Relatos sobre agroecologia na SAPO 2023 destacaram produção adequada de água e alimentos e combate à fome
Apresentação de Altamir Bastos (MST) sobre os sistemas agroflorestais

Na semana do Dia Mundial da Alimentação (DMA), foi realizado na Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq-USP) um evento no dia 19/10 inscrito na programação das Semanas Agroecológicas de Piracicaba Orgânica (SAPO), que conta com atividades ao longo de todo o mês de outubro. As palavras-chave propostas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para os debates do DMA em 2023 são “água, alimento e fome”. Portanto, tratar de agroecologia permite pensar em estilos de agricultura que respondem adequadamente aos desafios nestes três campos: produção de água em quantidade e qualidade; oferta de alimentos saudáveis e combate à fome com diversidade alimentar e geração de renda a partir de trabalho criativo, solidário e sadio.

Com esta proposta de reflexão, a primeira exposição do evento foi de Altamir Bastos, agricultor assentado e dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sobre os sistemas agroflorestais (SAF) em sua área de produção. Sua apresentação realçou os impactos positivos do SAF, especialmente aquele integrando horta, em termos econômicos, ambientais, sociais e culturais. Estes SAFs favorecem a vida do solo com muita biodiversidade, o que é uma maneira de aumentar a fertilidade natural do sistema, contribuindo ainda para conservação de água.

Participação de Cláudia Novolette, coordenadora interina do Comseas

Por outro lado, o escoamento de seus produtos ocorre por meio de uma “comunidade que sustenta a agricultura”, ou CSA. Os membros da CSA participam ativamente das escolhas do agricultor, por esta razão são identificados como “co-produtores”, constituindo um sistema de circuito curto no qual o agricultor é bastante protegido dos riscos inerentes à atividade agrícola. Bastos explicou que fornece cesta de alimentos semanalmente para cerca de 50 famílias participantes da CSA, a partir de um compromisso de pagamento mensal de uma cota que é estabelecida no coletivo, considerando os custos de produção e as intenções de investimento do agricultor.

Desta maneira, ocorre uma estabilidade muito maior para o planejamento produtivo, ainda evitando desperdícios e prejuízos. A CSA promove igualmente educação alimentar, pois incita à diversificação das dietas (inclusive integrando plantas alimentares não convencionais – PANCs), pois as escolhas de cultivo consideram adaptações das espécies e sazonalidade. Altamir Bastos salientou também a concepção de um módulo de SAF de 600 m2 constituindo um modelo para sua implantação, seja por agricultores iniciando este tipo de experiência, seja também por comunidades urbanas. Neste último caso, seria uma forma de atender às necessidades alimentares das cidades com produtos saudáveis.

Em seguida, Cláudia Novolette, presidente interina do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (Comsea) de Piracicaba, destacou o papel desta instância participativa na valorização da agricultura familiar e da agroecologia. Relembrou as dificuldades do conselho diante do desmantelamento do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), ocorrido nos últimos quatro anos. Neste quadro, o conselho local representou uma força de resistência aos desmandos nacionais. Atualmente, está em curso um processo de reconstrução das políticas de segurança e soberania alimentar, especialmente com a realização das conferências em níveis municipal, regional, estadual e, em dezembro, nacional. Novolette representará Piracicaba nesta última conferência que ocorrerá em Brasília.

Participações da Casa do Hip Hop, Tô Aqui, Guandu, Cajan, Baobás e Terra

O terceiro palestrante foi Joel Cardoso de Oliveira, em nome da Associação Comunitária, Cultural, Educacional e Política Casa do Hip Hop de Piracicaba. Sua mensagem foi muito contundente em favor da agroecologia, salientando em particular o papel da Esalq, como escola de primeira grandeza no cenário nacional de estudos agrários, para a eclosão de uma revolução, cada vez mais urgente, capaz de transformar com perspectiva ecológica a paisagem agroalimentar do país.

Joana Machado Banov apresentou por sua vez o movimento Tô Aqui, nascido no período da pandemia de Covid-19, que provocou uma tragédia no campo da alimentação, muito agravada pelo desmonte das ações públicas com vistas à segurança alimentar. Assim, seu intuito à época foi fornecer alimentos saudáveis (cestas verdes) para comunidades em situação de insegurança alimentar grave, com a aquisição de alimentos de agricultores familiares com práticas ecológicas, iniciativa que se mantém ainda nos dias atuais.

A palestrante explicou, porém, que a ação do Tô Aqui não se limita a um assistencialismo imediatista, mas visa promover nos pontos de distribuição de cestas discussões sobre segurança e soberania alimentar com intuito de provocar reflexão sobre uma transformação estrutural do país. A ação mais recente do movimento se refere à implantação de horta comunitária nas periferias do município, enquanto estratégia para produção agroecológica local visando a ampliação do acesso aos alimentos saudáveis em meio urbano.

As últimas apresentações foram de grupos de extensão ou coletivos da Esalq. Assim, as experiências da Rede Guandu de produção e consumo responsável, que conta com apoio do grupo “Comércio justo e cultura alimentar” (Cajan), foram destacadas, assim como as atividades do coletivo antirracista Baobás. Os representantes do grupo Terra (“Territórios rurais e reforma agrária”) salientaram seus projetos agroecológicos em assentamentos rurais paulistas.

A atividade contou com a presença de cerca de 100 pessoas, entre estudantes da Esalq e munícipes, tendo sido concluída com um debate sobre o papel da universidade para favorecer a agroecologia e a agricultura familiar. Entre muitas ideias, a proposta de articulação de ações dispersas foi o mote para o convite às organizações presentes para que iniciem um planejamento de curto, médio e longo prazo visando criar estruturas mais consistentes para o desenvolvimento da agroecologia no município de Piracicaba. O GT de Políticas Agrárias e Socioambientais da Adusp e o Comsea, parceiros na promoção do evento (contando com muitas outras colaborações), estarão atuando para viabilizar a efetivação deste planejamento.

EXPRESSO ADUSP


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