Violência
Fuzil no campus é inaceitável, mas precedentes semelhantes foram chancelados pela própria Reitoria
A entrada, nos campi da USP, de policiais pesadamente armados voltou a ser notícia no dia 22 de março, quando um policial civil, com o intuito de entregar uma intimação a uma estudante como parte de um inquérito resultante de um Boletim de Ocorrência, circulou pelas dependências do Conjunto Residencial (Crusp) e entrou no Centro de Acolhimento e Referência para Estudantes (CARE), na Cidade Universitária do Butantã, carregando um fuzil a tiracolo. Além disso, deliberadamente ou não, ele teria apontado a arma para estudantes presentes.
Infelizmente, esse tipo de incidente não é desconhecido nesta universidade. Deixando de lado antecedentes mais antigos (como a invasão da Cidade Universitária do Butantã por blindados do Exército em 1968), a entrada de policiais pesadamente armados tem sido mais ou menos frequente desde a gestão Suely Vilela-Franco Lajolo, que autorizou a repressão aberta da Polícia Militar aos movimentos sociais no fatídico dia 9 de junho de 2009, da qual decorreram diversos casos de agressão, inclusive a docentes.
Um sargento PM armado com uma submetralhadora foi flagrado na cena dos acontecimentos, no entorno da Reitoria, como registraria depois a edição 45 da Revista Adusp.
Em setembro de 2010, após o assassinato de um estudante da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) no estacionamento da unidade, por dois assaltantes que pretendiam levar seu carro, a gestão J.G. Rodas-Hélio Nogueira assinou convênio com a Secretaria de Segurança Pública, em setembro de 2010, para patrulhamento do campus do Butantã por um pelotão da PM.
Nascia aí o suposto “policiamento comunitário” ou “Sistema Koban”, que logo entraria em ação, passando a provocar inúmeros conflitos com estudantes e funcionário(a)s, diversos dos quais foram documentados nas publicações da Adusp, inclusive prisões arbitrárias de dirigentes do Sintusp e de discentes.
Em 8 de novembro de 2011, Rodas patrocinou uma verdadeira operação de guerra na Cidade Universitária: a PM, atendendo a um mandado judicial de reintegração de posse emitido a pedido do reitor, “empregou metade de um batalhão — cerca de 400 policiais do Batalhão de Choque e da Cavalaria, do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) e do Grupo de Operações Especiais (GOE) — e um helicóptero Águia para desocupar o prédio da Reitoria, que um grupo de alunos havia ocupado dias antes” (Revista Adusp 52, p. 44).
Uma nova contribuição à escalada da repressão na USP partiu da gestão M.A. Zago-V. Agopyan, no trágico dia 7 de março de 2017. Decidido a reprimir a mobilização de funcionário(a)s e estudantes contra os planos da Reitoria de aprovar no Conselho Universitário seu pacote de austeridade fiscal (“Parâmetros de Sustentabilidade”), Zago chamou o Pelotão de Choque da Força Tática da PM, apoiado no pelotão local do “Sistema Koban”, e o que se viu foi um show de violência policial, com farto uso de armamento “menos letal”: spray de pimenta, bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha. Uma sala do andar térreo da própria Reitoria foi improvisada como cárcere de funcionário(a)s e estudantes detidos.
Voltando ao caso de 22 de março deste ano: a Divisão de Promoção Social e Esporte da Pró-Reitoria de Pertencimento e Inclusão (PRIP) emitiu nota de protesto contra a entrada do policial civil armado com fuzil, considerando que fatos como esse “são inadmissíveis no espaço universitário”, e a própria pró-reitora Ana Lúcia Duarte Lanna considerou o incidente “chocante, gravíssimo”, e tomou providências para evitar que se repita.
Até agora, porém, o histórico da Reitoria, apenas esboçado acima, situou-se no sentido contrário aos gestos tomados pela PRIP. Resta conferir qual será a relação entre a gestão Carlotti Jr.-Maria Arminda e as instituições policiais no futuro próximo.
O atual reitor foi importante partícipe da gestão M.A. Zago-V. Agopyan, na condição de pró-reitor de Pós-Graduação, não havendo registro de qualquer iniciativa sua, ainda que meramente retórica, de crítica à pancadaria de 7 de março de 2017, que garantiu a aprovação dos “Parâmetros de Sustentabilidade” — álibi, aliás, para o arrocho salarial e outras medidas de “contenção de gastos” que sufocam a USP até os dias de hoje.
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