A(o)s trabalhadora(e)s do Hospital Universitário (HU) da USP decidiram, em assembleia, organizar um ato para denunciar a situação de calamidade pela qual passa o hospital, com problemas como queda de energia, falta de água quente e enxurradas que jorram das luminárias e do forro a cada chuva.

O ato, convocado pela Adusp, pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), pelo DCE-Livre “Alexandre Vannucchi Leme” e por movimentos populares de saúde e de moradores como o Coletivo Butantã na Luta, assim como organizações estudantis, será realizado nesta quarta-feira (1/3), a partir das 12h, em frente ao HU, na Cidade Universitária.

A lista dos problemas do HU é grande. Recentemente o sistema elétrico entrou em colapso por falta de manutenção e o hospital foi sustentado por gerador a diesel. O ar condicionado central que refrigera o Centro Cirúrgico deixou de funcionar e a temperatura na sala de cirurgia chegou a quase 30°C, levando ao cancelamento de cirurgias e ao fechamento do atendimento no Pronto-Socorro. As caldeiras responsáveis pelo aquecimento de água também tiveram problema por falta de manutenção e os pacientes ficaram sem comida e sem água quente para banho.

Em 2013, a Reitoria da USP cortou a verba destinada à reforma estrutural do HU, que previa a modernização de todo o sistema elétrico, das caldeiras e do sistema hidráulico, além da expansão da capacidade física e da adequação às normas de segurança. Essas reformas incluiriam setores como os pronto-socorros Adulto e Infantil e a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Em 2014, a Reitoria tentou repassar a gestão do HU para a Secretaria Estadual de Saúde – que, diante de uma forte greve da(o)s trabalhadora(e)s e estudantes da USP, foi obrigada a recusar.

Em 2015, a Reitoria promoveu um Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV), que ocasionou a redução do número de funcionária(o)s do HU de 1.759 para 1.456. Em 2020, esse número caiu para 1.298, segundo o Anuário Estatístico da USP.

Essa política de desmantelamento mantida pelas sucessivas gestões da Reitoria da USP reduziu drasticamente a capacidade de atendimento à população da Zona Oeste da capital, bem como de estudantes e servidora(e)s da universidade, como demonstra a tabela abaixo, produzida pela Adusp (mais dados podem ser vistos aqui).

O Sintusp, a Adusp e o DCE-Livre denunciam que a Reitoria está deliberadamente contribuindo com o desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo papel fundamental foi evidenciado na pandemia da Covid-19.

Além disso, em junho de 2022, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior destinou R$ 217 milhões para reformas no Hospital das Clínicas de São Paulo e no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, ambos autarquias atualmente desvinculadas da USP e administradas por fundações privadas ditas “de apoio”, respectivamente a Fundação Faculdade de Medicina (FFM) e a Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do HCRP (Faepa).

No evento de doação, o então governador Rodrigo Garcia (PSDB) ressaltou a importância da decisão da universidade de investir nos HCs. Entretanto, internamente, a Reitoria afirma que a USP não tem condições de financiar o HU, que possui um orçamento total de cerca de R$ 301 milhões e é o único hospital da USP que ainda está sob sua administração direta. Pretexto semelhante foi utilizado por sucessivos reitores, a começar por M.A. Zago, contra o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru (HRAC), de modo a justificar sua extinção.

Dessa forma, cresce a suspeita de potencial conflito de interesses, uma vez que o reitor Carlotti Junior, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), foi presidente do Conselho de Curadores da Faepa de 2013 a 2016 e votou no Conselho Universitário, em 2014, a favor da entrega do HRAC à Secretaria Estadual da Saúde (“desvinculação”). A gestão do HRAC, “incorporado” ao novo Hospital das Clínicas de Bauru, foi repassada à Faepa. (O ex-reitor M. A. Zago, hoje presidente da Fapesp, também foi membro de conselhos da Faepa.)

Recentemente, a Reitoria apresentou uma proposta de investir R$ 150 milhões por ano para custear o atendimento médico de servidora(e)s docentes e não docentes da USP por meio de planos de saúde privados, ao invés de investir essa verba pública no HU.

As entidades questionam a absurda decisão da Reitoria de doar R$ 217 milhões para hospitais autárquicos administrados por fundações privadas e nada repassar para a realização de reformas que há anos são necessárias no HU. Além disso, denunciam a deliberada não reposição de cerca de 600 funcionária(o)s no quadro do HU. A reposição é absolutamente necessária e seria revertida em mais e melhor atendimento à população.

EXPRESSO ADUSP


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