Ensino à Distância
Univesp e cursos à distância na USP, equívocos
Mais de 990 estudantes se formaram pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) no dia 28/7. A turma de Pedagogia, curso oferecido em parceria com a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), é a primeira a concluir três anos de aulas. Curiosamente, a formatura do curso à distância ocorreu em cerimônia presencial no Palácio dos Bandeirantes, com anúncio de ampliação de vagas da Univesp, das atuais 1.710 (licenciaturas oferecidas junto à USP e à Unesp), para 5.000 até 2014.
Durante a cerimônia, o governador Alckmin falou do aumento de vagas, por meio da criação de sete novos cursos de graduação e da contratação de pessoal. Para tanto, na ocasião, foi assinado um decreto, que estabelece a definição do novo quadro de docentes e funcionários da Fundação Univesp, criada em 2012. Assim, a previsão é de que a instituição quadruplique as vagas já no próximo ano. “Nós teremos curso de Pedagogia, para o Ensino Médio, Matemática, Física, Química e inclusive duas [sic] de engenharias, Engenharia de Produção e de Computação também estão sendo elaborados”, disse Alckmin à Univesp TV.
Eàd USP
A criação da Univesp, em 2008, e o viés dos cursos de graduação oferecidos por ela propõem a “superação de um problema que, no Brasil, adquiriu caráter emergencial: a carência de professores de língua portuguesa e de ciências (física, química, biologia e matemática)”, segundo texto oficial da instituição que explica as intenções do Curso de Licenciatura em Ciências (LC – Ensino a Distância) oferecido em parceria com a USP desde 2010, e coordenado pelo professor Gil da Costa Marques, do Instituto de Física (IF).
Na USP, o curso se traduz em pelo menos 10 horas semanais (2h por dia) relativas a atividades online, mais 8 horas de aulas presenciais aos sábados no campus onde o estudante está matriculado, chamado de “polo”. Com carga horária de 2.865 horas de aulas, em 2013, a Licenciatura em Ciências oferecerá 120 vagas, associadas ao polo do campus de São Paulo, e 40 para polos de cada um dos demais campi: Jaú, Lorena, Piracicaba, Ribeirão Preto, Santos e São Carlos. Bem como o vestibular tradicional da universidade, o processo seletivo ocorrerá entre novembro e janeiro de 2014.
Além disso, a Universidade se prepara para mais uma parceria com a Univesp, com respaldo na retórica de inclusão e acesso ao ensino — à distância, porém. As aulas da pós-graduação em Ética, Valores e Cidadania na Escola terão início em 26/8. O processo seletivo, administrado pela Fuvest e previsto para 11/8, é direcionado a professores, coordenadores pedagógicos, vice-diretores e diretores de escola no Estado de São Paulo. Serão oferecidas 300 vagas nas cidades de Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, Santos, São Carlos e São Paulo. O curso terá duração de 16 meses e carga horária de 480 horas, com encontros presenciais uma vez por semana.
Texto de apresentação no site da Univesp (http://goo.gl/SVcQp0) afirma que o objetivo do curso é “oferecer aos profissionais da educação básica do Estado de São Paulo conhecimentos sobre ética profissional e na educação, os processos de construção de valores socialmente desejáveis e seus reflexos para o desenvolvimento da cidadania ativa”.
Iniciativa questionável
Para Otaviano Helene, professor do Instituto de Física e membro do Grupo de Trabalho de Educação da Adusp, a premissa da Univesp é equivocada. Ele chama a atenção para a necessidade de melhoria e valorização da carreira docente, em especial no que se refere às condições de trabalho e salário, antes mesmo da discussão sobre a qualidade e a eventual necessidade de novos cursos à distância. “No Brasil, não existe uma falta absoluta de professor. Temos licenciados que fizeram cursos em boas universidades, mas que não estão dando aulas. Eles estão atuando em outras profissões mais gratificantes do ponto de vista material e salarial”.
Helene defende que o ensino presencial é fundamental para a formação ampla, que envolve a interação entre pessoas e conteúdos em um ambiente propício a trocas de experiências, individuais e coletivas, objetivando chegar-se a um processo de aprendizagem significativa. E questiona o fato de o ensino dito semipresencial “ser oferecido para pessoas que têm menos poder aquisitivo, que muitas vezes moram em lugares onde as próprias condições de estudo e de moradia são precárias”. Quem “mais precisa de ensino presencial irá receber ensino à distância”, avalia.
“Seria possível utilizar o ensino à distância para formações complementares, como acontece em outros países, e casos extremos de inclusão e acessibilidade. A questão é que, no Brasil, o ensino à distância está chegando para substituir o presencial. Ele não é uma necessidade, porque já estão sobrando vagas no ensino superior presencial”, embora no setor particular e de qualidade questionável. Helene reafirma que a formação inicial tem que ser presencial, de preferência em instituições públicas, conforme posição histórica do GT Educação da Adusp. (Vide a respeito: http://goo.gl/Z8pzre).
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