Bordados que tecem a memória das lutas, imagens das mulheres latino-americanas e pintura “ao vivo” buscam vincular arte, política e ciência

Exposições e demonstração integram a agenda de atividades artísticas e culturais do 39º Congresso do Andes-SN, que termina neste sábado (8/2) no Centro de Difusão Internacional da USP, em São Paulo

Uma amostra de cinco peças “representa”, no 39º Congresso do Andes-Sindicato Nacional, a exposição de bordados Linhas de Luta, que reúne vinte e nove trabalhos especialmente realizados com o intuito de celebrar os dez anos de reorganização da Seção Sindical do Andes-SN na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Não são bordados comuns, tanto pela temática engajada como por suas características físicas.

Bordado de Olinda Evangelista rememora manifestação de 2019 em Florianópolis (Foto: Adusp)

“Em 2019 comemoramos dez anos de reorganização da seção sindical. A professora Olinda Evangelista, que é sindicalizada da nossa seção sindical, propôs para a gente realizar uma exposição de bordados a partir de fotos e trabalhos, cartazes, materiais que a seção havia realizado nesses dez anos de existência. Assim, ela fez um convite para uma rede de bordadeiras que fazem bordados políticos, e dessa rede vinte e nove mulheres aceitaram”, explicou ao Informativo Adusp a professora Adriana D’Agostini, presidente da Seção Sindical, conhecida pela sigla Andes-UFSC.

Entre as vinte e nove autoras de trabalhos há docentes da UFSC, funcionárias técnico-administrativas (TAEs) e, ainda, bordadeiras que não têm vínculo com a universidade. “Elas foram à nossa seção sindical, nós recolhemos material, cada uma escolheu um e fez um bordado a partir dessa foto, cartaz ou outro material. Que a gente percebeu desses vinte e nove bordados? Que temos de fato uma história de luta. Estão aí presentes as reivindicações, as manifestações, a mobilização e a luta”.

De acordo com Adriana, os trabalhos escolhidos são muito significativos para pensar a relação da Andes-UFSC com o Sindicato Nacional, em relação à questão da Ditadura Militar, à reforma da Previdência, às manifestações sobre os cortes de verba, à greve dos docentes universitários e ao Dia do Trabalhador. “São lutas de todos. A gente traria também essa reflexão, pensando um pouco em como se coloca na luta, e como vincular arte, ciência e política, que é um elemento fundamental para a gente dar um passo à frente”.

Mulheres latino-americanas e a “necessidade de marchar, lutar e resistir”

   A mulher latino-americana, tema da exposição da fotógrafa Fran Rebelatto

Outra exposição presente no espaço do CDI, onde ocorrem as plenárias do Congresso, é Mujeres Latinas em Lucha – Mulheres em luta pela Argentina, Bolívia, Brasil, Cuba, México, cuja autora é a fotógrafa e cineasta Fran Rebelatto. São imagens que procuram registrar a mulher latino-americana em movimento, principalmente nas lutas sociais, mas também no cotidiano. Quase todas em preto e branco, para “chamar atenção muito mais pelo contraste que está posto, do que pela cor”, diz Fran, que é professora de fotografia do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).

“Como estou em uma universidade da América Latina, com estudantes de todos os países, comecei a tentar pensar em uma trajetória pelo continente para conhecer as diferentes realidades, que sabia que eu ia encontrar pelas conversas com nossos estudantes. É um projeto de alguns anos já, mais ou menos cinco anos em que estou tentando sempre que possível percorrer países do continente e identificar movimentos de mulheres e situações que possam dar conta de mostrar nossa luta, todos os enfrentamentos que a gente tem que fazer, tanto das condições de trabalho, como das pautas especialmente do 8 de Março”.

Neste ano, ela pretende registrar o 8 de Março no Chile. “Todas nós estamos atravessadas, enquanto mulheres, por diferentes formas de resistência, e é isso que as imagens querem expressar. Ou seja, territorialmente são lugares diferentes, distantes, mas estamos unidas por essa necessidade de marchar, de lutar e de resistir”. É o que as fotos de Fran procuram mostrar, do Zócalo a Santa Fé, de Sucre a Recife, passando por Havana. No material de apoio da exposição, o texto termina com duas frases marcantes: “Marchamos e avançamos! Abajo el patriarcado!

HypnoOprimido, uma denúncia da “invasão cultural permanente”

    Na entrada do CDI, Daniel Branco inicia sua obra (Foto: Daniel Garcia)

Outra atividade artística do Congresso foi protagonizada pelo jovem artista plástico Daniel Branco, que realizou uma pintura ao vivo (#LivePaint) na entrada do CDI, no primeiro dia do evento (4/2). Intitulada HypnoOprimido, foi feita com spray e látex num painel de madeira de 1,9 metro x 2,8 metros e o autor a define como “um estudo sobre a visão da consciência do oprimido”.

Segundo Daniel, “a dominação do opressor contra o oprimido acontece por meio da tentativa de conquista permanente de um pelo outro, da divisão para manter a opressão, dividir para enfraquecer”, bem como por intermédio “da manipulação através dos meios de comunicação de massa, dessa invasão cultural permanente que é uma forma de penetrar na cultura do outro impondo sua lógica, sua visão de mundo, quase cancelando a visão do oprimido e sua própria cultura”.

Em resumo, na visão do artista o “sistema corta a face, manipula o status quo para manter tudo dividido, estagnado e sonolento”. Para ele, não existe equilíbrio e tudo é desigual. “E mesmo sem saber, continuamos distraídos mas curiosamente unidos pelas nossas diferenças, prontos para acordar…”. A obra de Daniel permanece no local, para fruição pelos participantes do Congresso.

EXPRESSO ADUSP


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