Sociedade
Audiência pública do Condephaat em Piracicaba, em 20/5, debaterá projeto “Boulevard Boyes”, que ameaça patrimônio cultural e natural da cidade
O projeto “Boulevard Boyes”, que propõe a construção de quatro torres residenciais de aproximadamente 90 metros de altura no terreno da antiga Fábrica de Tecidos Boyes, em Piracicaba, vem provocando protestos dos movimentos sociais. Na próxima terça-feira, 20 de maio, às 13h30, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) deverá realizar uma audiência pública sobre o projeto, no Teatro Erotides de Campos, no Engenho Central.
“Trata-se de um projeto agressivo e atentatório à paisagem urbana ribeirinha ao Rio Piracicaba, de beleza cênica e de valor histórico-cultural e ambiental dos mais significativos do País, e que se encontra tombada e protegida legalmente pela municipalidade”, diz um abaixo-assinado que reúne a assinatura de diversas pessoas que compõem a comunidade da Esalq. A Fábrica Boyes, fundada por Luiz de Queiroz em 1874, representa um marco do pioneirismo industrial brasileiro, e sua preservação é considerada essencial para manter viva a memória da transição do Brasil Império e do trabalho escravo para o trabalho livre.

Além disso, o terreno é parte do legado de Luiz de Queiroz, patrono da Esalq. Deveria, portanto, ser adaptado para uso público, promovendo-se assim acesso democrático à história e à cultura local, de modo a fortalecer a identidade e o sentimento de pertencimento da população.
“Um espaço público bem planejado e inclusivo permite que gerações futuras compreendam as transformações sociais, econômicas e culturais que marcaram nossa trajetória coletiva, reforçando o sentimento de pertencimento e identidade local. O Projeto Boulevard Boyes é incompatível com a preservação do patrimônio cultural e natural de Piracicaba!”, enfatiza o abaixo-assinado proposto por docentes, funcionários(as) técnico-administrativos(as), estudantes e egressos da Esalq.
Audiência pública contará com pronunciamentos de movimentos sociais
Já existe um extenso roteiro de intervenções na audiência pública do Condephaat, que contará com a participação de diferentes entidades e grupos: Sociedade de Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba (Sodemap), Associação dos Moradores e Amigos de Piracicaba (Amapira), Associação de Moradores da Nova Piracicaba (AMA); Instituto Piracicabano de Estudos e Defesa da Democracia (IPEDD); Associação de Docentes da USP (Adusp); Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (NACE-Pteca) e Laboratório de Educação e Política Ambiental (OCA), ambos da Esalq; Centro Cultural Garapa; e Movimento Salve a Boyes.
Paulo Figueiredo e Eloah Margoni deverão abordar, pela Sodemap, aspectos como os impactos ambientais diretos e indiretos do empreendimento e as ameaças à biodiversidade local e às áreas de preservação permanente (APPs), bem como os riscos ambientais e de descaracterização do braço do Rio Piracicaba que passa dentro da Boyes.
Juan Sebastianes, da Amapira, falará do uso e ocupação do solo urbano e eventuais conflitos com a legislação municipal, da agressão ao patrimônio ambiental e histórico da cidade e de questões climáticas. Eveline Blumer, da AMA, discorrerá sobre riscos à saúde e à qualidade de vida da população vizinha, transtornos urbanos (aumento do tráfego e da poluição) e preocupações da comunidade com o modelo de desenvolvimento.
Ely Eser Barreto Cesar e Eduardo Gianetti, representantes do IPEDD, tratarão de falhas no processo democrático e na participação popular, estudos de impactos de vizinhança e impactos à mobilidade na região e crítica ao modelo de desenvolvimento excludente e insustentável. Sérgio Moraes, pela Adusp, explanará sobre o legado de Luiz de Queiroz e Ermelinda Otoni para a cidade e para o país, bem como sobre a necessidade de envolvimento da comunidade científica no debate público.
Em nome do NACE-Pteca, da OCA e do Redemoinho, Girlei Cunha abordará questões relacionadas à educação ambiental e à formação crítica sobre grandes empreendimentos, que envolvem ausência de comprovação da viabilidade ambiental e social; impacto sobre comunidades vulneráveis e juventude periférica; e perspectivas de desenvolvimento territorial justo e inclusivo. Antonio Chapéu, do Centro Cultural Garapa, comentará a importância da cultura popular na resistência comunitária; as dimensões simbólicas e afetivas do território; a cultura como forma de preservação ambiental e identidade local.
Artistas da região poderão se apresentar durante a audiência pública
Também deverão se pronunciar na audiência pública, pelo Movimento Salve a Boyes, Bartira Mendes, Fátima Scarpari, Antonio Gopper e Marcelo Guidotti, que são urbanistas e arquitetas(os); Dirceu Rother Junior (Nuno), professor de arquitetura; Paulo José Keffer Franco Neto, artista visual e engenheiro agrônomo; Pablo Carajol, historiador e gestor cultural; Fabio Rolin, Mariana Perecin, Jonas Parisotto e outras pessoas.
Entre os temas que abordarão se incluem a importância do complexo fabril e industrial da Boyes e do Engenho Central para a cidade, o estado e o país; o histórico de preservação da Boyes e a sua enorme importância para o Complexo Beira Rio; estudos de impactos visuais no entorno do empreendimento; o processo de gentrificação da orla da Rua do Porto etc.
Foram pensadas ainda, no decorrer da audiência pública, intervenções artísticas que demonstrem a riqueza cultural da região. Na lista dos nomes cogitados, alguns dos quais já confirmaram participação e outros não, constam Toninho da Viola, Tambu, Samba de Lenço (Mestra Ediana), Baque Caipira, Congada do Divino, Congada de São Benedito e Grupo Teatral do Garapa.
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