No último dia 10 de março, a trabalhadora terceirizada Maria Ofélia da Silva Carvalho, que prestava serviço no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), na Cidade Universitária do Butantã, faleceu subitamente quando se encontrava no vestiário, nas dependências daquela unidade. No entanto, o IAG não suspendeu as atividades e continuou em funcionamento enquanto o corpo permanecia no local, à espera de ser retirado pelo Instituto Médico-Legal (IML).

Arquivo de famíliaArquivo de família
Maria Ofélia Carvalho

“Não deixa de ser chocante que, num momento de profunda tristeza, os dirigentes da unidade a mantenham funcionando enquanto ali jaz um corpo de uma trabalhadora que é parte da história da USP. Não deixamos de pensar que se fosse um professor morrendo em uma sala de aula o tratamento seria diferente”, lamentou o Boletim do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), na notícia intitulada “Morreu na contramão atrapalhando o público”, alusão a um verso da célebre canção de Chico Buarque “Construção”, que narra o cotidiano e a morte de um operário da construção civil.

“Foi ataque cardíaco. Mas não houve suspensão de atividades. Um desrespeito”, declarou ao Informativo Adusp Online um docente da USP que soube do ocorrido imediatamente, por uma conhecida que se encontrava no IAG. “Funcionárias terceirizadas não têm disponibilidade para fazer tratamento médico”, observou ele. Maria Ofélia foi velada e sepultada na tarde do dia 11, no Cemitério da Saudade, em Taboão da Serra (SP).

O Informativo Adusp Online encaminhou e-mail ao professor Ricardo Ivan Ferreira da Trindade, diretor do IAG, indagando por que motivo a unidade não suspendeu o expediente após a morte repentina de Maria Ofélia, pelo menos enquanto seu corpo permanecia no local. Perguntou também por que razão não havia qualquer menção à morte da trabalhadora no site do IAG.

Nesta sexta-feira, 14 de março, o professor Trindade encaminhou suas respostas. “Agradeço pelo seu contato e pela oportunidade de esclarecer os questionamentos sobre o falecimento da funcionária Maria Ofélia da Silva Carvalho. Este foi um evento traumático para o instituto e ainda estamos procurando a melhor forma de lidar com ele”, declarou o diretor. A seguir, suas explicações.

Íntegra das explicações do diretor do IAG sobre o episódio

Em relação ao dia do falecimento da servidora, nos pautamos pelas seguintes diretrizes: dar acolhimento às colegas e à família, e minimizar o sofrimento do restante da comunidade do IAG que trabalha no nosso prédio principal, no Campus.

A funcionária foi encontrada desacordada no banheiro do Prédio da Administração. Nossos brigadistas atuaram imediatamente, e as autoridades policiais e agentes de saúde estiveram no IAG em seguida. Após a confirmação do falecimento, nosso foco principal foi prestar apoio à família e resolver as questões burocráticas que surgiram, e que nestes casos são muitas. Toda a equipe da empresa terceirizada foi imediatamente dispensada, e nenhum dos funcionários da Sra. Ofélia, assim como seus familiares, deixou o Instituto até que o corpo fosse removido, como nos orientaram o SAMU e depois a polícia.

A empresa Pluri esteve presente durante todo o processo, garantindo suporte à família nesse momento difícil. Apesar da gravidade da situação, as atividades foram mantidas para que pudéssemos atender às necessidades imediatas da família, das colegas, proceder com a liberação do corpo e demais questões burocráticas que envolveram a polícia militar, a polícia civil e a perícia do IML.

Quanto à ausência de menção ao falecimento da funcionária no site do IAG, informo que este não é o meio pelo qual costumamos informar eventos de falecimento na Instituição. No Instituto, seguimos a rotina de informar os falecimentos de servidores, ex-servidores, docentes, familiares e alunos, por meio do e-mail institucional “Comunicados IAG”. Fizemos uma mensagem no mesmo dia do falecimento na qual reconhecemos a valiosa contribuição de Maria Ofélia ao longo dos anos em que esteve conosco. Além disso, faremos uma roda de conversa com o Prof. Renato Cymbalista, pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, para tratar do luto de nossa comunidade, dos colegas, docentes e alunos que conviveram com a funcionária ao longo desses 15 anos.

Reforçamos que nossa equipe esteve totalmente empenhada em atender às demandas emergenciais e em garantir que a família recebesse o apoio necessário. Por iniciativa nossa, e em conjunto com o Sindicato de Servidores, fizemos uma arrecadação solidária junto à nossa comunidade em apoio à família de Maria Ofélia.

Atenciosamente

Ricardo Trindade

Diretor

(Esta matéria foi atualizada em 14/3 para inclusão da resposta do diretor do IAG)

EXPRESSO ADUSP


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