Universidade
No apagar da gestão Carlotti Jr.-Nascimento Arruda, “reitoráveis” se movimentam em busca de apoios; Comissão Eleitoral está designada, mas ainda não definiu calendário
A cinco meses do final do mandato conferido a Carlos Gilberto Carlotti Jr. e Maria Arminda do Nascimento Arruda, que se encerrará em janeiro de 2026, postulantes à Reitoria já se movimentam com desenvoltura na universidade, buscando apoios. Paralelamente, a USP prepara-se para conduzir o processo sucessório. No último dia 4 de julho, o Diário Oficial do Estado publicou portaria do reitor com a designação da Comissão Eleitoral, que será presidida por Celso Fernandes Campilongo, diretor da Faculdade de Direito (FD). Cabe ao grupo definir o calendário eleitoral, o que ainda não ocorreu.
Em maio, a Superintendência de Comunicação Social (SCS-USP) havia divulgado um “Protocolo de Compromisso com a Comunidade”, que define “os parâmetros de cobertura” do processo eleitoral pelas mídias oficiais da Reitoria e procura garantir “o apartidarismo, a independência e o não envolvimento com nenhuma das candidaturas”.
Pelo menos três pré-candidaturas já estão postas: a da pró-reitora de Inclusão e Pertencimento, Ana Lúcia Duarte Lanna (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design), tendo como companheiro de chapa Pedro Vitoriano de Oliveira (diretor do Instituto de Química); a do pró-reitor de Graduação, Aluisio Augusto Cotrim Segurado (Faculdade de Medicina), que tem como parceira de chapa Liedi Légi Bariani Bernucci (ex-diretora da Escola Politécnica e ex-presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas-IPT); e a de Marcílio Alves (Escola Politécnica), diretor da Fundação Universidade de São Paulo (FUSP), integrante do Conselho Superior da Fapesp e representante dos professores titulares no Conselho Universitário (Co).
Recentemente a FD noticiou, em postagem no Facebook, a realização de um encontro na unidade. “Ouvir as necessidades das faculdades da Universidade de São Paulo para construir um programa adequado pautou reunião (12/6) entre diretores e professores da Faculdade de Direito e a pró-reitora de Inclusão e Pertencimento, professora Ana Lucia Duarte Lanna, e Pedro Vitoriano de Oliveira, do Instituto de Química. A ocasião foi marcada pela apresentação das propostas de pré-candidatura à Reitoria da USP”, relata o texto.
“Aos diretores, Celso Campilongo e Ana Elisa Bechara, e aos docentes da FDUSP Gustavo Monaco, Janaina Paschoal, José Maurício Conti, Homero Batista, Otavio Pinto e Silva, Carlos Portugal Gouvêa; juntamente com Esther Rizzi (EACH) e Felipe de Souza Tarabola (FE), falaram do ganho de eficiência administrativa no bate-papo com os dirigentes das unidades”.
As três chapas atualmente em campo são constituídas por pessoas fortemente vinculadas à estrutura de poder da USP e, em especial, à gestão Carlotti Jr.-Nascimento Arruda, iniciada em 2022. Nenhuma das pré-candidaturas parece inclinada a questionar as políticas em curso na universidade nas últimas décadas e particularmente desde o advento da gestão M.A. Zago-V. Agopyan (2014-2017).
Entre as medidas decorrentes dessas políticas, em sintonia com o projeto neoliberal de universidade, estão o permanente arrocho salarial; a redução estrutural do corpo docente e do quadro de funcionários técnico-administrativos; a avaliação coercitiva-punitiva do corpo docente via Comissão Especial de Regimes de Trabalho (CERT) e agora também via Comissão Permanente de Avaliação (CPA); a destruição do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru (HRAC) e o desmonte do Hospital Universitário (HU); o fechamento da Creche Oeste; a consagração do eixo conceitual “empreendedorismo-inovação” como princípio basilar da USP; ampla liberdade de ação para as fundações privadas ditas “de apoio”, para a oferta de cursos pagos e outros projetos remunerados (e ou financiados por parcerias com organizações privadas).
A pré-candidatura Segurado-Bernucci, que dizem ser a preferida pelo reitor Carlotti Jr., é a mais emblemática dessa configuração e de um cenário de continuidade. A Pró-Reitoria de Graduação dirigida por Segurado, atendendo a uma denúncia apresentada pela coordenação do curso de Ciências Moleculares, instaurou processo administrativo-disciplinar (PAD) contra cinco alunos, por suposto “antissemitismo”. A pré-candidata a vice-reitora nessa chapa apoiou ardorosamente a resolução pró-empreendedorismo proposta ao Co pela Agência USP de Inovação (Auspin), no final da gestão Agopyan-Hernandes, e foi a escolhida pelo então governador João Doria (PSDB) para dirigir o IPT e dar prosseguimento ao processo de privatização daquele instituto.
O Informativo Adusp Online encaminhou perguntas às três chapas, mas elas não foram respondidas até o fechamento desta matéria. Caso as pré-candidaturas encaminhem respostas, o texto será devidamente atualizado.
Quanto ao processo eleitoral em si, vale lembrar que, ao contrário do que ocorre na maioria das universidades públicas brasileiras, na USP o processo de escolha de reitor(a) e vice-reitor(a) é não apenas indireto, mas bastante restrito. Após uma consulta ampla à comunidade, que é meramente simbólica, um colégio eleitoral reduzido, formado na sua maioria por professores(as) titulares, elege três chapas. A decisão final cabe ao(à) governador(a) do estado, que não necessariamente nomeará a chapa mais votada.
A posição da Associação de Docentes da USP sobre as questões acima elencadas encontra-se no site da entidade, na página referente ao Programa da Adusp para a USP.
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