Conjuntura Política
Manifestos e abaixo-assinados da comunidade acadêmica e científica apoiam Lula e Haddad, e imprensa internacional aponta riscos ao planeta se Bolsonaro vencer
Vários setores ligados ao mundo da educação e da ciência têm publicado abaixo-assinados coletando apoio às candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República e de Fernando Haddad ao governo estadual de São Paulo.
Uma dessas manifestações é de iniciativa de docentes das universidades públicas. Em sua Carta ao Povo Brasileiro, a(o)s docentes afirmam ser preocupantes “as constantes ameaças à democracia que, no campo educacional, se revelam nas políticas de desmonte da educação pública e na diminuição drástica dos investimentos em ciência promovidas pelo governo Bolsonaro”.
A carta defende “o respeito à ciência, à pesquisa e à educação pública e gratuita universal” e “a democracia e o direito à livre manifestação de ideias”.
O documento também ressalta, entre outros pontos, a defesa da “educação voltada ao desenvolvimento crítico e reflexivo de cada cidadã e cidadão” e de “uma pedagogia voltada à formação do caráter sensível para os problemas sociais”, além da necessidade da “preservação da Amazônia, ações sustentáveis em relação ao meio ambiente e proteção irrestrita dos territórios dos povos originários e quilombolas” e da “separação irrestrita entre Estado e religião”.
A carta repudia “posicionamentos autoritários que remetam a intervenções no STF ou afirmações autoritárias de apologia à ditadura, à tortura e ao assassinato de adversários políticos”, “manipulações de opinião pública por meio de fake news”, “propostas de legalização do garimpo e da grilagem de terras amazônicas, indígenas e quilombolas” e “o tratamento que foi dado à pandemia pelo atual governo, que resultou em mais de 600 mil mortos”.
O abaixo-assinado ressalta o apoio à candidatura de Lula para a Presidência da República, “não só por seu comprometimento com a democracia, mas também pelo seu compromisso com as causas sociais”, e das candidaturas afinadas com a do petista nos estados.
“Destacamos também que, qualquer que seja o resultado dessas eleições de 2022, nos manteremos críticos, participando ativamente da vida pública e estimulando que os nossos estudantes e que toda a sociedade a exerçam seu direito à liberdade e de participação social e política”, finaliza o texto.
Em documento intitulado O agro está com Lula e Haddad, estudantes, pesquisadora(e)s, docentes, servidora(e)s e egressa(o)s da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba declaram o seu apoio às duas candidaturas.
O texto lembra que, durante o governo Lula, foram realizados fortes investimentos no setor agro: “Batemos recordes de produção e saímos do mapa da fome. (…) O governo Lula expandiu as linhas de crédito agrícola e criou várias políticas públicas para a produção sustentável, o que permitiu atingir uma sequência de recordes na exportação agropecuária na primeira década dos anos 2000”, afirma o documento.
A carta também ressalta o compromisso de Lula com a agricultura familiar, “que representa 77% dos estabelecimentos agropecuários do campo”, e os investimentos no Programa de Aquisição de Alimentos.
“Consideramos que a missão do agro é antes de tudo alimentar o nosso povo, além de contribuir para o aumento e distribuição equilibrada da riqueza do país. Enquanto os governos de Lula e Dilma tiraram o Brasil do Mapa da Fome, Bolsonaro aprofundou sua volta à geografia dos famélicos, com a calamidade de 33 milhões de brasileiras e brasileiros passando fome e 125 milhões em situação de insegurança alimentar”, afirma o abaixo-assinado.
O documento aponta também os impactos socioambientais da mudança climática global: “Neste caso, é preciso cuidar da Amazônia, que garante nossa chuva. Sem chuva não existe agro e sem floresta não existe chuva. O agro depende do equilíbrio dos ecossistemas – um agroecossistema saudável representa um aumento da produtividade no campo. O agro não precisa de floresta no chão. Tecnificando a agricultura, recuperando e utilizando as terras improdutivas, não precisamos desmatar mais um hectare sequer, e produzir muito mais comida”.
Na avaliação da(o)s signatária(o)s, “o governo Bolsonaro representou um aumento desesperador do desmatamento em todos os biomas brasileiros, causando perdas reais e futuras para o agro”. Comparando os dois governos, prossegue o texto, “o desmatamento da Amazônia cresceu 56,6% na era Bolsonaro; nos governos de Lula, o desmatamento da Amazônia diminuiu em mais de 80%”.
Em relação à disputa estadual, o abaixo-assinado diz que o plano de governo de Haddad “propõe medidas emergenciais de combate à fome, com programas sociais como o SP sem fome, Bom Prato e Bom Prato Estudantil”.
Haddad também vai investir no fortalecimento das instituições de pesquisa e extensão agrícola no estado de São Paulo e das universidades públicas estaduais. “Trata-se de instituições públicas paulistas que devem ser valorizadas pelo seu protagonismo na pesquisa agronômica de nível nacional e internacional”, ressalta o abaixo-assinado.
Em contraposição, diz o documento, o candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro, “possui um projeto privatizante que não valoriza a pesquisa pública paulista (com preferência de terceirizá-la ao setor privado) e não demonstra urgência no combate e erradicação da fome”.
“As candidaturas de Lula e Haddad em 2022 apresentam compromissos com a floresta em pé; com o desenvolvimento sustentável; com investimentos em ciência, tecnologia e educação pública de qualidade; com a transição ecológica e um agro saudável e sustentável, que alimente o povo e garanta o futuro das novas gerações. E é por estas razões que nós, estudantes, pesquisadoras e pesquisadores, docentes, servidoras e servidores e egressos da principal escola de ciências agrárias do Brasil, estamos com Lula e com Haddad neste segundo turno das eleições gerais do Brasil”, finaliza o documento.
O Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito (FD), divulgou o manifesto USP & SP SEM TARCÍSIO: Por uma Universidade crítica, independente e diversa.
O documento afirma que a chegada de Tarcísio de Freitas ao segundo turno da eleição para o governo de São Paulo abre “a possibilidade de vitória eleitoral, no estado mais rico do país, de um projeto político autoritário, anticiência e economicamente excludente”.
“Em São Paulo, sob a guarda estadual, encontram-se três das principais universidades da América Latina, dentre elas a Universidade de São Paulo. Em que pese a conquista jurídica da autonomia universitária, que permite às instituições de ensino superior paulistas uma estrutura orçamentária e política independente dos planos de qualquer governo, a aliança do atual presidente com Tarcísio de Freitas, pautada pela lógica do negacionismo e dos ataques às universidades, coloca em risco a qualidade do ensino, pesquisa e extensão, tal como as recentes conquistas relacionadas à popularização da USP”, diz o manifesto.
O texto também chama a atenção para “a possibilidade de cobrança de mensalidades na USP e a privatização de outras instituições de ensino”, propostas defendidas pela base eleitoral de Tarcísio e de Bolsonaro, o que “coloca em risco imediato o desenvolvimento científico, tecnológico e educacional do estado e do Brasil, além de abrir espaço para a exclusão de milhares de jovens negros e pobres que agora acessam as universidades estaduais paulistas”.
A alternativa para defender a USP e São Paulo, afirma o manifesto, “é a derrota de Tarcísio por meio da eleição do ex-ministro da Educação, ex-aluno e professor da USP, Fernando Haddad”.
“Acreditamos que há uma voz a ser ouvida e ampliada nesta eleição: a voz da ciência, da diversidade, da educação, da inclusão e das liberdades democráticas. Para que essa voz não seja censurada, Tarcísio de Freitas e o atual presidente precisam ser derrotados. Para que no universo da cultura o centro continue presente em todas as partes, afirmamos: com a força da ciência, defenderemos uma universidade crítica, independente e diversa”, conclui o manifesto.
O jornal norte-americano The New York Times publicou um vídeo de opinião nesta quinta-feira (27/10) no qual afirma que a eleição presidencial do Brasil do próximo domingo vai definir “o futuro do planeta”.
O vídeo traz a participação da jovem liderança indígena Txai Suruí, que discursou na COP 26 em Glasgow, na Escócia, no final de 2021, e foi atacada por Jair Bolsonaro.
“Um candidato quer salvar a Amazônia e o outro quer queimá-la. A maior floresta tropical do mundo é a minha casa, mas o resultado dessas eleições ameaça não apenas tudo isso [a Amazônia], mas tudo isso [a Terra]”, diz Txai Suruí no vídeo.
Depois de ressaltar que muita(o)s brasileira(o)s estão fazendo de tudo para salvar a floresta, fundamental para a sobrevivência do planeta, o jornal afirma que “todos nós precisamos desesperadamente de um novo presidente brasileiro que não a destrua”.
Outros veículos da imprensa internacional também já manifestaram apoio à candidatura de Lula. A revista Nature publicou nesta terça-feira (25/10) um editorial intitulado “Só há uma escolha na eleição do Brasil – para o país e para o mundo”.
A publicação científica afirma que o governo Bolsonaro “foi desastroso para a ciência, o meio ambiente, o povo do Brasil – e para o mundo”, e que num eventual segundo mandato “os danos podem ser irremediáveis”.
A revista inglesa The Economist também aponta que “um segundo governo para o populista Jair Bolsonaro seria ruim para o Brasil e para o mundo”.
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