intenção das reitorias de tentar afastar o governador do bolsonarismo”, afirmou a presidenta da Adusp.

Entre as características do governo Tarcísio está a forte ênfase no caráter privatista, havendo o risco de apresentação a qualquer momento de um projeto de reforma administrativa no Estado. “Temos a tarefa de conseguir mostrar aos e às nossos colegas o perigo que estamos correndo”, alertou.

Luta contra machismo e outros preconceitos

Terceira mulher a presidir a Adusp em 25 gestões, Michele Schultz ressaltou a importância do engajamento na luta antimachista, antirracista e anti-lgbtfóbica.

“Não é fácil, é uma luta cotidiana no espaço sindical ter que lidar com o machismo e outros tipos de preconceitos que estão presentes. Desde que cheguei na Adusp percebo modificações bastante importantes nos comportamentos individuais e coletivos. Acho que avançamos bastante nesse debate nos últimos anos”, afirmou.

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Professor Emérito Kabengele Munanga cumprimenta a presidenta da Adusp

A Diretoria do período 2021-2023 tinha maioria de mulheres. A nova Diretoria não tem essa característica, mas segue contando com uma mulher trans, a professora Gabrielle Weber, que já integrava a Diretoria anterior e na atual assumiu o cargo de 1a. vice-presidenta, ressaltou Michele.

A presidenta agradeceu a presença na assembleia de posse de docentes que atuam na Adusp desde a fundação da entidade, em 1976, como os ex-presidentes Francisco Miraglia, César Minto e Ciro Teixeira Correia, além do professor João Zanetic e da professora Márcia Regina Car, que não puderam comparecer, mas enviaram mensagens.

“Costumo dizer que o meu aprendizado aconteceu nas assembleias da Adusp, porque eu não venho de movimento estudantil. Essas pessoas eram as minhas referências e sempre aprendi muitíssimo com elas”, enfatizou.

A presidenta também agradeceu a presença do professor Kabengele Munanga, recentemente homenageado com o título de Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

A professora Vanessa Martins do Monte, 1a. secretária da gestão recém-encerrada, coordenou a assembleia e lembrou que a posse anterior, em 2021, foi realizada em formato remoto por conta da pandemia da Covid-19. “É importantíssimo ocupar os espaços da universidade e realizar os eventos de forma presencial”, salientou.

Vanessa registrou que o período em que atuou na Diretoria foi de grande aprendizado sobre lutas essenciais e importantes, e para as quais é importante trazer mais pessoas, uma vez que a Reitoria tem se valido de discursos caracterizados por “vernizes muito bem construídos” e que “parecem enganar as pessoas”.

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Diretoria da Adusp para a gestão 2023-2025 (à dir., Vanessa Martins do Monte, da gestão 2021-2023)

Entidades do Fórum das Seis saúdam nova Diretoria

Representantes das entidades que compõem o Fórum das Seis saudaram a nova Diretoria na assembleia. Antônio Luís de Andrade, o Tato, diretor da Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp), afirmou que os sindicatos que representam docentes e servidore(a)s lutam por “um projeto de universidade, de sociedade e de sociabilidade mais humano do que o que temos visto ser construído nas nossas universidades”.

Maria Silvia Gatti, presidenta da Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp), ressaltou a importância de haver uma mulher na presidência da Adusp e que Michele Schultz que vem demonstrando sua liderança expressiva também na coordenação do Fórum das Seis. “Seria bom que todos os docentes percebessem a importância das entidades nas nossas universidades, porque temos feito muito”, apontou.

Elisiene Lobo, representante da Diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), ressaltou que a democracia é colocada à prova todos os dias no Brasil e que a extrema-direita segue viva e atuante, mesmo com a derrota nas urnas no ano passado. Elisiene também afirmou que as universidades precisam ser mais democráticas e inclusivas.

Marcelo Pablito, representante do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), apontou que, apesar dos discursos progressistas por parte das reitorias, na prática o que ocorre são ataques contra trabalhadore(a)s, docentes e estudantes.

Eduardo Pinto e Silva, que representou a Regional São Paulo do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), defendeu a necessidade de mudança estrutural da lógica do trabalho nas universidades.

Silva comemorou duas boas notícias: a decisão pela inelegibilidade de Bolsonaro – confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no mesmo dia da assembleia – e o recente retorno da Associação dos Docentes da Universidade Federal de São Carlos (Adufscar) ao Andes-SN.

Também fizeram sua saudação à nova Diretoria da Adusp Neusa Santana Alves, do Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sinteps), e Alberto de Souza do Sindicato dos Trabalhadores da Unesp (Sintunesp).

A nova Diretoria da Adusp para o período 2023-2025 tem a seguinte composição: Michele Schultz (Escola de Artes, Ciências e Humanidades-EACH), presidenta; Gabrielle Weber (Escola de Engenharia de Lorena-EEL), 1ª vice-presidenta; Soraia Chung Saura (Escola de Educação Física e Esporte-EEFE), 2ª vice-presidenta; Annie Schmaltz Hsiou (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto-FFCLRP), 1ª secretária; Jorge Luiz Souto Maior (Faculdade de Direito-FD), 2º secretário; Márcio Moretto Ribeiro (EACH), 1º tesoureiro; Elvio Rodrigues Martins (FFLCH), 2º tesoureiro.

Como diretore(a)s regionais, elegeram-se: em Bauru, Eliel Soares Orenha (Faculdade de Odontologia de Bauru-FOB); em Lorena, Flávio Teixeira da Silva (EEL); em Piracicaba, Paulo Eduardo Moruzzi Marques (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”-Esalq); em Pirassununga, Marcelo Machado De Luca de Oliveira Ribeiro (Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos-FZEA); em Ribeirão Preto, Luciana Romano Morilas (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto-FEARP); em São Carlos, Marcelo Zaiat (Escola de Engenharia de São Carlos-EESC).

EXPRESSO ADUSP


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