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Trilhas do parque permanecem inacessíveis há quase dez meses

Praticamente dez meses depois do seu fechamento, o Parque Esporte para Todos, situado entre o Instituto de Física e o Centro Tecnológico da Marinha. na Cidade Universitária, permanece com seus acessos bloqueados e ainda sem previsão de reabertura.

Bastante utilizado pelos(as) uspianos(as) e pela comunidade externa para passeios e treinos, o parque foi fechado em agosto do ano passado por decisão conjunta do Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp), responsável por sua administração, da Prefeitura do Câmpus Capital-Butantã (PUSP-C) e da Superintendência de Prevenção e Proteção Universitária.

À época, o diretor do Cepeusp, professor José Carlos Simon Farah, disse à reportagem que o espaço seria objeto de um “projeto de reformas para o melhor funcionamento e segurança dos usuários”.

Já a prefeita do câmpus, professora Raquel Rolnik, afirmou que “as condições do parque estavam muito precárias”, citando itens como banheiros, guarita, iluminação, trilhas etc.

“Chegamos à conclusão de que é necessário um projeto novo pensando na qualidade do lugar. Esse projeto está sendo elaborado pela Prefeitura e só depois de implantado o parque será reaberto.” Não havia estimativa de data para a reabertura, ressaltou na época a prefeita ao Informativo Adusp Online.

O fechamento do espaço vem suscitando manifestações da comunidade. Um dos usuários que questionaram a USP é o geógrafo e analista ambiental Denis Helena Rivas, pós-graduando na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que desde o ano passado se dirige à PUSP-C para pedir informações sobre os planos para a reabertura do parque, também conhecido como “Bosque da Física”.

Em setembro, poucas semanas depois da publicação de nota do Informativo Adusp Online sobre o fechamento, Rivas enviou à Prefeitura do Câmpus uma mensagem na qual dizia que o parque é a “única área de lazer e prática de esportes em meio à natureza num raio de dezenas de quilômetros”.

“A corrida ou mesmo caminhada pela trilha de 1 km daquele parque é uma experiência multissensorial incomparável a qualquer outro trajeto ou percurso existente na Cidade Universitária. Não se retira um espaço público como esse da população, da noite para o dia, sem qualquer necessidade”, escreveu.

Vice-prefeito diz que “parque não é um equipamento público”

A resposta enviada a Rivas pelo gabinete da prefeita justificou o fechamento alegando a “precariedade dos banheiros e de todas as áreas do parque, incluindo os passeios e a iluminação, que precisam ser revistos”, o que teria levado à interdição do parque “por não apresentar condições adequadas de uso”.

A resposta informava ainda que a PUSP-C realizaria “uma reforma, embora ainda não tenhamos uma previsão para o início das obras, pois estamos enfrentando dificuldades de contratação devido à nova lei de licitações”. “A reforma está em nossa programação”, finalizou a prefeitura.

Um “adendo”, incluído provavelmente por descuido na mensagem enviada ao analista ambiental, foi um comentário feito pelo professor Wagner Costa Ribeiro, docente da FFLCH e vice-prefeito do câmpus, remetido por e-mail aos demais destinatários do staff da PUSP-C, e que chegou também a Rivas. “O  engano do colega é comum a muita gente: o parque não é um equipamento público. Pelo menos por enquanto. Pode vir a ser, no futuro, se passar por adequações. Mas isso não é uma resposta a ele, evidentemente”, escreveu Ribeiro.

Ao Informativo Adusp Online, Rivas se disse “indignado” com o fato de o vice-prefeito questionar “o status de equipamento público do parque”.

Em nova mensagem endereçada à PUSP-C ainda em setembro do ano passado, Rivas citou seu trabalho na coordenação, por sete anos, do uso público do Parque Nacional da Tijuca (RJ). A partir dessa experiência, argumentou que “as instalações de banheiro, e mesmo os equipamentos de lazer, ainda que mereçam alguma manutenção, permitiam a visitação daqueles que gostam de estar em contato com a natureza, afinal trata-se de um parque e não de um shopping”.

“E certamente existem alternativas muito mais inclusivas e inteligentes à necessidade de manutenção do que o simples fechamento do acesso do parque à população”, prosseguiu.

Conselho Gestor vai debater execução dos projetos do Plano Diretor

Em abril último, passados vários meses sem novas respostas da PUSP-C, sem sinal de reabertura ou divulgação de qualquer informação sobre a situação do parque, Rivas voltou a enviar mensagem à prefeitura.

“Apenas quem não utilizava aquele espaço, que servia diariamente de lazer para milhares de visitantes, com seus 1.000 metros de trilha em meio à vegetação, considera que o parque não é um equipamento público. Como frequentador assíduo, onde praticava corridas no único local com essas características num raio de 10 quilômetros, posso afirmar que é simplesmente um absurdo e um descaso o fechamento daquele parque durante mais de 8 meses. Para qualquer equipamento público que necessite de manutenção, seu fechamento deveria ser a última das opções. Nunca a primeira opção”, escreveu.

“A ausência de resposta ao meu questionamento pela existência de um projeto para o Parque Esporte para Todos, enviado em setembro de 2024, e a permanência do parque fechado à visitação apenas reforçam o descaso com que a administração do Câmpus trata daquele parque. Descaso exemplificado pela incapacidade de planejar uma manutenção que se compatibilize com o uso público, reforçado pela permanência de seu fechamento durante todos esses meses, sem nem sinal de reabertura”, continuou.

A resposta enviada pelo gabinete da prefeita a essa nova manifestação foi bastante protocolar: “Informamos que o Plano Diretor do Campus Capital Butantã foi aprovado no último mês de março e que o Parque para Todos está incluído no montante de projetos. No próximo dia 5 de junho, o Conselho Gestor do Campus realizará uma reunião para definir a sequência e os próximos passos relacionados à execução de todos os projetos previstos”.

A mensagem da PUSP-C, portanto, novamente não deu nenhuma sinalização a respeito da reabertura do parque e nem de quais são os projetos específicos para o espaço.

“Para completar, recentemente obtive informações dando conta da intenção de asfaltamento das vias internas do bosque, o que contraria qualquer lógica de um parque que preserva as características naturais, e contribuiria com a impermeabilização da cidade de São Paulo”, disse Rivas em mensagem enviada ao Informativo Adusp Online.

Em nota, Prefeitura prevê reforma no segundo semestre de 2026

A reportagem enviou à PUSP-C diversos questionamentos sobre a situação do parque, incluindo os rumores sobre eventual asfaltamento de trilhas. O Informativo Adusp Online perguntou quais são as intervenções previstas pelo Plano Diretor da Cidade Universitária no parque; qual é o cronograma para a sua reabertura; quais são as “adequações” necessárias para que o parque possa ser considerado um equipamento público; e se não teria sido possível realizar intervenções e melhorias com o espaço em funcionamento.

Nesta segunda-feira (19 de maio), a Prefeitura do Câmpus enviou ao Informativo Adusp Online nota assinada pela prefeita Raquel Rolnik e pelo vice-prefeito Wagner Ribeiro. A íntegra da nota é a seguinte:

“Em relação à matéria publicada no dia 16 de maio passado, informamos:

  • Nos termos em que se encontra, a área não tem condições de uso como um parque público pois não oferece segurança aos usuários;
  • O Plano Diretor previu a retirada das grades e a reforma da área para usufruto da comunidade;
  • A capacidade operacional disposta hoje na PUSP-CB, permite apontar o seguinte cronograma: (1) levantamento topográfico ao longo do segundo semestre de 2025; (2) definição de projeto básico e executivo no primeiro semestre de 2026; (3) reforma no segundo semestre de 2026;
  • Em momento algum foi aventada a pavimentação da trilha e essa possibilidade está completamente descartada;
  • Infelizmente não é possível realizar intervenções e melhorias com a área em funcionamento pois essa não oferece condições mínimas de conforto e segurança aos usuários.”

EXPRESSO ADUSP


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