Andes-SN
Unidade na luta contra cortes na educação e pela defesa das liberdades democráticas é a tônica da abertura do 39º Congresso do Andes, na USP
“Há retrocesso não apenas no financiamento, mas na concepção de ciência e tecnologia, com a nomeação de um presidente da Capes que defende o design inteligente, que nada mais é do que criacionismo. Isso é uma sinalização de que esse obscurantismo não é cortina de fumaça”, disse Antonio Gonçalves Filho, presidente da entidade. Encontro reúne cerca de 650 participantes até o próximo sábado
A necessidade de unidade na luta contra as políticas do governo Bolsonaro – ataques aos direitos sociais e trabalhistas, cortes na educação e na ciência, restrições às liberdades democráticas e perseguição de lideranças e movimentos sociais, entre outros – foi a tônica dos pronunciamentos de docentes e convidados na sessão de abertura do 39º Congresso do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), na manhã desta terça-feira (4/2). Vários oradores afirmaram que as mobilizações planejadas para o próximo dia 18/3 representam uma oportunidade para essa articulação conjunta não só das categorias ligadas à educação, mas para o conjunto da classe trabalhadora. Também houve várias manifestações de solidariedade aos petroleiros, que iniciaram uma greve no dia 1º/2.
A abertura foi realizada no auditório do Centro de Difusão Intenacional (CDI) da USP, na Cidade Universitária. O congresso, que reúne cerca de 650 participantes entre delegados, observadores, convidados e imprensa, tem como tema “Por liberdades democráticas, autonomia universitária e em defesa da educação pública e gratuita”. Os debates se estendem até o próximo sábado, com atividades no CDI e na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A Adusp é a entidade anfitriã do encontro.
Na sua fala, Antonio Gonçalves Filho, presidente do Andes, afirmou que entre as questões a serem enfrentadas pelos trabalhadores neste ano, e sobre as quais a entidade deve se posicionar no congresso, estão as consequências da reforma da Previdência do governo federal e os projetos de reforma nos estados.
“Os cortes da educação, a partir da nossa luta, foram descontingenciados, mas não há tempo para que todos os empenhos possam ser executados. Há retrocesso não apenas no financiamento, mas na concepção de ciência e tecnologia, com a nomeação de um presidente da Capes que defende o design inteligente, que nada mais é do que criacionismo”, continuou Gonçalves. “Isso é uma sinalização de que esse obscurantismo não é cortina de fumaça. Isso é uma política que estrutura o sistema capitalista, contra o qual o Andes muito fortemente tem se posicionado.”
Serenidade e discernimento para lutar em todas as frentes, da educação ao SUS
Michele Schultz Ramos, 1ª vice-presidenta da Adusp, propôs que os debates do congresso sejam realizados com serenidade e discernimento, e que as diferentes posições sejam defendidas sem desrespeito. Michele deu as boas vindas a todos e todas as participantes e agradeceu aos docentes envolvidos na comissão organizadora do congresso – e, especialmente, à equipe de funcionários da Adusp, que trabalhou diretamente em todos os detalhes de infraestrutura e organização do evento.
Entre os convidados que fizeram uso da palavra, Iago Montalvão, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), lembrou as mobilizações lideradas pelo movimento estudantil no ano passado e anunciou o lançamento da campanha #EuDefendoAEducação, que ocorrerá em março e vai abordar, entre outros temas, o que as universidades produzem em cultura e extensão. Aluno da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, Montalvão disse que a campanha também visa a fazer com que os estudantes voltem a ocupar as ruas.
Gabriel Colombo de Freitas, da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e doutorando da Esalq, por sua vez, mencionou a precarização das condições de trabalho nas instituições públicas e as estratégias de mercantilização da educação por parte do governo federal.
Marie-Claire Sekkel, docente do Instituto de Psicologia da USP, representou o Centro de Estudos e Defesa da Infância (Cedin), criado a partir da mobilização em defesa da manutenção das creches da USP. A professora apresentou aos participantes a revista Razões para exigir do reitor a imediata reativação da Creche Oeste, publicada em outubro de 2019 pela Adusp.
Mario Balanco, da coordenação do Coletivo Butantã na Luta, fez um histórico do movimento de luta pela reestruturação do Hospital Universitário da USP e defendeu a criação de um fórum nacional para articular os hospitais universitários de todo o país, além de reforçar a necessidade de que os movimentos e coletivos trabalhem pela saúde pública e pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Jupiara Castro, do Núcleo de Consciência Negra da USP (NCN), também salientou que é necessário constituir uma frente em defesa dos direitos da classe trabalhadora, da educação e da saúde públicas.
Manifestações de representantes de vários setores sociais
Também se manifestaram na mesa de abertura: Heloísa Buarque de Almeida, docente da FFLCH e integrante da Rede Não Cala; Tânia Godoi, do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS); Lucilia Augusta, da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (Anfope); Débora Lima, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST); Rosana Fernandes, da Escola Nacional Florestan Fernandes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST); Juliana Godoy, do DCE Livre “Alexandre Vannucchi Leme”, da USP; Giovana de Souza, da Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico (Fenet); Magno de Carvalho, do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp); David Lobão, do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe); Toninho Alves, da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas no Brasil (Fasubra); Paulo Barela, da CSP-Conlutas; Wagner Romão, presidente da Adunicamp e coordenador do Fórum das Seis; Rodrigo Medina, da Regional São Paulo do Andes; e Eblin Farage, secretária-geral do Andes.
A sessão, que se estendeu por cerca de três horas, foi aberta com uma apresentação de leitura e declamação de poemas pelo grupo de slam Letra Preta, de Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. Ao final, ocorreu o lançamento de diversas publicações do Andes, como livros que reúnem documentos dos congressos e reuniões da entidade – já integrando a comemoração dos 40 anos do sindicato, a serem completados em 2021 –, cartilhas dos grupos de trabalho e edições da revista Universidade e Sociedade.
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