Carreira docente
Plano de saúde Bradesco encareceu 74% desde 2022. Diretor da FUSP comemora “negociações que saíram de 42,5% para finalizar em 19%” em 2024
O plano de saúde Bradesco-Qualicorp tem aplicado reajustes anuais de preço muito acima da inflação do período. Nos últimos três anos o reajuste acumulado já é da ordem de quase 74%: 14,90% em 2022, 27% em 2023, 19% em 2024, totalizando 73,6% de aumento — índice muito superior ao da inflação acumulada nesse período.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumulou 21,69% no período de maio de 2021 a maio de 2024. Nesse mesmo período, o IPC-Fipe variou 20,72%.
Os elevados índices aplicados nos valores pagos ao plano, que vêm causando indignação entre docentes segurados(as), parecem ter respaldo nos termos draconianos dos contratos assinados com a Seguradora Bradesco, que, por levarem em conta critérios como equilíbrio entre despesas e receitas e variação de preços específica dos insumos do setor, indicariam a princípio um reajuste de 42,5% em 2024.
Contudo, o professor Marcílio Alves (Escola Politécnica), diretor executivo da antiga operadora do plano, a Fundação de Apoio à USP (FUSP), teria intercedido para que Bradesco e Qualicorp reduzissem o valor a ser cobrado. Em março último, Marcílio criou uma lista de e-mails com cerca de 1.500 participantes, denominada segurosaudeusp, anunciando como finalidades discutir “nossos problemas com o Seguro Saúde Bradesco e Qualicorp; […] esclarecer dúvidas, dar algumas orientações e promover debates e reuniões tanto entre nós como com a Bradesco e Qualicorp; em particular, promoveremos reuniões com a Bradesco e Qualicorp, discutindo o próximo aumento do Seguro”.
Em 2019, depois que a operação do plano de saúde foi transferida para Bradesco e Qualicorp, em razão de norma definida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o então diretor executivo da FUSP, Antonio Figueira, declarou à Diretoria da Adusp que, embora deixasse de ter participação formal no plano, a fundação privada “será mantida como um elo de comunicação permanente entre o segurado e as empresas Qualicorp e Bradesco”.
Em 2023, quando o Bradesco anunciou um reajuste de 27%, a Diretoria da Adusp solicitou a Marcílio uma reunião para tratar do assunto, mas o diretor executivo sequer respondeu ao pedido.
“Conforme tínhamos combinado, temos agora o reajuste de nossa apólice Bradesco-Qualicorp 5252 no valor final de 19%, a ser aplicado a partir de 1/7/2024”, comunicou Marcílio no último dia 6 de junho, em e-mail enviado aos e às docentes da sua lista, no qual ele explica a mecânica de formação de preço do plano de saúde.
“De maio/23 a abril/24 foram arrecadados em nossa apólice R$ 67.329.175 em prêmios pagos e gastos R$ 59.098.455 em despesas médicas-hospitalares. As despesas responderam por quase 90% das receitas. O contrato prevê um limite técnico de 70%”, alega o diretor executivo da FUSP na mensagem. “Neste caso o índice necessário para recompor este equilíbrio é de 25,40%. Além disso, o contrato prevê uma recomposição por VCMH – Variação dos Custos Médicos Hospitalares que a Bradesco apurou e divulgou em 13,66%. Segundo a mesma regra contratual, o índice final seria de 42,53%”, afirma o diretor executivo da FUSP.
“Nossas negociações saíram de um índice de 42,53% para finalizar em 19,00%, abaixo do desequilíbrio técnico e do índice oficial da Bradesco para seus contratos empresariais de até 29 vidas, que foi de 20,96%”, acrescenta o diretor executivo da FUSP.
O Informativo Adusp Online encaminhou a Marcílio uma série de perguntas relacionadas à lista de e-mails por ele criada, ao seu envolvimento pessoal na questão e às condições contratuais do plano de saúde. Até o fechamento desta matéria e subsequente publicação não recebemos respostas. Caso cheguem, este texto será atualizado.
Reitoria estaria estimulando migração para o plano Unimed-FESP?
A Reitoria da USP, ciente dos ruídos provocados pelos elevados reajustes do plano Bradesco-Qualicorp, estaria estimulando a migração de docentes para o plano Unimed-FESP, um dos que foram habilitados pelo programa de auxílio-saúde instituído pela Superintendência de Saúde (consulte aqui o respectivo “Termo de Acordo de Parceria 01/2023”).
No dia 14 de junho, o corpo docente da universidade recebeu pelo correio eletrônico oficial mensagem intitulada “Campanha Unimed FESP 2024 para novas adesões (sem carência)”, que oferece link de acesso à proposta de adesão a esse plano. Embora inclua informações importantes, a mensagem tem indiscutível teor publicitário (“Aqui tem gente. Aqui tem vida. Aqui tem Unimed Fesp”, e “Não perca essa chance!”). No entanto, a logomarca da USP é utilizada no material, acima da logomarca da Unimed.
A alternativa representada pela Unimed-FESP, frente aos exagerados reajustes impostos pelo plano Bradesco-Qualicorp, provocou debate na lista mantida pelo diretor executivo da FUSP. Alguns docentes ponderaram que, apesar do aumento nos valores cobrados, não pretendem deixar o plano da Bradesco, que a seu ver conta com bons hospitais e garantia de exames. Quanto ao plano da Unimed, uma docente manifestou que não há garantia de que não haverá aumentos no futuro. Outra, porém, admitiu que, apesar da insegurança gerada por uma mudança de plano, ela não conseguirá arcar com o alto valor atual cobrado pela Bradesco. Além disso, se disse surpresa com o fato de não se poder fazer essa mudança a qualquer tempo.
Um docente afirmou não se queixar da seguradora Bradesco, mas sim da cobrança de valores muito altos, indistintamente, sem considerar diferentes custos conforme a complexidade dos serviços utilizados. Ele se disse contrário à Qualicorp, por considerar que é uma intermediação onerosa. Propôs ainda uma investigação parlamentar dos negócios de seguro saúde no país. Aludiu aos ataques cometidos, dentro da própria USP, contra o Hospital Universitário (HU), que no seu entender sempre foi excelente, mencionando que ele e a esposa submeteram-se a diversas cirurgias no HU, todas exitosas. Propôs a imposição de critérios às seguradoras, que, disse ele, querem apenas lucrar e não estão interessadas na saúde das pessoas seguradas.
As análises otimistas de Marcílio Alves quanto ao índice de 19% e a alegada negociação com Bradesco e Qualicorp também dividiram as opiniões da lista. Houve quem elogiasse a suposta conquista. Um docente, porém, apesar de reconhecer o esforço de negociação, observou que 19%, diante da inflação relativamente baixa do período (4,16%) e de um reajuste salarial de 5%, é um abuso, não havendo motivo para comemoração.c
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