Meio ambiente
Governo estadual derrubou 589 árvores para realizar obras de ampliação do HC de Ribeirão Preto; para compensar, plantou 3.800 mudas em outro bairro

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Ribeirão Preto (SMMA) autorizou em fevereiro deste ano, mediante compensação ambiental futura por meio do plantio de mudas, a derrubada de 589 árvores no terreno onde está sendo construída a nova Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP). O HCRP, que no passado pertenceu à USP, desde 2011 é uma autarquia estadual diretamente vinculada à Secretaria de Estado da Saúde.
Foram extraídos da área, situada na Avenida Independência 4.770, “413 eucaliptos em formação de bosque”, além de 112 árvores nativas regionais, 55 outras consideradas exóticas e nove dadas como mortas. Entre as nativas havia exemplares de ipês-amarelos, ipês-brancos, amendoinzeiros-bravos, amendoinzeiros-do-campo, jenipapos, crindiúvas, embaúbas, tamanqueiros, aroeiras-pimenteiras, mutambos, guatambus, peitos-de-pombo, jatobazeiro, saguaragi, ipê-rosa, e até mesmo três cedros-rosas (Cedrela fissilis), espécie “com grau de ameaça de extinção”, e para a qual se exige uma compensação “50:1”, ou seja: o plantio de 50 mudas para cada árvore abatida.
As exóticas incluíam 30 jacarandás-mimosos (Jacaranda mimosifolia), 18 aroeiras-chorão (Schinus molle), cinco abacateiros (Persea americana), um cajá-mirim (Spondias mombin) e um eucalipto isolado.
O Relatório Técnico de Vistoria emitido pela SMMA atende a uma solicitação do HCRP. Nesse documento, embora conste como “proprietário do imóvel vistoriado” a “Fazenda do Estado de São Paulo” (governo estadual), também se diz que os exemplares arbóreos relacionados no processo administrativo para extração e ou poda “estão em área interna particular”, o que parece contraditório.
A SMMA autorizou a extração das 589 árvores, porém “SOMENTE após reposição/compensação especificada” (destaque no original). O Informativo Adusp Online apurou que o HCRP já efetuou, a título de compensação ambiental, o plantio de 3.872 mudas de espécies árboreas nativas, conforme indicado pelo Relatório Técnico de Vistoria.
As mudas foram plantadas em duas áreas de um bairro da periferia de Ribeirão Preto, Jardim Paiva, indicadas pela própria SMMA. No entanto, a grande maioria das mudas corresponde a espécies diferentes daquelas que foram identificadas no terreno da Avenida Independência.
“O eucalipto não tem relevância ecológica, ele é muito grande e pode cair com o passar do tempo. Mas as árvores nativas sim. Temos três cedros-rosa, árvores nativas ameaçadas de extinção, e não só elas. Era importante ver o projeto para saber se todas as árvores precisariam ser derrubadas. Isso teria que ter sido feito, esse diálogo entre o projeto e o que tem na área”, disse especialista ao Informativo Adusp Online, após examinar o documento da SMMA.
“Porque algumas árvores poderiam ser mantidas, com adequações ou não. Às vezes quem faz esse projeto quer ‘limpar’ totalmente a área, e nem sempre isso é necessário”. No limite, diz, a Prefeitura Municipal poderia até vetar o abate dos exemplares de cedro-rosa.
A construção da nova Unidade de Emergência do HCRP tornou-se o pivô de uma controvertida transação imobiliária, uma vez que o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Jr., submeteu ao Conselho Universitário (Co) proposta de compra do terreno seguida de posterior cessão ao governo estadual, a pretexto de “expansão do câmpus de Ribeirão Preto”. O projeto foi aprovado pelo Co na reunião de 3 de junho último.
O preço do terreno, definido pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), é de R$ 281 milhões. Como esses recursos sairão das receitas próprias da USP, o reitor procura driblar as críticas alegando que o orçamento da universidade não será afetado. Mas não consegue explicar a lógica da aquisição, por elevado valor, de um terreno que depois será, na prática, doado ao próprio vendedor, no caso o governo estadual.
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