Greve
Greve é forte nas federais, mas o governo não negocia
A greve nas instituições federais de ensino superior completou um mês, sem que o governo Dilma se digne a sentar à mesa de negociações com o Comando Nacional de Greve do Andes-Sindicato Nacional. O Ministério do Planejamento chegou a anunciar que o faria, mas desmarcou reunião prevista para 18/6.
“Intransigência do governo, falta de sensibilidade. Nada foi sinalizado”, comenta o professor Francisco Lacaz, diretor da Associação dos Docentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Na sua opinião, o governo deve estar apostando na desmobilização que costuma ocorrer num período em que muitos tiram férias. Por isso, esta semana deve registrar mobilização mais intensa e maior tensionamento, bem como crescente unificação com as demais categorias do funcionalismo federal.
Um ato público de protesto realizado em 28/6 na capital paulista, diante da sede regional do Banco Central, reuniu docentes da Unifesp e da Universidade Federal do ABC (UFABC), funcionários do Hospital São Paulo (hospital-escola da Unifesp), representados nacionalmente pela Fasubra, funcionários do próprio Banco Central (prestes a entrar em greve) e do Judiciário, além de estudantes da UFABC e Unifesp. A professora Lighia B. Matsushigue leu nota de apoio enviada pela Adusp.
A greve é expressiva em todo o país: “Atinge quase todas as universidades, das grandes somente a Universidade Federal do Rio Grande do Norte não entrou”, diz Lacaz. Em São Paulo o movimento é firme na Unifesp e conta com a solidariedade dos estudantes dos vários campi. Na UFSCar, onde o campus central não parou, os docentes dos campi de Sorocaba e Araras aderiram à paralisação.
Na UFABC a adesão é grande: “A graduação está toda paralisada e parte significativa da pós-graduação também. Há o apoio massivo dos alunos à greve. Eles, aliás, têm participado intensamente e proposto outras atividades relacionadas à greve”, declara a professora Keila Pinezi, coordenadora do programa de pós-graduação em Ciências Humanas e Sociais. “O conjunto de atividades de greve na UFABC tem sido constituído por aulas e palestras sobre cidadania e movimentos sociais, atos públicos, filmes e debates sobre o movimento grevista na história do ABC paulista”.
Outros Estados
Na Universidade Federal do Pará a greve também é intensa, relata a professora Rosaly Britto. “Alguns cursos de pós-graduação prosseguiram com as aulas, o que não chega a ser uma novidade na UFPA. Na graduação pode-se dizer que a paralisação é quase total. Uma rápida passagem pelo campus revela isso, pois até mesmo a biblioteca está totalmente paralisada, com um ou dois funcionários sentados em frente à porta semiaberta, apenas para receber as devoluções dos livros emprestados antes da greve”.
Na avaliação de Rosaly, “impera um sentimento de indignação e revolta com o nível de achatamento dos salários, mesmo por parte de setores tradicionalmente resistentes à greve”. Ela cita dados divulgados pelo Andes-SN, segundo os quais os professores são os profissionais de nível superior mais mal pagos da União, e para cujo ingresso na carreira se exige pós-graduação, o que não acontece com a esmagadora maioria das demais carreiras de nível superior. “Para se ter uma ideia, um escrivão da Polícia Federal, função de nível médio, está doze posições à frente, salarialmente falando, dos professores doutores em regime de 40 horas. Não é um absurdo total?”
A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) “está praticamente 100% parada na graduação”, informa a professora Cláudia Lahni. Na pós-graduação a greve é parcial. “Na minha avaliação há um desânimo, por parte de docentes, em função de não sermos atendidas pelo governo. Isso de cancelar negociação por causa da Rio+20 foi péssimo”, critica.
Inúmeras entidades nacionais e mesmo internacionais já se manifestaram em apoio ao movimento e instando o governo federal a abrir negociações efetivas com a categoria em greve. É isso também que a Adusp espera!
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