Sofia Pádua Manzano, professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), vem sofrendo ataques nas redes sociais desde que o senador direitista Marcos do Val (Podemos-ES) deu início a uma campanha de calúnias contra ela, ao postar nas redes sociais Instagram e Twitter um vídeo, gravado no dia 9 de janeiro em Brasília, no qual aparecia uma mulher que orientou participantes do acampamento bolsonarista a se desmobilizarem e entrarem em ônibus que se dirigiriam a uma “área federal”. Na postagem, Marcos do Val associou a figura feminina do vídeo à de Sofia (candidata do PCB à Presidência da República em 2022), que, segundo a narrativa divulgada por ele, seria uma “assessora de Lula” infiltrada no movimento.

“Ele faz um apelo, nas redes sociais, para que as pessoas identifiquem essa mulher. E associa essa mulher com nazistas, que levavam as pessoas para os campos de concentração etc. A partir daí, as hordas nazistas começaram a me identificar como aquela mulher, me associando àquela mulher. Especificamente hoje, algumas pessoas estão querendo que eu seja capturada viva ou morta, está extrapolando quaisquer limites de bom senso”, relatou Sofia em declarações prestadas ao Diário do Centro do Mundo (DCM), em 18/5.

No entanto, segundo esclareceu o jornal Estadão em reportagem publicada no dia 20/5, quem aparece no vídeo é a pastora Thereza Helena Oliveira Souza Sena, oriunda de Minas Gerais e que fazia parte de um grupo de 1.200 manifestantes detidos “no contexto da dissolução do acampamento, ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, após os atos antidemocráticos que depredaram os prédios dos Três Poderes no dia anterior”.

O senador do Podemos apresenta-se, em seu perfil no Twitter, como “membro de honra e instrutor sênior da SWAT, fundador do CATI treinamento policial ltda”, além de “palestrante” e “doutor honoris causa”. No dia 9/5, em debate no Senado, Marcos do Val foi alvo de ironia do ministro Flávio Dino (Justiça): “Se o senhor é da SWAT, eu sou dos Vingadores”, disse-lhe o ex-governador do Maranhão. Na semana passada, o senador ameaçou divulgar “imagens bombásticas e documentos suficientes para a queda do ministro Flávio Dino e do presidente Lula”, o que não se consumou até agora.

No entender de Sofia, Marcos do Val agiu de má fé e vai responder criminalmente por isso. “Porque ele não pode, como senador da República, chamar um linchamento público, não da minha pessoa, mas de qualquer pessoa. Ele não pode conclamar a população a um linchamento, e foi isso que ele fez. Eu fui a identificada, mas poderia ter sido qualquer outra mulher”, avalia a professora da UESB, que no dia em que o vídeo foi gravado estava em sua casa, no interior da Bahia.

“Não é Sofia Manzano, professora e ex-candidata à Presidência da República pelo PCB, a mulher que aparece em vídeo que circula nas redes orientando manifestantes golpistas a entrarem em ônibus disponibilizados pela polícia e abandonarem um acampamento em Brasília no dia 9 de janeiro”, publicou, já no dia 17/5, a agência de checagem Aos Fatos. “Diferenças na fisionomia e na voz das duas mulheres atestam que não se trata de Manzano”, diz a matéria. “Publicações com a falsa atribuição têm circulado principalmente no TikTok e no Kwai, redes em que acumulam milhares de visualizações. A peça de desinformação também circula no WhatsApp, plataforma em que não é possível estimar o alcance”.

Os ataques a Sofia tiveram como contrapartida uma forte mobilização de solidariedade e de apoio à professora caluniada. Diversas entidades representativas de docentes universitários, entre elas Andes-Sindicato Nacional, Adusp, Adunicamp, Adunesp, Apropuc; os grupos de pesquisa Mundo do Trabalho e Teoria Social da Universidade de Brasília (UnB) e Niep-Marx (UFF); a International Gramsci Society – Brasil; os blogs marxismo21 e Contrapoder e a revista Margem Esquerda; e movimentos sociais como o MST e o MTST manifestaram-se na forma de abaixo-assinado ou de declarações públicas nas redes sociais, repudiando a “sórdida e infamante campanha de difamação e calúnia por parte da extrema-direita brasileira”, a qual “deve ser amplamente denunciada, pois, inclusive, está suscitando ameaças à integridade física da professora”.

Além das acusações, Sofia vem recebendo ameaças, destaca a nota emitida pelo Andes-SN. “Mais uma vez fica evidente o uso de fake news pela extrema-direita brasileira, prática que distorce a realidade a fim de atender objetivos políticos e caracteriza um método de atuação fascista. O Andes-SN desde o início do ex-governo de Bolsonaro tem denunciado e lutado contra o avanço das políticas de ódio, da política de fake news que sustenta o fascismo e por isso esteve nas ruas e nas urnas para derrotar Bolsonaro e seus apoiadores(as). Manifestamos total repúdio a essas acusações infundadas e à incitação à violência e nos solidarizamos com a professora Sofia Manzano. Fascistas não passarão! Basta de fake news!”.

EXPRESSO ADUSP


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